Entrevista a Ondjaki, conduzida
por Luís Aguilar,
no quadro do Festival de Literatura Metropolis Bleu.
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O
futuro é feito da mão de um mais-velho
adormecida na mão de um mais-novo. os
mais velhos sabem: a sabedoria de quem já viveu,
e viu e falou, é o modo como se dá voz
aos que agora chegaram com coisas novas de fazer...
as pegadas mostram a direção; mas cada
pé pisa um caminho sempre novo.
Yuri
Aires lê um extrato do livro Bom Dia Camaradas de
Ondjaki
bom
dia camaradas (grafia preferida pelo autor) foi o primeiro
romance publicado por Ondjaki, em 2001, e a primeira obra que
o fez ser conhecido pelos leitores anglófonos, em 2008.
Trata-se de uma narrativa contada na primeira pessoa (o autor)
em terceira (ele, rapaz em idade escolar, autor), passada em
Luanda, nos 90.
O rapaz (Ndalu) fala da sua vida quotidiana de adolescente luandense,
tanto em casa como na escola, através de conversas que
mantém com três grupos de pessoas que o rodeiam
e lhe são significativas, com o objetivo de querer entender
melhor a realidade em que vive. O menino conversa e goza com
os empregados da sua casa e questiona-os sobre as razões
que os levam a achar que a vida numa Angola independente é
pior do que a dos tempos coloniais. Também, graças
a conversas com a sua tia que foi a Luanda de férias,
ele descobre que em Portugal os cidadãos têm mais
liberdade do que em Angola e que mesmo o presidente português
anda a pé pelas ruas, o que não acontece com o
angolano. Por fim, o rapaz vive o mistério do Caixão
Vazio, de que todos fogem, mas que, verdadeiramente, nunca
ninguém viu.
O autor deste reportagem tendo vivido em Luanda na época
em que o autor lá esteve foi com saudades que pode relembrar
muito do que lá viveu também, nessa época
angolana pós-independência, com hábitos,
costumes e ideologias políticas que qualquer pessoa que
passou por aquela época pode identificar no livro. Desvendar
o mistério por traz do grupo quase mítico do Caixão
Vazio ocupa tanto os pensamentos do narrador que até
poderia ser o tema principal do livro. Este grupo causava muito
pânico no universo escolar de Luanda que até os
alunos e professores tinham medo de ir à escola. A ideia
de uma visita do Caixão Vazio era suficiente
para anular todas as atividades na escola. O mais intrigante
nisto tudo, é que nunca houve uma clara descrição
dos membros do grupo e nem sequer se apanhou um destes membros.
Apenas o terror do Caixão Vazio que era tal
e tanto que a Polícia de Luanda teve de se pronunciar
oficialmente sobre a sua existência, proclamando que o
grupo Caixão Vazio nunca existiu. Contudo, foram
muitos os alunos que afirmam vivamente terem sido corridos pelo
grupo. Por isso poucos acreditam na versão oficial da
polícia. O Caixão Vazio permanece um
mito da realidade angolana, uma lenda urbana da cidade de Luanda
na memória de alunos dessa geração, como
um outro mito referido pelo professor Aguilar, o do homem
que cortava cabeças para branquear açúcar.Também
aí nunca ninguém viu concretamente o homem com
o saco num jeep verde e com o saco com as cabeças recentemente
cortadas, mas quando a sua chegada num jeep verde era anunciada,
o pânico era similar ao narrado por Ondjaki. Dois mitos
de duas épocas, dois regimes, os mesmos efeitos.
Em conclusão, bom dia camaradas é um
livro empolgante e fácil de ler. É narrado ingenuamente
por uma criança por volta de dez anos e é capaz
de suscitar no leitor sentimentos de nostalgia dos tempos de
infância.
Ondjaki,
um dos mais conhecidos e amados jovens escritores de língua
portuguesa com textura angolana, romancista, dramaturgo, poeta,
roteirista e documentarista, vencedor do prémio José
Saramago 2013, esteve em Montreal, onde participou em vários
eventos do Festival
de Literatura Metropolis Bleu, de
que se destaca o
encontro-debate, em língua portuguesa,
intituladoCara a Cara,
sobre literatura, lusofonia e Luanda (Angola), cidade onde entrevistador
e entrevistado viveram a infância, em dois tempos diferentes,
deixando-a ambos aos dezasseis anos. Por
seu turno, o autor desta reportagem viveu em Luanda os acontecimentos
narrados por Ondjaki.
Ondjaki começou
por agradecer àqueles que promoveram esta única
sessão em português, pois todas as outras se realizaram
em inglês, tendo assim a oportunidade de, desta vez, falar
na sua língua e partilhá-la com outros falantes
de português.
Primeiro andamento: identidade(s)
Ondjaki,
nome originário de uma das línguas angolanas,
o umbundo, a mais falada em Angola - que em português
significa guerreiro ou, numa tradução mais livre,
aquele que enfrenta desafios, malandro, irrequieto.
Com efeito, Ondjaki aprendeu a guerra, as viagens, as partidas
e chegadas, as aventuras e descobertas e mostra-se irrequieto.
Tudo isto escarrapachado nos seus livros e colados à
sua pele. Foi escolha sua este nome? Sente-se em alguns
desses epítetos? Qual deles melhor se cola àquilo
que faz? Ele: - Todos! Por um lado, os meus pais já
tinham decidido até dois dias antes de eu nascer que
me chamaria Ondjaki, mas uma vizinha influenciou a minha mãe
e esta deixou cair o nome. Dado que é muito comum os
autores, em geral, e os angolanos, em particular, usarem pseudónimos
fui buscar o nome numa altura em que, para participar num concurso,
exigiam um pseudónimo. Ei-lo: Ondjaki. Por outro lado,
na altura em que pintava utilizava já o pseudónimo
Ondjaki. Deste modo comecei a usar o nome que já era
para ter sido. E acrescenta
Ondajaki: Do nome original (Ndalu de Almeida) também
gosto muito, mas só o ouço e gosto de ouvi-lo
quando estou entre familiares e amigos.É um
conforto para mim, pois, muitas vezes, temos necessidade de
ser outro(s). Na sua página na Internet, Ondjaki
descreve-se como prosador, poeta, roteirista (de cinema e teatro)
e realizador de documentários. Por outro lado, conforme
pude comprovar durante este encontro em Montreal, é mágico
pois em menos de um nada conseguiu captar a atenção
de um menino, com atos de prestidigitação (ver
foto). Já foi pintor, mas abandonou as artes plásticas
pois não se achava suficientemente bom, embora se sinta
essa sua vocação nos autógrafos que espalma
nos livros (ver um exemplo mais abaixo).
Segundo
andamento: Jovem escritor ou escritor consagrado?
De todos os títulos
que se lhe atribuem regista-se um que é constante: jovem
escritor, epíteto que não aborrece o escritor
consagrado que é Ondjaki que, comparativamente com outros
escritores, também conhecidos ele é um dos mais
jovens, senão o mais jovem de todos (incluindo escritores
de Portugal e do Brasil). Mas, jovem e consagrado são
adjetivos que expõem um paradoxo. Por quanto mais tempo
vai permanecer o termo jovem? Questão de idade, cognome,
questão de espírito, a emergência de um
novo escritor mais novo do que ele? Ondjaki foi incluído
entre os 39 melhores escritores africanos com menos de 40 anos
de idade, no âmbito do projeto Africa39 organizado pela
Hay
Festival e Rainbow Book Club project
em abril de 2014. De resto, em 2012, Ondjaki já havia
sido identificado pelo jornal britânico The
Guardian como um dos cinco melhores escritores
africanos, e no ano seguinte ganhou a oitava edição
do Prémio
Literário José Saramago,
pelo romance Os
Transparentes. Já foi distinguido em
2000 com a Menção Honrosa do Prémio António
Jacinto pelo seu primeiro livro de poesia Actu Sanguíneu,
e em 2005 obteve o Prémio António Paulouro pelo
livro de contos E Se Amanhã o Medo. O Grande
Prémio APE foi-lhe atribuido em 2007 pelo livro Os
da Minha Rua. Em 2010, recebe o Prémio Jabuti (categoria
juvenil) com AvóDezanove e o Segredo do Soviético.
Ainda no âmbito juvenil, recebeu em 2012 o Prémio
Bissaya Barreto por A Bicicleta que Tinha Bigodes.
No ano seguinte o Prémio Fundação Nacional
do Livro para a Infância e Juventude (IBBY do Brasil).
O que falta ainda para que Ondjaki seja um autor consagrado?
Terceiro
andamento: Similitudes e diferenças de duas vivências
de um mesmo espaço
O professor Luís
Aguilar refere que, bem antes de Ondjaki nascer, já ele
tinha deixado Luanda, cidade que revisita, agora, nos livros
do escritor, espantando-se e deslumbrando-se com tantas coisas
que ele próprio havia já vivido, outras que lhe
trazem à memória momentos já esquecidos
e muitas que o espantam. Nomeadamente o mito do Caixão
Vazio descrito aqui ao lado em tudo semelhante ao grupo corta-cabeças
de jovens para branquear açucar. Mas também as
vivências da escola, da Maianga e de muitos lugares que
ambos pisaram mais ou menos com a mesma idade.
Quarto
andamento: Universalidade da Obra Literária
Trata-se de uma
questão clássica, a problemática da universalidade
de uma obra literária, começa por dizer Luís
Aguilar, considerando-se suspeito pois que conhece bem os sítios
e situações descritos por Ondjaki e, por isso,
o interesse que desenvolve pela leitura das suas obras é
óbvio e grandemente motivador, mas para um espanhol ou
um alemão, por exemplo, interessa-lhe o que o autor narra
de um sítio que lhes é totalmente desconhecido?
E dá a conhecer - e que, no fim de contas, encerra já
a resposta à pergunta que colocou - uma mensagem de correio
eletrónico do próprio gerente da Livraria Las
Américas, Francisco Hermozin, andaluz, que diz: Li
algumas histórias do livro de Ondjaki, traduzido em Francês,
"Os da Minha Rua", que fizeram relembrar-me a minha
infância (TV a preto e branco com papel colorido sobre
o écrã, a Fanta, a mesma série televisiva
que marcou a minha infância-adolescência em Espanha,
O Verão Azul) tudo isto leva-me a crer que os povos são
todos muito parecidos uns com os outros, muito mais do que se
pensa a priori. As palavras de Ondjaki são um convite
a ampliar os nossos horizontes linguísticos e culturais
– diz, por seu turno, o professor Adriano de Almeida
do Colégio Oswald de Andrade.
Ainda
que os seus livros sejam histórias ficcionadas há
um cunho de universalidade pois que toca em memórias
e sentimentos que todos podem experienciar, como por exemplo
a narrativa de Bom Dia Camaradas em que Ondjaki conta
uma estória que, no fim, toca na história de todos
os que um dia foram alunos, ainda que a mesma se passe em Luanda,
entre os anos 80 e 90. Com efeito, Ondjaki com a sua história
narrada por ele próprio nos tempos de criança
consegue encapsular cheiros, medos, mistérios e ambientes
tanto atmosféricos como políticos, sui generis
de uma época que, por mais localizada que seja,
evoca sempre profundas saudades aos seus contemporâneos. Não espanta pois que até um leitor estrangeiro
se implique num universo peculiar retratado na história
e só aparentemente, é diferente da que ele numa
outra distância viveu. Sentir-se-á atraído
pela narrativa nostálgica de um rapaz na flor da adolescência.
E isto acontece porque o livro se parece com uma crónica,
ou ainda melhor, com um diário íntimo, expondo
sentimentos e situações universais, comparáveis
com outras obras de renome internacional, tal como O menino
Nicolau, escrita pelo autor francês René Goscinny
e o Diário de Anne Frank. O facto de Bom
Dia Camaradas já ter sido traduzido no Canadá,
em Cuba, na Espanha, na Itália, no México, na
Sérvia, na Suécia, na Suíça e no
Uruguai confirma a universalidade das obras literárias
de Ondjaki. Ver
página bibliografia de Ondjaki.
Ondjaki conta a
história de um editor italiano que achou que o livro,
Os da Minha Rua, não resultaria em Itália,
porque nele se fala de Luanda e de coisas como O MPLA e a UNITA,
dos sul-africanos e os italianos não iriam perceber nada.
Se assim fosse, ninguém leria Saramago no Canadá
ou Kundera em Portugal. Ondjaki considera que os autores sabem
muito bem o que por que escrevem, masmo que só falem
dos da sua rua. Não são parvos. Parvos são
os editores do tipo relatado, que em vez de dar a liberdade
Quinto
andamento: Nativização, erros ortográficos
e sintáticos ou liberdade poética?
Não é um exclusivo nem do português
falado em Angola, nem do escritor Ondjaki, o uso de regionalismos,
a proliferação de marcas de oralidade ou de termos
específicos de uma região (machimbombo, toca-toca,
ônibus, autocarro; ginguba, alcagoitas, amendoins; griséus,
ervilhas; conquilhas, cadelinhas, quitetas...).
O uso de termos
específicos angolanos e marcas de oralidade do linguajar
angolano, alguns dos quais já fazem parte do léxico
lisboeta, por influência de imigrantes angolanos (bué,
Kota) e integram um glossário
que acompanha cada obra de ondjaki que justifica o uso com o
facto de refletir a sua liberdade artística e com o intuito
de manter o texto o mais autêntico possível. Tal
liberdade que a língua portuguesa permite mas quando
traduzida para outras línguas as expressões em
português são decifradas primeiro e traduzidas
depois, como nos explicou um dos seus tradutores.
Da mesma maneira
Ondjaki defende a forma com as frases são escritas na
sua obra, forma esta que um professor de português categorizaria
cheia de erros de ortografia e forma inadequada de apresentar
um texto. Pois, Ondjaki, por liberdade artística, prefere
escrever sem capitular as letras iniciais das frases (até
usa minúsculas para os títulos das suas obras),
evita usar letras maiúsculas e escreve por exemple “tava”
em vez de “estava”. Estes não são
erros ortográficos, mas sim maneiras pelas quais o autor
tenta transmitir o carácter, o nível vocabular,
o modo de falar das suas personagens, sem ter de carregar o
texto com explicações descritivas das personagens.
Do ponto de vista do leitor, como no caso da crítica
Francine Ramos, tal formato de escrever frases com letras iniciais
minúsculas dá a entender que elas são pensamentos
incompletos do escritor e é como se ele desatasse a escrevê-las
no meio do seu pensamento. Clique
para aceder à lista de alguns termos angolanos que aparecem
nas obras de Ondjaki.
Sexto
andamento: crítica ao regime angolano ou descrição
distanciada de uma realidade social?
É sabido,
se os escritores apesar de amarem o seu país não
criticassem a sociedade e cultura que deles emana não
seriam escritores.Em Em Bom Dia Camaradas, muitos foram os que
viram na obra não o espanto e ingenuidade da personagem
que narra mas um feroz crítico ao regime angolano. E
é ver Ondjaki a fazer contorcionismo para explicar o
óbvio e a saltar por cima de ciladas que lhe querem fazer.
Evidentemente, já que a narrativa vem do ponto de vista
de uma criança, a estória traduz-se numa análise
crua e inocente da sua vida. Desta maneira, ela poderia ser
considerada como uma crítica dissimulada da realidade
em Angola. Ora, tal interpretação não seria
objectiva mas subjectiva, caso o leitor não reconhecesse
que não há nenhuma outra maneira de transmitir
o ponto de vista duma criança do que pela honestidade
genuína e brutal infantil. Isto é, o Ondjaki apresenta
a estória como uma criança o faria para manter
o texto o quanto mais autêntico possível. E, as
vezes, claro as crianças dizem coisas que, se não
fosse pela sua inocência, poderiam ser interpretadas como
críticas ou insultos.
Nesta
sessão, foi sorteado o último livro de Ondjaki,
Os Transparentes, autografado pelo autor, uma gentileza
da Editorial Caminho-Leya.
Ondjaki autografa um exemplar
de Os Transparentes, livro sorteado, que foi parar
às mãos de quem mais o merecia pois que desde
o início reclamava um exemplar em língua portuguesa,
já que à venda só havia livros em francês
e inglês. Não, não foi viciado o sorteio,
como, a brincar, Ondjaki havia sugerido. Mas pareceu! Logo a
ela! Agora, a sério, alguém conhece a senhor da
foto? Podiam enviar-nos o seu nome e contacto? É que
gostaríamos de perguntar-lhe que opinião tem do
livro?
Antes do Cara a Cara,
Luís Aguilar e Ondjaki tiveram a oportunidade de passear
pelo Boulevard Saint-Laurent, onde se encontram os célebres
doze bancos com citações, em português e
em francês, de vários escritores lusitanos, do
século XIII ao século XXI.
Ler aqui.
Sétimo andamento:
Lusofonia
Intrinsecamente ligada à questão
da língua portuguesa aparece o termo escorregadio de
todos os equívocos, Lusofonia, que poucos sabem o que
é e que todos o consideram um valor positivo em si mesmo,
cujo locus nascendi é África 1986 em que os países
com um passado colonial comum se reuniram para formar os PALOP
(Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa)
perante, na altura a estupefação primeiro e a
indiferença depois por parte de Portugal e do Brasil
que só uma década depois viriam a constituir a
CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)
e alargar ao infinito o seu âmbito. Subtraindo as questões
políticas e pré-fabricadas como . Como interpreta
Ondjaki este paradoxo? vê o Ondjaki este fenómeno
linguístico e cultural, você que tem habitado vários
espaços lusófonos: Angola, primeiro, Portugal,
depois, mais tarde a Galiza e, agora, o Brasil (Rio de Janeiro).
Ondjaki torce o nariz com o termo
Lusofonia porque o mesmo está fortemente carregado de
conotações políticas, isto é, quando
se usa para descrever autores que não são de Portugal
ou do Brasil, remetem o autor lusófono para África.
A Lusofonia, quanto a mim, só faz sentido se tiver benefícios
concretos, como por exemplo, poder viajar-se entre países
lusófonos, sem precisar de visto.
Oitavo andamento: Luanda,
a eterna protagonista?
- Tendo o Ondjaki vivido em tantos lugares onde a língua
portuguesa presente, passada e futura é senhora e rainha,
você parece ter apenas uma direção para
a sua pena (a que escreve e a que lembra): LUANDA. Nela falam
quase a totalidade dos seus livros, o que fez com que o António
Rodrigues considerasse que, a propósito do seu mais recente
livro, Os Transparentes, dissesse: A capital angolana
precisava de um livro que iluminasse as suas sombras e não
se ofuscasse com os seus brilhos. Ondjaki conseguiu-o.
Pensa que o que escreveu até agora sobre a capital de
Angola, já chega e vai passar a narrativas de outros
espaços ou tem ainda mais a dizer sobre Luanda?
- De Luanda terei sempre muito a dizer, a escrever, a narrar
muitas histórias, mas tenho com certeza muitas coisas
a dizer sobre outros espaços onde vivi. De Lisboa onde
me formei, por exemplo, e onde tantas coisas fiz...
Décimo andamento:
Realismo Mágico?
Os críticos têm-no constantemente inserido
na corrente literário do realismo mágico, sente-se
confortável nessa gaveta onde estão, entre outros
Garcia Marques, Manuel Scorza ou Arturo Uslar Pietri.
Sabe, esse do realismo mágico
dá-me vontade de rir. O realismo mágico talvez
faça falta nos países onde não há
magia no quotidiano. As coisas fantásticas que acontecem
em Angola ou em Moçambique são tão surpreendentes
que nós, escritores, às vezes conseguimos trazê-las
para as páginas dos livros, outras vezes não.
O que conseguimos colocar de magia nos livros é apenas
um décimo do que existe na realidade.
Pelo que tivemos
oportunidade de observar na interação carinhosa
de Ondjaki com uma criança à qual o escritor se
dedicou a mostrar vários números de magia, bem
poderíamos acrescentar no seu currículo mais um
domínio da sua diversificada atividade, o mundo da Magia.
Para além da sua participação
neste evento em língua portuguesa, Ondjaki esteve presente
no dia 2 de maio, às 19 horas, na Librairie para um encontro
informal de 20 minutos com o público e assinatura de
autógrafos. Esteve ainda presente noutro Cara a Cara,
em inglês, para a CBC animado por Paul Kennedy, para falar
do seu livro Avó Dezanove e o Segredo do Soviético
(romance, 2008) traduzido para inglês com o título
Granma Nineteen and the Soviet's Secret, com tradução
de Stephen Henighan
É de realçar que
a realização do Festival Metropolis Bleu
só é possível graças aos seguintes
patrocinadores: Patrimoine canadien, Conseil des Arts du
Canada, Conseil des arts et des lettres du Québec, Gouvernement
du Québec, Conseil des arts de Montréal, Ville
de Montréal e Tourisme Montréal.
Evento patrocinado por Biblioasis.
Luís
Aguilar entrevista Ondjaki para o Montreal Magazine
DOCUMENTOS
SOBRE O AUTOR
Documentário:
Oxalá
cresçam pitangas - histórias da Luanda de
Ondjaki e Kiluanje Liberdade (Angola/Portugal
| 62’ | 2006
Entrevista com
Ondjaki no programa Entrelinhas em maio de
2014