No dia 10 de Junho,
dia de Portugal, de Camões e das Comunidades
Portuguesas, foi homenageada a imigração
oficial portuguesa, com uma placa, em que se pode ler
um pequeno mas elucidativo texto do escritor luso-montrealense,
Manuel Carvalho:
Chegámos
a estas paragens à descoberta de nova vida e
de mais rasgados horizontes .
O texto, que em português, no livro de Manuel
Carvalho e inicialmente inscrito na placa, está
no presente do indicativo, foi alterado para o passado.
Talvez os diferentes tempos verbais traduzam uma Santa
Ironia e até nem fique mal assim. Depende da
perspectiva de como se vêem as coisas. No fim,
é uma questão de acentuação.
Nós colocaríamos a ênfase no tempo
presente. O autor também, uma vez que o tempo
escolhido para a mesma frase publicada no livro que
recentemente lançou À
beira-Main, encontra-se
no presente do indicativo ainda que o livro desenhe
vários pequenos quadros das vidas grandes e pequenas
de figuras e situações típicas
da Epopeia da Imigração.
Presente e Passada. No texto francês, compõe-se
o passado e não há problema: nous sommes
arrivés. Mas o que se torna agora urgente
é a conjugação do futuro.
Têm motivos de
sobra a Comissão Coordenadora do Quebeque e o
Dr. Nuno Bello, Cônsul-geral de Portugal em Montreal,
que a apadrinhou, para estarem contentes com o trabalho
até aqui desenvolvido por um significativo número
de pessoas que têm dado o corpo ao manifesto
e a quem todos os portugueses de Montreal estão
(ou deveriam estar) agradecidos, independentemente dos
acordos e desacordos sobre formas de actuação,
tempos e formas verbais díspares, que fatal e
inevitavelmente existem nestas ocasiões.
Para além
dos discursos, breves e claros na expressão da
unidade, em torno da homenagem que se deseja fazer àqueles
que por aqui têm marcado presença, através
da língua e cultura de origem, Paula de Vasconcelos
com a sua doçura habitual, lembrou Pessoa, um
dos maiores poetas do século XX e leu um extracto
(em francês) do Livro do Desassossego de
Bernardo Soares (semi-heterónimo pessoano) e
outro de A Mensagem de Fernando Pessoa, ortónimo.
Pouquinho e bom, a saber a pouco, a leitura feita pela
directora de Pigeons International, uma das companhias
de Teatro mais prestigiadas do Quebeque e do Canadá.
Ela aqui, também, discreta e merecidamente homenageada.
Ficaram no ar,
porventura levadas pelo vento, as palavras do Cônsul-geral
de Portugal em Montreal, sobre as invejas emergentes
nesta comunidade, que dificultam o trabalho comum. Escárnio
e mal-dizer fazem, também eles, parte da
cultura lusíada e propagam-se desde o mais alto
magistrado da nação (à mesma hora
o Dr. Jorge Sampaio queixava-se do mesmo nos Açores)
ao mais simples cidadão .
Continuamos a
pensar que, para além das inúmeras actividades
comemorativas que dão uma mais que necessária
visibilidade a uma forte comunidade imigrante, se deveria
aproveitar melhor este momento único para, a
afirmação de uma língua culta e
internacional que transporta com ela uma das literaturas
mais pujantes do mundo. Uma ocasião única
para a afirmação da nossa cultura (nos
mais ricos e variados aspectos que a caracterizam) e
para pôr em relevo os aspectos mais significativos
da nossa História milenar.
É um momento
certamente adequado para olhar e homenagear o que os
pioneiros por aqui fizeram nestes últimos cinquenta
anos de imigração oficial e a forma como
por aqui puderam defender os seus valores e afirmar
a sua cultura, ajudando, ao mesmo tempo, a construir
este grande país da América do Norte.
Mas é também uma ocasião única
para olhar para o futuro e encontrar novas formas de
inserção no país de acolhimento
e de participação na vida social, cultural,
económica, política, difundindo e promovendo
a língua e cultura portuguesas. E tanto mais
se impõe e justifica esta nova atitude se tivermos
em conta o oceano de vivências que separa o Portugal,
pobre, politicamente isolado do tempo dos pioneiros
e o Portugal moderno, evoluído e mais adaptado
aos progressos civilizacionais do nosso tempo.
Começa
a ser tempo, passadas que estão as primeiras
iniciativas, de a comissão liderar este debate
que se nos afigura urgente.
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