O Hip Hop :
para além da música, uma cultura Por Belmira Perpétua |
O hip hop continua a definir-se como
a música rap, sendo, porventura, esta, a sua faceta mais significativa.
No entanto, continuamos a ignorar que o hip hop é muito mais do
que os sons que ouvimos quotidianamente, na rádio. O hip hop é
também um estilo de vida, uma cultura, com tudo o que o conceito
acarreta. Nas ruas de Nova Iorque, os graffitis foram a forma de expressão de muitas gangues de rua, envolvidas naquilo que viria a ser reconhecido mais tarde como o hip hop. Por volta dos anos 80, os graffitis grangearam o estatuto de arte. Brathwaite, um famoso artista de graffitis, encorajou este estilo com a falsa afirmação de que os artistas de graffitis se inspiraram em célebres artistas new wave como Andy Warhol, famoso pela sua obra sobre Marylin Monroe. No entanto, o jornalista Richard Goldstein foi o primeiro a ligar os graffitis à música rap, considerando que os graffitis tinham as mesmas raízes culturais ou seja, inseriram-se nos mesmos contextos socio-económicas que os faziam evoluir. O tempo deu-lhe razão, já que, muitos artistas de graffitis, tornaram-se DJs - Disco Jóqueis, influência da música toast jamaicana no rap americano. As semelhanças entre os dois tipos de música são enormes e o facto de o DJ ser o elemento central da música rap e toast é só a ponta do iceberg. Um dos artistas de graffitis e DJs mais influentes do hip hop nesta época era Kool Herc, um Jamaicano que transformou o rap, introduzindo certas inovações como o break dancing, por exemplo. Foi ao som dos seus beats que começaram a dançar o break dancing. O Break dancing era uma forma de dança considerada perigosa, porque era constituída de movimentos temerários como o Headspin que requeria que a pessoa rodasse sobre a cabeça ao dançar. Eventualmente, o break dancing deu lugar ao electric boogie. O movimento que proporcionou o êxito deste tipo de dança foi o Moonwalk que o Michael Jackson popularizou. Hoje em dia, o free style é a dança mais praticada pelos adeptos do hip hop. Como o próprio nome sugere, no free style, faz-se o que se quer. Quer sejam graffitis ou movimentos de dança ou a própria música, a originalidade é importantíssima. Oposta a esta, existe uma outra tendência, a de imitação, que tem também um lugar importante, e que é apreciada pelo seu estilo verdadeiro e original. Podemos também verificar a influência desta dança no vestuário dos hip-hoppers. A dança influenciou o vestuário dos hip-hoppers: para poderem movimentar-se confortavelmete, adoptaram roupas largas e sapatilhas e ainda hoje, os Star de Adidas, sapatilhas que foram usadas por Run-DMC nos anos 80, estão associados ao hip hop. O aspecto, que muitos deploram, o das calças que caem da cintura, também pode ser explicado: provém das prisões, onde o cintos não são permitidos. A sair da cadeia, muitos jovens mantiveram o hábito, adquirido de andar com as calças a cair da cintura. Como é sabido, o Bronx é um bairro pobre, onde a criminalidade era, e é, elevada. O hip hop foi uma alternativa ao crime para muitos jovens. Deu, e ainda dá voz a quem a não tinha e a quem não a tem. Pela música, os MCs (mike controllers) exprimem-se através de textos que versam assuntos que amiúde se tornaram políticos e controversos. Um bom exemplo das polémicas que o hip hop criou ao longo do tempo resume-se a uma carta que o FBI enviou a Priority Records em que comunicava aos produtores do grupo rap NWA, preocupações relacionadas com os textos do grupo. Hoje em dia, o hip hop saiu do ghetto
onde nasceu e tornou-se numa cultura bastante generalizada e apreciada.
O sucesso do hip hop deve-se, em parte, aos textos facilmente compreendidos,
mas também, e sobretudo, à música. Como explica Bill
Stephney, um guru do rap business, " a centração não
era nos textos, era no ritmo, com os DJs a cortar os sons a torto e a
direito. O papel do MC era igualar a intensidade da música nos
seus textos. Ninguém sabia o que ele dizia. He was just rocking
the mike . " Talvez seja essa intensidade da música que faz
com que o hip hop tenha sido exportado para todo o mundo, para países
como a França, Portugal e aqui mesmo no Canada. E, de certeza,
é a música que segundariza os textos, às vezes ofensivos,
que certos artistas produzem. No fim, o hip hop pode bem tornar-se uma
cultura complexa que, no entanto, acaba por regressar às raízes
: a música.
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