A GREVE DO SÉCULO
por

Nicholas Fizzano



A marcha de protesto dos estudantes universitários do dia 22 de março atingiu o ponto culminante do movimento estudantil. Nessa quinta-feira célebre, a cidade de Montreal foi palco da maior manifestação que a história do Quebeque regista: cerca de 200 000 manifestantes percorreram várias artérias do centro da cidade.
Os manifestantes maioritariamente estudantes, erguiam cartazes, onde se podiam ler vários slogans, uns mais originais do que outros, ao ritmo dos tambores, trombetas barulhentas, gritos reivindicativos e, sobretudo, tagarelices para todos os ouvidos. O percurso dessa manifestação descomunal começou na Place du Canada e o percurso incluía uma parte importante das ruas Sainte-Catherine, Peel, Sherbrooke, St-Denis e Berri, paralisando a circulação automóvel e bloqueando o acesso às lojas e casas comerciais que se encontravam no itinerário. Tantas eram as pessoas que ocuparam a totalidade dos passeios. E assim continuou durante a totalidade da marcha contestatária, totalizando esta quase quatro horas, até que a mesma terminou no Velho Porto de Montreal. Quando toda a gente chegou perto do Velho Porto alguns discursos foram proferidos pelos líderes da “CLASSE” e da “FEUQ”, as duas principais associações de estudantes que levaram a cabo este grande evento histórico.

A CLASSE e a FEUQ são as duas associações representativas dos estudantes e responsáveis pela sua mobilização desde o início da greve que, lembre-se, foram 250 000 estudantes a entrar em greve geral em meados de fevereiro de 2012 com o objetivo de protestar contra o decreto do governo que estipula o aumento das propinas do ensino superior. Adotada no quadro do orçamento para 2011, essa decisão contestada pelos estudantes universitários implica o aumento das propinas de 1625$, num prazo de cinco anos, o que é o equivalente a 75% do que os estudantes pagam agora. Devendo ainda acrescentar-se 325$ por ano até 2018.

Essa resolução governamental foi, naturalmente, considerada como uma declaração de guerra pelos estudantes que, de imediato, multiplicaram as manifestações e atividades de agitação social, a fim de que o governo compreenda o seu descontentamento. As reivindicações têm características distintas: enquanto a FEUQ reivindica o congelamento do preço das propinas, a CLASSE adota uma posição mais radical, em que se reclama nada menos do que a gratuidade escolar para todos os estudantes. O governo já deu a entender por várias vezes que não recuaria diante da pressão estudantil, mantendo que essas medidas são necessárias, tendo em conta que o congelamento das propinas que se manteve por muitos anos, o que se torna insustentável mantê-lo para além de 2012. Até agora, nenhum dos dois partidos parecem querer ceder e muito menos comprometer-se. Uma coisa é certa: se este conflito não se resolver, impactos bem mais duros poderão ocorrer, tanto do ponto de vista económico como do ponto de vista educacional.


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Luís Aguilar
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