E Biba a Portuguesa Língua
que Hoje Hão Caracóis e Muita Múxica Pimba

ou Bemvindos
à Arte de Mal Escrever Português

 

Por
Vitália Rodrigues

Escrita, falada, impressa, televisionada, a portuguesa língua, lá onde for, vai de chinela no pé, cabisbaixa, rafeira, a grunhir, a ladrar e a barrir. Vocábulos em todas as variadas variantes da Arte de Mal dizer e de mal escreve. Nenhum indígena se atreveria a falar e escrever em Inglês ou em Francês como acontece, alegremente, com o Português. Vêem-se nos anúncios publicitários, aplicações e estimações e oferta-se toda a espécie de chanças, lêem-se artigos onde se pensa de que e reúnem a aderência de todos, ouvem-se várias conferenças de empresa, e sobretudo na Rede encontram-se aberrações em portinhol, emigrês, portugrancês, portinglês e outros tantos dialectos que, muitas vezes, os nossos irmãos brasileiros que tanto ou mais caceteiros são que os emigrantes da emigrolândia chamam variantes da língua e inventaram essa delícia que é o Brasileiro.

Nas rádios locais, nas televisões comunitárias, nos jornais do burgo e no espaço cibernético, a língua portuguesa deve ser a que pior se fala com a aquiescência de portugueses, em primeiro lugar, depois brasileiros, angolanos, etc.; todos, por aqui, contribuem para a emergência de um dialecto a que alguém chamou emigrês.

Embora de há muito nas comunidades portuguesas de cá e de além-mar, subsistam o mau gosto e a arrogância de praticar a arte de mal falar português com a complacência ou a impotência de todos os que não o deveriam permitir, leitorados, consulados, agentes sociais locais, jornalistas, professores, etc. , começa a haver, finalmente, um rol de gente da Lusofonia e da Lusografia a gritar bem alto que é preciso reunir esforços para pôr um ponto final nessa inusitada situação.

Insistimos, o problema não é de hoje. Há uma década que em Montreal ouvimos falar em conferenças de empresa, em protóculos, em réfens, em autárquias, e em tantas outras monstruosidades, sem que haja uma alma caridosa que corrija, que lembre a forma correcta, que, enfim se empenhe na defesa da nossa magna língua. Será que ninguém quer saber disso, será que se continua a invocar falarmos assim porque é preciso ver que sendo a nossa comunidade ignorante temos de falar de acordo com ela, como em tempos tivemos de ouvir de uma responsável por uma emissão de rádio local?

E sem mais comentários, nem qualquer tolerância com a exibição da Ignorância, aqui vai algo que insistentemente ouvimos ou lemos:

Estamos aqui com uma insufizência e não sabemos a quem recurer. Talvez se vocês querem chamar p'raqui e dizerem quem está a cantar nós podemos passar uma pausa musical muita linda que vocês vão gostar... Oh Zé tira o pé, tira o pé Proque cheiras a chulé tira o casaco oh Maria, tira o casaco porque cheiras a sovaco. A gente escutamos todos esta linda canção e a gente vamos ouvir nouvelles da nossa terra.
As eleições ótarquias são a preocupaçào do ezacutivo que hoje depois de se celebrar um protóculo em uma conferença de empresa onde apelou às pessoas indónias que não atingam a sua ora e bom nome.
Vamos escutar agora o meu burrino ah, ah, ah, o meu burrinho. Ah, ah isto é que é uma voz de burrinho, uma voz que parece que levou um martelo na cabeçca nhã, nhã, nhã.
-Allô, Boa tarde. Estou a falar com quem?
-É a semhora Sábados, para dizer o nome da canção. É trepa, trepa.
-Não! Falta aí qualquer coxinha.
-Trepa trepa com cuidado.
- Ah. Ya é assim mas você não tinha direito a ganhar porque você disse duas chances, Trepa, trepa com cuidado. Ela faz isso muitas vezes. Nhã, nhã, nhã, Não trepas demasiado
-E foi assim tivemos aqui uma ganhante que não deu chances aos outros. É uma graciosidade da casa WC a bela música que segue. Puxei o autoclismo o presente estremeceu deu dois passinhos de dança tiroou o chapéu e desapareceu.
Chegou aqu à nossa redacção uma última nouvella A procuroudoria deu o seu acórdão à espefinidade da decisão dá ordem aos advogados no seu setenta aniversário.
Isto é indinho- disse ! É preciso encarar as coisas numa prospectiva sistânica, sistémica digo bem.
O exército reconheceu que não havia condições para libertalizar os réfens na posse dos ilasmicos, melhor islâmicos que ameaçaram desgolalos.
A rainha Elizabeta dois chegou à India no cinquenta aniversário da independência.
Jacques chirac contactou o seu homológo Kohl sobre os investissementos e sobre o secresto dum cidadão.
Nelo Vingada dirigiu a equipa de Arábia Saudita à cérca de quinze dias contra o kuaita.
Este jornal vos foi apresentado e outro será apresentado por outra equipa.
- Gostaria de dedicar uma cançào à minha netinha Teresa
- E o que gostaria de ouvir a senhora Faleira
- Oh Tereza chupa aqui na framboeza
- Oh, oh, oh, a sua netinha ainda não tem idade pr'a isso.
- ah, oh, oh
Agente estamos aqui pra defendermos a coltura e a lingua portuguesa sete dias por semana ou seja seis dias porque num a gente descansamos o pessoal e lembrem-se que aqui com o auxílio duma máquina vamos tirar dois tiquetes que dão acêsso a um xantar espetáculo onde hão caracóis e muita boa múxica.

Estas delícias literárias foram recolhidas tal e qual da Emissão Portuguesa de Rádio. Incrível mas verdadeiro. E que dizer de uma página na Web que é um mimo:

Bem vindo as alianças feitas connosco.
Agradeço:
1º Aos meu pais pela minha existencia, depois devo muito a todos os meus amigos e colegas que ajudo-me a conseguir fazer este site web. Um agradeçimento especial a J.C. para todos os ajudos que ele me fez nas corecções do site web. E tambem o meu irmão que construi a primeira versão do site web da (...)
2º Agradeço principalmente a mim mesmo pelo meu esforço por ter essa idea para fazer este site web. Tenho uma unica certeza, que um dia eu vou ver este site web como uma referência para todos os Portugueses no mundo.

3º Em breve colocarei todos os meus colegas e amigos que me ajudou para fazer este site web. Accordo com o site web para difusar as suas noticias.

Esta página que acabamos de transcrever foi copiada tal e qual.
Quando o Presidente da República visitou oficialmente o Canadá e uma das bandeiras que aqui veio hastear, foi a da Língua Portuguesa, podia-se ler em letras garrafais nos jornais comunitários de Montreal: BEMVINDO, BENVINDO e BEM VINDO. A mostrar que o Presidente era Bem-vindo à Arte de Maltratar a Língua Portuguesa. Isto para só dar este exemplo. Porque muitos dos textos que se lêem na Imprensa Regional têm de ser traduzidos do emigrês para o Português.

Mas certamente ainda o pior de tudo é a forma como é anunciado o novo programa de Mineur em Língua do Brasil (?) e as actividades do CERB- Centro de Estudos do Brasil. Sem comentários apreciem como aí os nossos universitários se expressam na Língua de Machado de Assis, Pepetela, Mia Couto, Gabriel Mariano, Saramago, etc:

http://www.unites.uqam.ca/bresil/qui_br.html

http://www.unites.uqam.ca/bresil/projets_br.html

http://www.unites.uqam.ca/bresil/chercheurs_br.html

http://www.unites.uqam.ca/bresil/infos_br.html

http://www.unites.uqam.ca/bresil/contact_br.html

É curioso notar que o mesmo texto em versão francesa é impecável. Quem se atreveria a escrever na Língua de Molière da mesma forma que se faz em Português?

E se a língua portuguesa é a maior riqueza de que nos podemos orgulhar que tolerância podemos ter com a realidade que descrevemos e sermos coniventes com o que acabamos de transcrever. Como pode essa mesma língua florescer, falar, cantar e ouvir-se como o sugeriu António Ferreira, o autor de A Castro, que muito bem diz : Viva a portuguesa língua e lá onde for, vá senhora de si, soberba e altiva.