Vamos
descrever algumas atividades paradigmáticas do
método sugestopédico, atividades que se
caracterizam pela prevalência do autoconhecimento
sobre os conteúdos gramaticais, lexicais, vocabulares,
etc., pela transferência de conhecimentos para
situações de comunicação,
pela centração na pessoa do estudante,
pela condução ao êxito na aprendizagem,
pela autossugestão positiva e pelo reforço
da autoestima, mobilizando, para o efeito, fatores poderosos
do inconsciente.
O
Acolhimento
Doze participantes,
seis do sexo masculino e seis do sexo feminino - que
geralmente integram um grupo de aprendizagem pelo método
sugestopédico - vão durante 96 horas,
à razão de 4 horas por dia, distribuídas
por 24 dias, aprender as bases de uma língua
estrangeira. São recebidos numa sala com cadeiras
confortáveis, tipo cadeiras de avião dispostas
em semicírculo. Começam por ser informados,
num clima descontraído, que vão aprender
cerca de 2000 unidades lexicais e que devem ler, depois
de cada sessão, antes de se deitarem, um texto
de base sugestopédica, durante 15 a 20 minutos,
texto que lhes será entregue pelo professor no
fim de cada aula. Nas paredes, encontram-se vários
cartazes sugestivos, com imagens e palavras do país
da língua de aprendizagem, assim como quadros
com nomes e adjetivos ou a conjugação
de verbos, frases-chave da língua-alvo, etc.
O professor pede aos participantes que sejam pontuais,
informa que apenas lhes será permitida uma falta
e aconselha-os a levarem uma vida sã, a deitarem-se
cedo e a evitarem situações de tensão
traumatizantes.
Realça-se,
aqui, a importância conferida pelo Método
Sugestopédico de Lozanov à necessidade
de criar um clima agradável de aprendizagem e
estimular a atividade periférica inconsciente.
A
Apresentação
O professor
cumprimenta cada participante e apresenta-se com um
nome, local de nascimento e profissão fictícios,
originários de um país onde se fala a
língua de aprendizagem. Os estudantes escolhem,
igualmente, um nome fictício, uma profissão
e um local de nascimento, relativos a um país
onde se fala a língua que vão aprender.
Para os que não tenham conhecimento de nomes,
cidades, profissões, etc., do país onde
se fala a língua-alvo, o professor distribui
listas escritas na língua de aprendizagem com
nomes, profissões, cidades…
O professor
retoma regularmente a personagem que cada um escolheu
no início do curso, colocando várias questões
sobre a sua personalidade, com o fim de espicaçar
e incentivar a sua melhor definição, podendo
alargar ao resto do grupo, a colocação
de questões. Naturalmente, cada participante
procurará, pelos meios que entender, informar-se
sobre locais, iguarias, acontecimentos sociais da região
e época em que vive ou viveu a sua personagem,
construindo assim a sua ficção. Não
raras vezes, o professor em cada aula dedica um momento
de 20 minutos para este tipo de exploração,
que pode abranger apenas a personagem de um participante
por sessão, sem prejuízo da manutenção
de cada personagem durante todo o tempo de duração
do curso, por parte de todos os aprendentes.
Contar Histórias e Narrar
Eventos
Antes
de introduzir o tema de cada sessão, o professor,
durante cerca de 30 minutos, explica os aspetos do funcionamento
da língua necessários à compreensão
do texto da lição, dando informações
lexicais, fonéticas, gramaticais, recorrendo,
igualmente, à descrição de pessoas,
lugares, objetos, obras de arte, etc. para situações
de aplicação imediata: descreve, em pormenor,
uma casa típica, a que seguem perguntas na língua-alvo
sobre a casa de cada um dos estudantes; narra uma viagem
que fez, para pedir, de seguida, a narração
de viagens que os participantes já tenham realizado.
Questionamentos
Um momento
importante de cada sessão é aquele em
que cada participante responde a questões que
se encontram num pequeno cartão: Quando? Porquê?
Para quê? Com quê? Com quem? Para um grupo
de 12 estudantes haverá 3 cartões com
a mesma pergunta, cujas respostas o professor recolhe,
agrupando-as em séries de 3. Em cada série
haverá 3 respostas para cada uma das questões
e lê as frases produzidas, cujo conteúdo
será, em princípio, desprovido de lógica,
salvo se à partida for imposto um tema. Se o
grupo for maior e ficarem de fora, por exemplo, dois
dos estudantes, caberá a estes a tarefa de criarem
novas associações e, consequentemente,
novas frases. O objetivo da presente atividade é
produzir diálogos criativos a partir da relação
bipolar pergunta - resposta.
Conjugação
de Verbos em Coro
Outro
momento característico do método sugestopédico
é o da conjugação de verbos em
coro: o professor pede aos estudantes que, em coro,
conjuguem vários tempos de alguns verbos, salientando
as especificidades e as diferenças que os mesmos
apresentam, na língua estrangeira, dando exemplos.
Constroem, depois, frases para cada um dos verbos conjugados.
Com as frases produzidas e, em grupos, criam uma história,
recorrendo, se necessário, a frases de ligação.
Exploração
de Textos
O professor
apresenta o texto da sessão dividido em várias
partes, cabendo a cada participante a leitura de uma
delas em voz alta. São, geralmente, pequenos
diálogos tirados de vários textos de autor
que refletem uma conceção fundamentalmente
positiva do homem em oposição à
conceção freudiana, que Lozanov considerava
pessimista.
A primeira
bateria de textos reporta-se à problemática
do autoconhecimento; a segunda ao vocabulário
do quotidiano de um grupo variado de pessoas, desde
o levantar ao deitar (o tempo, as compras, as refeições,
as visitas, as viagens, os desejos, as profissões,
a ida ao correio, ementas completas de um restaurante,
as estações do ano, etc.); a terceira
série de textos direciona-se para temas ligados
à arte e à cultura do país cuja
língua é ensinada (teatro, cinema, pintura,
música, artes decorativas, dança, etc.);
o quarto grupo diz respeito aos temas sobre sentimentos
e emoções (o amor, a amizade, o medo,
a alegria, a tristeza, a cólera, etc.). A escolha
do vocabulário obedece a critérios de
frequência de emprego e da sua utilidade prática,
havendo, em cada texto, estruturas lexicais e gramaticais
precisas, como por exemplo, o emprego do pretérito
perfeito composto na série de textos relativos
à arte e a utilização do imperativo
pessoal em textos sobre conselhos ou ordens. No ritual
de exploração de um texto, que ocorre
em cada sessão, o professor lê ou conta
uma história que, gradualmente, os participantes
vão compreendendo. Seguem-se exercícios
de tradução, acompanhados de explicações
gramaticais e lexicais e das particularidades, similitudes
e diferenças existentes nas línguas materna
e estrangeira. A grande utilidade destes exercícios
de tradução é, de resto, a comparação
entre o funcionamento das duas línguas.
Concerto
Ativo
Com o
texto relativo à lição diante de
si, os aprendentes ouvem extratos de música de
Bach de modo a atingirem um estado de relaxação
psíquica e de máxima concentração.
Na parte esquerda da folha, o texto encontra-se na língua
materna e, na parte direita, o texto está redigido
na língua de aprendizagem. O professor, permanecendo
de pé, numa atitude solene, lê o texto
da sessão ao ritmo da música. Os estudantes
sublinham algumas palavras ou expressões para
esclarecimento ou discussão posterior.
Concerto
Pseudo-Passivo
À
atividade de concerto ativo segue-se uma outra de concerto
pseudo-passivo, em que, desta vez, com música
de Vivaldi, os participantes são convidados a
fecharem os olhos e a ouvirem a música, enquanto,
em tom normal, o professor lê o texto do dia.
Depois de acabada a leitura, o professor abandona a
sala, em silêncio, tendo, entretanto, escrito
no quadro que a aula terminou e com a indicação
que cada um deve reler o texto em casa, antes de adormecer.
O
Jogo de Papéis, a Simulação e a
Dramatização
Um dos
traços mais marcantes da Sugestopedia é,
com efeito, o uso sistemático de certos meios,
particularmente o jogo de papéis, que facilita,
ou é suposto facilitar, a apropriação
da estrutura de uma nova língua (Lerède,
1983, p.223).
Depois
de ter sido dado vocabulário sobre uma viagem
propõe-se, por exemplo, uma situação
e jogo de papéis: - Imaginem que as vossas
personagens se encontram num aeroporto. O que
dizem? Com quem falam? Como passam o tempo
até à hora do embarque? Que perguntas
fazem? Que respostas obtêm? Segue-se
a proposta de uma situação simulada: para
adquirir, desenvolver ou aplicar o vocabulário
de boa educação e a utilização
de fórmulas de cortesia, os participantes imaginam-se
personagens que se encontram pela primeira vez, num
café, numa empresa, na universidade, no banco,
no hospital, etc.
A partir de um conjunto de palavras de utilização
mais frequente os participantes escrevem um pequeno
parágrafo. Reunidos em grupo, redigem com as
frases de cada um, um pequeno texto que passa pela seleção
de três ou quatro textos suscetíveis de
serem dramatizados. Pode-se, ainda nesta fase, modificar-se
em grupo algumas partes do texto produzido.
Após a leitura dos vários textos, pede-se
a cada grupo que passe à ação dramática,
aquilo que foi criado no papel. Se a tónica era
antes colocada na palavra, neste terceiro momento da
atividade os vários participantes concentrarão
os seus esforços na comunicação.
Finalmente, os vários grupos apresentam as suas
produções, que serão motivo de
análise tanto quanto ao conteúdo como
à forma escolhida. Pode, eventualmente, após
as análises realizadas em grande grupo, voltar
a repetir-se cada dramatização.
|