Língua
Portuguesa no
Quadro da Lusofonia
com
a presença de Sérgio Kokis
Universidade
de Montreal, 6 de Abril de 2004
No quadro da
cadeira de Lusophonie: cours synthèse,
do programa académico de Mineur en langue
portugaise et cultures lusophones do Département
de Littérature et langues modernes de la
Faculté des arts et des sciences de l’Université
de Montréal e na sequência da
Pesquisa Orientada na Rede, em curso, sobre Língua
Portuguesa, esteve presente na terça-feira,
dia 6 de Abril de 2004, das 17.00 às 19.30
horas, o escritor, psicólogo, pintor, artista,
escritor, filósofo Sérgio
Kokis.
Um homem que
possui uma riqueza cultural, que está aberto
a partilhá-la com os outros. Ficou-nos a
impressão de estarmos perante um homem íntegro,
autêntico, espontâneo e, apesar das
mágoas e da revolta, impressionantemente
alegre e divertido, que procura incessantemente
uma coerência interna, a que chamamos congruência
e que não lhe permite nem transigir face
aos seus valores, nem distrair-se com as luzes cintilantes
do politicamente correcto.
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![](imagens/sergiokokis3.jpg)
Sergio Kokis atento ao
bombardeamento de questões que lhe foram postas
pelos participantes no debate |
![](imagens/sergiokokis1.jpg)
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Neste
encontro as questões abordadas relacionaram-se
com o seu exílio, o relacionamento com o seu
país de origem, o entendimento que tem da Lusofonia,
as literaturas de expressão portuguesa, a diferenciação
do Português que se fala no Brasil e em Portugal,
as razões que o levam a escrever em Francês
e não em Português, etc.
Narrador
e orador por excelência, pudemo-nos aperceber,
através das histórias que conta, com
entusiasmo, que detém uma inteligência
viva e carrega consigo uma experiência de vida
apaixonante. A sua admiração pela beleza
e riqueza da língua |
![](imagens/sergiokokis2.jpg)
Uma
sala acolhedora, um grupo íntimo, todas
as condições para uma reflexão
serena sobre questões que noutros contextos
já têm suscitado grandes batalhas
políticco-literárias e linguísticas |
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portuguesa
não são razão bastante para
que escreva na língua de Vergílio
Ferreira e Miguel Torga, dois dos escritores que
muito admira. Sergio Kokis escreve directamente
em Francês. Por isso quando a Verónica
Apolinário lhe colocou a questão que
ela se tem colocado a si mesma, a vida inteira,
a de saber se a Língua Portuguesa é
a sua língua materna, Sergio Kokis responde-lhe
afirmativamente mas, diz-lhe que, para ele o mais
importante, é a decisão que a seu
respeito ela possa tomar: guardá-la, melhorá-la
ou perdê-la. À Verónica de decidir.
E por aquilo que pudemos observar uma luz se acendeu
no seu espírito.
- Quem escreve
é o frustrado, o revoltado- responde, sem
hesitar, Sergio Kokis, à pergunta: - É
o psicólogo, o filósofo, o pintor
ou o escritor quem escreve os seus livros?
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No que à Lusofonia
diz respeito, não nos pareceu que o nosso convidado
confira grande importância à
ideia e quanto à prática -diz- A Lusofonia
não existe, nem acredito que possa alguma
vez comparar-se com organizações do tipo da
francofonia. Apesar disso e, paradoxalmente, o escritor
considera a defesa da Lusofonia uma necessidade imperiosa
para proteger e promover a língua portuguesa e as literaturas
de expressão portuguesa. Mas adverte que tal não
se faz por decreto. Faz-se, entre muitos
outros exemplos, pelo gradual reconhecimento mundial das literaturas
de língua portuguesa e pela ciência que em língua
portuguesa se possa vir a produzir. E defende, por fim, A
Lusofonia está presa por um fio, é apenas uma
sombra a que devemos dar vida. Contrariando o discurso
fácil e chauvinista, que produzem alguns dos seus conterrâneos,
Sergio Kokis surpreendeu tudo e todos pela forma realista
e lúcida como retrata o seu país natal, num
discurso politicamente incorrecto, ousando afirmar que o Português
falado em Portugal é mais rico na sua forma e estrutura
do que o Português que se fala no Brasil, que é
um Português arcaico e rudimentar. E
para quem tivesse dúvidas Sergio Kokis considera que
o Português que se fala no Brasil é uma cópia
pálida do Português falado em Portugal.
Depois, põe em evidência o facto de os brasileiros
criticarem os tempos coloniais mas que deles guardam hábitos
verdadeiramente aberrantes que os próprios ex-colonizadores
já deixaram, conservando atitudes e comportamentos
que se assemelham aos dos antigos colonizadores, agora desfasados
no tempo. Hoje, as elites democráticas brasileiras
não passam sem criados (empregados), coisa impensável
em Portugal.
Por outro lado, diz,
os brasileiros discriminam pela cor, sexo, estatuto social,
discriminação que é nesse país-continente
mais gritante e mais aceitável do que em qualquer
outro. Coisas que para Sergio Kokis são inaceitáveis
e relegam o país para uma categoria de país
não-civilizado, ao contrário de Portugal,
diz.
O tempo foi pouco para
o tanto que, adivinhamos, havia para dizer.
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