AUTO-RETRATO
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REDIJA, NO ESTILO QUE
ENTENDER, UM PEQUENO TEXTO QUE O APRESENTE. TRATA-SE DE
UM
AUTO- RETRATO. INSPIRE-SE,
POR EXEMPLO, EM BOCAGE, NATÁLIA CORREIA OU ALEXANDRE
O'NEILL.
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Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão de altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,
Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
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Manuel Maria Barbosa du Bocage
1765-1805
Poeta pré-romântico
português nascido em Setúbal, conhecido por
seu estilo rebelde e satírico e considerado o maior
poeta da língua no século XVIII. Filho de
um advogado sem recursos e de mãe francesa. Foi preso
ao divulgar o poema Carta a Marília (1797), passou
meses nas masmorras da Inquisição, de onde
saiu para o convento dos oratorianos, onde se curvou às
convenções religiosas e morais da época.
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Retrato Talvez Saudoso
da Menina Insular
Tinha
o tamanho da praia
o corpo era de areia.
E ele próprio era o início
do mar que o continuava.
Destino de água salgada
principiado na veia.
E quando as mãos
se estenderam
a todo o seu comprimento
e quando os olhos desceram
a toda a sua fundura
teve o sinal que anuncia
o sonho da criatura.
Largou o sonho nos
barcos
que dos seus dedos partiam
que dos seus dedos paisagens
países antecediam.
E quando o seu corpo
se ergueu
Voltado para o desengano
só ficou tranqüilidade
na linha daquele além.
Guardada na claridade
do olhar
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Natália
Correia
1923-1993
Natália
Correia nasceu na Ilha de São Miguel, nos Açores.
Muito cedo iniciou a sua actividade literária. Poetisa,
ficcionista, ensaísta, tradutora, dividiu a sua criatividade
pelo teatro e pela investigação literária.Empenhada
politicamente, viu vários dos seus livros serem apreendidos
pela censura, chegando a ser condenada a três anos
de prisão com
pena suspensa, acusada de abuso de liberdade de imprensa.
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O'Neill (Alexandre), moreno português,
cabelo asa de corvo; da angústia da cara, nariguete que
sobrepuja de través
a ferida desdenhosa e não cicatrizada.
Se a visagem de tal sujeito é o que vês
(omita-se o olho triste e a testa iluminada)
o retrato moral também tem os seus quês
(aqui, uma pequena frase censurada...)
No amor? No amor crê (ou não fosse ele O'Neill!)
e tem a veleidade de o saber fazer
(pois amor não há feito) das maneiras mil
que são a semovente estátua do prazer.
Mas sobre a ternura, bebe de mais e ri-se
do que neste soneto sobre si mesmo disse... |
Alexandre O'Neill
1924-1986
Dedicou-se à publicidade
e desde cedo se juntou às primeiras manifestações
do Surrealismo em Portugal. Afasta-se do grupo
surrealista e colabora nos Cadernos de Poesia.
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NOME______________________________________________________________________________________
DATA_____/_____/_____
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©
Luís Aguilar (2000). Manual de Comunic-Acção
para o Ensino do Português, Língua Estrangeira
ISBN 2-922821 08 0
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