Se
tivesse a sorte de encontrar o docente do Instituto
Camões, Luís
Aguilar ou algum dos
inúmeros estudantes actuais que quiseram marcar presença,
poderiam obter a informação desejada sobre o
Programa de Mineur
en langue portugaise et cultures lusophones e
os Estudos Lusófonos, em geral. De outro modo passariam
ao lado do cartaz com a referência a Études Lusophones,
a par dos Études Italiennes, Néo-hélèniques,
Arabes, etc. Por isso o docente, a assistente e os estudantes
não tiveram mãos a medir no sentido de explicar
que Lusophone diz respeito a Portugal, à Língua
Portuguesa e aos países de língua oficial portuguesa.
Mas esta reduzida visibilidade conferida à Língua
Portuguesa e às Culturas Lusófonas (a que certamente
corresponderá a reduzida importância que têm
no
pelo Salon des Études foi compensada, contraditoriamente,
pelo conjunto de personalidades e representantes dos media
que aí, marcaram presença prolongada e notada,
atraindo, numeroso público.
Numa
altura em que se impõe, um salto qualitativo na evolução
e difusão da Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas
da Universidade de Montreal, o Salon des Études
foi palco de diversos encontros e diálogos que testemunham
o empenho dos mais variados círculos e centros de decisão
no desenvolvimentos progressivo futuro da Língua Portuguesa
e Culturas Lusófonas.
Em primeiro lugar regista-se a presença do dr. Carlos
Oliveira, cônsul-geral
de Portugal em Montreal que não quis deixar
de estar presente e, aí mesmo, conversar com o Professor
Doutor Robert Lacroix, reitor da Universidade
de Montreal e, certamente, manifestar-lhe a necessidade
de maior desenvolvimento e visibilidade para os Estudos Portuguesas
na sua universidade. Não foi sem um sorriso que o "magnífico"
reitor nos recordou a forma como há algum tempo atrás
nos respondeu à pergunta: Nem um “Mineur”
Merece uma Língua “Majeur”?
Ontem, como hoje, recordamos à autoridade máxima
da universidade de Montreal que apenas se exige que a Língua
Portuguesa e as Culturas Lusófonas tenham o lugar que
lhes é devido no espaço académico que
ele tão brilhantemente dirige.
Mais
tarde, o decano da Faculdade
de Artes e Ciências,
professor doutor Joseph
Hubert e a dra. Angela
Steinmetz, responsável máxima da Direcção
do Ensino das Línguas
seriam entrevistados para uma cadeia de televisão
comunitária, o Montreal Magazine da TVPM-Sic. No tempo
em que era vice-decano, o professor doutor Joseph Hubert,
lembra-se dos esforços que fez a então decana,
professora doutora Mireille Mathieu, para a criação,
após cerca de vinte anos de impasses inacreditáveis,
o Mineur en langue portugaise et culures lusophones,
uma verdadeira lança em África (leia-se, no
Quebeque), já que este é, ainda hoje, o único
programa de conteúdo académico existente em
toda a província francófona da América
do Norte. O professor doutor Joseph Hubert não deixou
de mostrar o seu contentamento pela triplicação
do número de estudantes de Língua Portuguesa
e Culturas Lusófonas de há cerca de quatro anos
anos para cá, com a criação do referido
programa.
-
Calha mesmo bem voltarmos a repensar os Estudos Portuguesas
na nossa Faculdade, quer a nível do avanço dos
Estudos Portugueses, quer a nível da criação
de uma cátedra, dois processos paralelos, mas cujas
inter-relações serão incontornáveis
no futuro, disse o dr. Joseph Hubert em 2004. Em 2005,
no mesmo local, o decano dá prioridade à criação
da cátedra de Cultura Portuguesa com uma vertente acentuada
nas artes visuais portuguesas, cujo principal titular é
o professor doutor Luís de Moura Sobral que considera,
igualmente, que o facto de se criar uma cátedra poderá
conferir aos Estudos Portugueses um maior dinamismo.
Por
seu turno, o dr. Luís Aguilar insistiu na urgência
de pensar o futuro dos Estudos Portugueses na Universidade
de Montreal que passa pela necessidade da Avaliação
do Programa de Mineur en langue portugaise et cultures
lusophones, que vai já no seu quinto ano de funcionamento
e já produziu a primeira leva de diplomados, o desenvolvimento
futuro e coordenação da Secção
de Estudos Portugueses e, sobretudo, a assinatura de um protocolo
que actualize o acordo de cooperação entre o
Instituto Camões e a Universidade de Montreal, processo
que está suspenso há três anos. O dr.
Carlos Oliveira, cônsul-geral de Portugal em Montreal,
referiu que vai proceder à marcação dos
vários encontros com as autoridades académicas
em apreço para definir as linhas orientadoras do protocolo
a actualizar, de forma a satisfazer as partes envolvidas e
a viabilizar e desenvolver as actividades da Secção
de Estudos Portugueses e Lusófonos.
Entrevistado
para a cadeia portuguesa comunitária de televisão,
TVPM-Montreal Magazine, Luís Aguilar, com o optimismo
que o caracteriza, referiu-se ao aumento gradual do número
de estudantes que frequentam actualmente cadeiras de Língua
Portuguesa e Culturas Lusófonas que já atingiu
os 150, número que tende a aumentar dado os cada vez
mais interessados na aprendizagem da Língua Portuguesa
e no conhecimento das Clturas Lusófonas.
Há que fazer uma avaliação do Programa
aprovado há quase cinco anos, para daí se apurar
a sua grandeza e miséria. E, sobretudo, corrigir as
inúmeras lacunas existentes na execução
e coordenação do programa. E ainda mais importante
do que tudo, definir uma linha estratégica de criação
de estudos mais avançados em Língua Portuguesa
e Culturas Lusófonas. Os primeiros diplomados já
saíram e quase todos eles só não prosseguem
estudos lusófonos mais avançados, porque não
os há em todo o Quebeque, o que, diga-se, é
uma vergonha. Isto frustra as expectativas dos estudantes
que obtiveram os estudos mínimos em Língua Portuguesa
e Culturas Lusófonas, para já não falar
nos inúmeros estudantes que, querendo seguir programas
de mestrado e doutoramento, se vêem relegados para os
Estudos Hispânicos ou Alemães, mesmo que o seu
tema de dissertação de mestrado ou tese de doutoramento
verse sobre Pessoa, Camões ou Machado de Assis.
Mas
porque não têm, na Universidade de Montreal,
os Estudos Portugueses o mesmo Estatuto dos Estudos Hispânicos
ou Alemães? pergunta o dr. Carlos Oliveira à
dra. Angela Steinmetz, ao que a responsável da Direcção
do Ensino de Línguas, sobrevivendo ao espanto,
explica que o trabalho intenso e de há mais de vinte
anos permitiu esse estatuto aos Estudos Hispânicos e
Alemães, como sucede, de resto, em muitas outras universidades.
Os Estudos Portugueses despertaram agora e não
possuíam (nem possuem ainda) uma tradição
que se compare com aqueles. Estamos no começo e começámos
bem - responde a dra. Angela Steinmetz, que acrescenta:
- Há "timings" para que as coisas se
façam. Os Estudos Luso-Brasileiros só de há
cinco anos para cá tiveram um desenvolvimento significativo
e, neste momento, lutamos para manter um programa que antes
de ser avaliado é prematuro falar em novos desenvolvimentos.
Se conseguirmos segurar o que está, já é
muito bom, dadas as dificuldades que temos tido e os inúmeros
desencontros entre o Instituto Camões e a Universidade
de Montreal, ambos com mudanças assinaláveis
nas suas chefias. É de referir ainda que é
na Universidade de Montreal que os Estudos Portugueses estão
mais avançados no Quebeque e, com excepção
da Universidade de Toronto, em todo o Canadá.
Mas
esta resposta não convenceu o dr. Carlos Oliveira que
não estando ainda habituado à extrema burocratização
e consequente lentidão das instituições
académicas da província francófona do
Canadá se interroga porque razão há uma
manifesta diferença entre os Estudos Portugueses no
Quebeque e no resto das províncias do Canadá.
Este inconformismo é partilhado pela actual directora
do Departamento de Literaturas e Línguas Modernas,
dra. Monique
Moser-Verrey que estuda
a possibilidade de proporcionar aos estudantes de Língua
Portuguesa e Culturas Lusófonas estudos mais avançados
utilizando – e inventado – recursos que propiciem
a prossecução desse objectivo.
Luís
Aguilar esclarece quem o questiona sobre o avanço de
um programa de Majeur que para já, a solução
não passe por aí, dadas as severas restrições
orçamentais e limitações financeiras
actuais da Universidade de Montreal, mas nomeadamente, pela
criação de programas bi-disciplinares com outorgação
do grau de licenciado (Baccalauréat) ou mesmo,
a assinatura de protocolos com outras universidades portuguesas
ou brasileiras, como a Universidade Aberta, por exemplo que
viabilizassem uma formação de licenciados que
completaria o conhecimentos de base proporcionado pelo Mineur
en langue portugaise et cultures lusophones, com um programa
adicional que poderia incluir uma formação presencial
em Portugal e outra a distância.