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Quando
o jornalista se mascara de ficcionista, fantasista ou poeta, podemos afirmar
que se está a preparar para escrever uma crónica.
A crónica encerra uma tensão provocada por funções
e parâmetros, senão opostos, pelo menos contraditórios:
entre o banal e a fantasia, entre a literatura e a reportagem, a entrevista
ou a notícia, entre o real e o irreal, entre o indutivo e o dedutivo.
A crónica é um texto vagabundo, que anda à deriva
e que escorrega para o conto ou desliza para a poesia e passeia entre
a metonímia e a metáfora. Procura transcender e transgredir
o quotidiano. Ao contrário da notícia ou da reportagem,
que morrem diariamente, a crónica perpetua-se no tempo e até
pode saltar das folhas do jornal para as páginas de um livro.
Como texto curto que é ocupa pouco espaço, mas ocupa um
espaço fixo, sabendo o leitor qual o lugar do encontro.
A crónica protagoniza o seu autor, sendo a sua imagem de marca,
a subjectividade. Na crónica, o autor mantém um diálogo
directo ou indirecto, real ou virtual, com o leitor, mesmo que a sua expressão
seja frequentemente monológica, dando curso à divagação
e à reflexão pessoal.
A crónica fabrica-se como se faz um puzzle, onde peças
desgarradas se interligam através de um estilo e de uma filosofia
de vida ou mundividência.
Luís
Aguilar |
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