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Q u e s t ã o
Um dos articulistas quebequenses de renome, Pierre Bourgault, assinou um texto - publicado num vespertino montrealense - cujo título, impresso a letras garrafais, é: O Português não é uma Língua de Comunicação Internacional, o que foi prontamente contestado por Luís Aguilar e Apparecida de Almeida, professores de Língua Portuguesa e, respectivamente, de Cultura Portuguesa e Civilização e Literatura Brasileiras. É, ou não, o Português uma língua internacional?

 

R e s p o s t a

Sim, o Português é uma língua internacional, tanto ou mais do que o Francês. O número de locutores de Português já ultrapassou o número de falantes de Francês. Pierre Bourgault, ao querer defender a sua língua não necessitava de subalternizar outra. Assim apenas demonstrou uma falta de rigor e objectividade inaceitáveis, a par de ausência de profissionalismo inconcebível, para um articulista da sua responsabilidade, já que revelou que ignorava o assunto que pretendia abordar. É verdade que o Português só começou a ter uma importância quanto ao número de locutores há pouco mais de cinquenta anos. Até aí o Polaco e o Italiano, por exemplo, eram línguas faladas por maior número de pessoas. Dos menos de três milhões que a utilizavam, na época das descobertas portuguesas no século XVI , passando pelos cerca de 47 milhões , na primeira metade do século XX e aos cento e sessenta milhões em 1992, até aos mais de duzentos milhões que hoje falam diariamente a língua de Camões, pode bem constatar-se o seu progressivo desenvolvimento.

Os demógrafos Jean-Claude Chasteland e Jean-Claude Chesnais, do Ined (Instituto Nacional de Estudos Demográficos) francês, o Português é tido como a língua que maiores possibilidades tem de crescimento como língua de comunicação internacional na África Austral e na América do Sul, até 2050. Só nos Palop (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), indicam as projecções das Nações Unidas, a população crescerá 58 milhões em 2025 e para 83 milhões em 2050, com perspectiva de idêntica taxa de crescimento na África Austral, onde a SADC (Comunidade de Desenvolvimento local) vai desempenhar o mesmo papel impulsionador que o Mercosul na América Latina (Brasil).

A expansão da língua portuguesa seguirá também para o Oriente, sobretudo devido a Timor Leste e Macau, prevendo-se que isso estimule o interesse pelo Português no Japão, China, Coreia do Sul, Índia (Goa, Damão e Diu) e Malásia (Malaca), regiões onde alguns segmentos da população falam português ou crioulos de base lexical lusa.

O Português é a quinta língua materna mais falada no mundo em 2005, revela o Museu de Língua Portuguesa de São Paulo.

Mas é preciso ter em conta que o que determina o carácter internacional de uma língua não se resume apenas ao número de locutores e o seu potencial crescimento, já que a ser assim, o Chinês (Mandarim) seria a língua mais internacional do mundo, o que não é, obviamente, verdade.

A expansão de determinada língua é sempre condicionada por factores extralinguísticos. É consequência não da vontade dos seus falantes, não de políticas de língua isoladas, mas sim do discurso científico que produz, da expressão cultural e artística que cria e, acima de tudo, das relações económicas que veicula. Com base neste pressuposto, comprova-se que neste início do século XXI, várias línguas existem no mundo que produzem mais ciências, mais cultura e arte, e que veiculam mais relações económicas do que o Português. É o que acontece com o Alemão, com o Castelhano, com o Francês e com o Inglês. Mas que futuro para o Português? A Língua Portuguesa tem possibilidades reais de vir a desempenhar o papel de língua internacional no século XXI?

Respondo, sem hesitar: o Português tem perspectivas de vir a ser uma língua de comunicação internacional com mais pujança que o Alemão e o Francês. Não há nenhum país de língua alemã, espanhola ou francesa que tenha a dimensão demográfica e as potencialidades de crescimento económico como o Brasil. [...] Acrescente-se ainda o facto de existirem em África dois países de média dimensão, Angola e Moçambique, que, ao enveredaram por processos de paz, reúnem todas as condições de se afirmarem como grandes países e darem maior projecção ao Português. [...] Assim, a expansão do Português no mundo surgirá naturalmente, quanto mais ciência se fizer em língua portuguesa, quanto mais cultura for criada em língua portuguesa, quanto mais arte for criada em língua portuguesa e quando os países integrantes da CPLP se afirmarem nas relações económicas internacionais. Estes factores serão essenciais para que falantes de outras línguas necessitem e queiram aprender a falar Português.


Matias, José Manuel,
Que Futuro para a Língua Portuguesa no Século XXI? in Ciberdúvidas. [Em Linha]. http://ciberduvidas.sapo.pt/php/resposta.php?id=11378&palavras=o+futuro+da+lingua+portuguesa+ (Página consultada a 5 de Abril de 2004).