Reservado,
mas excessivo. Tão expressivo como tímido. Carinhoso,
às vezes brutal.
Eu queria ser piloto de Fórmula 1. Queria ser famoso pelos
meus trabalhos de engenheiro. Queria ser o primeiro-ministro do
meu país. Queria ser um ator do meio intelectual. Queria
escrever e realizar um filme que atingisse minimamente todos e todas.
Queria ser um pai admirado e amado pelos seus filhos. Queria amar
a mesma mulher eternamente. Queria viajar e conhecer o mundo inteiro.
Queria ter coragem de sacrificar uma vida de conforto para ajudar
algumas famílias a terem uma vida decente.
Não
sou nada disso, nem de perto nem de longe. Será que sonho
demais? Pois é, também acho. Eu sou exigente comigo
mesmo, me decepciono mais do que me satisfaço. Eu me conformo,
talvez por falta de orgulho.
Sou eu, simples, mas orgulhoso demais para admiti-lo. Luto todo
dia para consolidar as minhas diferenças dos outros. Apesar
disso, fecho os olhos para não ver as verdadeiras características
da minha personalidade. Não sou ninguém de extraordinário.
Procuro me esconder e me proteger por trás de uma certa alegria
no meu sorriso, no entanto, me interesso sinceramente por poucas
pessoas. Finjo raramente, procuro, pelo menos, respeitar a integridade
de outrem.
Creio no perdão. É um dos raríssimos atos que
me dão esperança nos seres humanos.
Não engano ninguém. Quem chega a tocar meu coração
transbordado pelas aflições deste mundo, pode ler
os meus pensamentos mais transparentes do que eu próprio.
Consequentemente, tenho poucos amigos dignos desse nome. Adoro o
sentimento de solidão que se sente no meio da multidão.
Preciso desta humildade. Me abro de mais, avalio mal a distância
necessária entre eu e meu interlocutor. Admiro os diplomatas.
Eu amo bastante, elas me magoaram muito por isso. Aprendi realmente?
Creio bem que não. Eu me lembro e nunca esquecerei. Basta.
Deixo a vida me levar, mas eu quero é seguir meu próprio
caminho.
Texto
produzido, a partir da proposta de trabalho contida na
Ficha, Auto-retrato
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