Luís
Aguilar |
JJ
SUGESTOPEDIA:
um Método Revolucionário
de Ensino e Aprendizagem
de Línguas Estrangeiras
por
Luís Aguilar |
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Neste
pequeno texto, iremos descrever, resumidamente, os fundamentos,
as principais características e algumas atividades
paradigmáticas de um método eficaz, inovador
e revolucionário de ensino e aprendizagem de
uma língua estrangeira, criado por Georgi Lozanov
e descrito por Jean Lerède: a Sugestopedia, uma
Ciência da Educação, resultante
da aplicação didática e pedagógica
de uma outra ciência da vida psicológica,
a Sugestologia, fundamentada esta em estudos sobre a
Sugestão.
Sugestão
Se
é verdade que Binet (1900) e Bernheim (1916)
tinham já falado, respetivamente, na sugestibilidade
e na sugestão, referindo-se ambos à
aptidão do cérebro para receber ou evocar
ideias, transformando-as em atos e que tudo o que
age sobre o psiquismo é sugestão,
não é menos verdade que, só a partir
dos estudos de Lozanov (1964) se começou a medir
a importância dessa ação (Saféris,
1980, p.22), tendo-se, então, constatado que
o meio age sobre o indivíduo por sugestão,
ou seja pela interação entre a atividade
mental inconsciente e o meio (Lozanov, 1983, p.114):
É uma característica do cérebro
humano, que tende a transformar em atos, sentimentos
ou estados de consciência duráveis, qualquer
ideia, imagem ou impressão "aceites"
pelo inconsciente. (Lerède, 1980, p.14).
Por isso, Lozanov centra a sua atenção
nos aspetos subliminares presentes na comunicação
do indivíduo com os outros, com os objetos e
com o meio. Porque impercetíveis, esses aspetos
subliminares manifestam-se no indivíduo de forma
inconsciente, mas permanecem, paradoxalmente, bem presentes
na sua vida mental. Poder-se-á dizer que o diálogo
consciente/inconsciente estudado por Lozanov se traduz
no turbilhão interior de imagens, sensações,
desejos, que ocupam permanentemente a nossa atividade
mental. Se tivermos consciência dos aspetos subliminares
presentes na nossa interação com os outros
e com o meio, esse diálogo interior torna-se
mais profundo e tem inegáveis reflexos nos nossos
esquemas de pensamento e ação. Para Lozanov,
a sugestão está presente em todas as áreas
da vida, sendo um elemento constante, consciente ou
inconsciente, na comunicação com os outros.
Sugestologia
Deve-se
ao psiquiatra búlgaro Georgi Lozanov, fundador
do Instituto Sugestológico de Sófia, em
1966, a criação de uma, então,
nova ciência humana da vida psicológica,
a Sugestologia, a partir dos estudos que dirigiu sobre
a qualidade universal da personalidade na qual se
exercem as inter-relações inconscientes
entre o homem e o meio que o cerca.
A
Sugestologia é a ciência das comunicações
inconscientes, subliminares, responsáveis pela
ativação das reservas ou potenciais do
ser humano e o seu objeto de estudo é a personalidade
e a sua complexa inter-relação com o meio
ambiente. Pela ênfase que, segundo muitos autores,
a Sugestologia confere à atividade mental inconsciente
pode ficar-se com a impressão de que a atividade
consciente, racional, crítica, pragmática
e objetiva, comandada pelo lado esquerdo do cérebro,
seja ofuscada pela abordagem subjetiva, abstrata, intuitiva,
mítica, divergente, inconsciente, subliminar,
comandada pelo lado direito do cérebro. Contrariando
esta visão simplista e redutora, a Sugestologia
defende o diálogo consciente/inconsciente. O
objeto luminoso e a sua sombra, eis a expressão
escolhida para dizer que o consciente e o inconsciente
são indissociáveis e trabalham em conjunto
e que a abordagem da realidade é tanto mais eficaz,
quando feita pela totalidade do cérebro, de preferência
pela sua programação sugestiva.
Lozanov
propôs-se aplicar alguns princípios sugestológicos
ao ensino, em geral, e ao de línguas estrangeiras,
em particular, criando, para o efeito, a Sugestopedia,
a qual viria a dar origem ao Método Sugestopédico,
que sucintamente, vamos descrever.
Sugestopedia e Método Sugestopédico
Os
elementos de ordem geral que se encontram presentes
em muitos métodos ativos do ensino de línguas
tais como os que privilegiam a ação, a
expressão/comunicação, a inclusão
das componentes culturais e artísticas são
reforçados com a aplicação dos
princípios específicos do método
sugestopédico: a alegria, a ausência de
tensão, a unidade do consciente e do inconsciente,
a ativação de reservas da personalidade,
o apelo constante ao desenvolvimento pessoal, a comunicação
subliminar e a interação sugestiva.
O Método Sugestopédico baseia-se na sede
de aprender do estudante, na estimulação
rápida e sem esforço e está organizado
de tal maneira que as funções conscientes
e inconscientes, os aspetos lógicos e os emocionais
da aprendizagem e a ativação de potenciais
humanos estejam presentes na orientação
do professor.
No relatório que elaborou para a UNESCO, em 1978,
Lozanov considera, por um lado, que a educação,
o ensino e o desenvolvimento pessoal deveriam ser considerados
uma só realidade e, por outro lado, que
não se deve dissociar o processo de comunicação
dos conteúdos de ensino; pelo contrário,
estes estão intimamente relacionados com aquele:
Há que observar com cuidadoso rigor as consequências
positivas e negativas que têm a linguagem utilizada
pelo animador e os comportamentos que adota em relação
aos participantes e à aprendizagem. (Dufeu,
1996, p. 69).
É
certo que o método sugestopédico, como
muitos outros métodos, visa a implicação
de cada participante na sua globalidade cognitiva, afetiva
e psicomotora, mas o que o distingue dos outros é
o facto de conferir uma especial atenção
ao psiquismo profundo do indivíduo em formação
- uma espécie de zona de sombra onde se jogam
os sucessos ou fracassos na aprendizagem de uma língua
estrangeira.
A
Sugestopedia aparece ligada ao ensino de uma língua
estrangeira e a sua eficácia é hoje incontestada.
Sabe-se que pelo método sugestopédico
os alunos aprendem mais depressa e melhor do que pelos
métodos tradicionais: os estudantes assimilam,
em média, mais de 90% do vocabulário que
compreende 2000 unidades lexicais por cada curso de
96 horas; mais de 60% do vocabulário novo é
utilizado ativamente e de maneira fluida na conversação
de todos os dias e o resto do vocabulário apreendido
através da tradução; os estudantes
exprimem-se tendo em conta a gramática fundamental
e podem ler qualquer texto (Lozanov, 1978, pp.321-322).
Temos verificado, nas atividades sugestopédicas
que temos tido a oportunidade de propor aos nossos estudantes
que, pelo Método Sugestopédico, eles aprendem
mais depressa e melhor do que por atividades tradicionais
e que, quando se submetem a testes gerais de avaliação,
têm melhores resultados, tanto nas produções
escritas como na expressão oral. As relações
que os estudantes estabelecem entre si nas aulas prolongam-se
em atos de solidariedade, camaradagem, amizade no universo
académico e no das relações sociais
em geral.
O Método Sugestopédico foi reconhecido,
em 1978 pela UNESCO (Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura), recomendando a sua promoção
e difusão, propondo, ao mesmo tempo, um investimento
na formação de professores capazes de
aplica-lo. Desde então, passou a ser ensinado
no mundo inteiro com grande eficácia e consequente
sucesso.
Para além da sua prática no ensino de
línguas estrangeiras, a Sugestopedia pode ser
aplicada a todas as formas de aprendizagem: na formação
técnica do pessoal das empresas públicas
e privadas, no ensino de matérias com forte pendor
na memorização, como é, por exemplo,
o caso da medicina, do teatro, dos cursos de alfabetização,
em cursos em que se requer o desenvolvimento da personalidade,
da criatividade, do autoconhecimento e, também,
em situações de reeducação,
como o trabalho com delinquentes juvenis ou com crianças
sobredotadas, no treino de atletas, etc., como bem se
pode deduzir pela descrição das atividades
representativas do ensino sugestopédico, que
apresentaremos mais abaixo.
Lozanov identificou três
tipos de bloqueios ou barreiras que o adulto constrói
ao longo do seu percurso existencial e que se tornam
obstáculos maiores à aprendizagem em geral
e à aprendizagem de uma língua estrangeira
em particular: A tensão extenuante e, por vezes,
angustiante verificada na maior parte das práticas
pedagógicas provêm, muitas
vezes, da insegurança do estudante, da falta
de confiança nas suas próprias capacidades
de compreensão, de memorização
e de utilização da informação
nova que lhe é fornecida (Lozanov, 1976).
As barreiras lógicas, que se expressam por pensamentos
pessimistas e que só à primeira vista
parecem lógicos (Como é possível
aprender 50 novas palavras em 15 minutos? Aprender é
uma coisa sempre muito difícil e complicada que
exige muito tempo!); as barreiras afetivas que
se traduzem, muitas vezes, pela falta de confiança
em si próprio (Não tenho jeito nenhum
para aprender línguas! Não consigo fazer
isso! Sou inibido!) e as barreiras éticas
que consistem nos valores adotados pelo indivíduo
e que contrastam ou conflituam com os dos outros, nomeadamente
sobre a conceção do mundo e do homem (Sou
por um Quebeque livre; Os Muçulmanos ameaçam
o Ocidente).
Ao considerar que as várias barreiras, obstáculos
ou bloqueios dificultam ou paralisam a aprendizagem,
Lozanov propõe que se faça um trabalho
no sentido de removê-los ou atenuá-los
através da utilização planificada
da sugestão e da autossugestão, fundamentadas
nos princípios da autoridade, do retorno à
infância, do duplo nível da comunicação
e da centração nos interesses e necessidades
de quem aprende uma língua estrangeira.
A importância em redescobrir a alegria e o prazer
de aprender, num ambiente sem tensões e sem contrariedades,
é uma preocupação permanente e
dominante do método sugestopédico, que
se baseia na sede de aprender do estudante e na rápida
aquisição de competências não
só linguísticas como comunicativas e,
neste contexto, preconiza uma grande concentração
da atenção e, paradoxalmente, uma ausência
de esforço e sofrimento. Com efeito, ao estudar
a forma como as múltiplas solicitações
do meio ambiente atuam sobre o psiquismo de forma inconsciente,
Lozanov propõe a utilização de
três tipos de meios no processo de ensino/aprendizagem
de uma língua estrangeira: psicológicos,
didáticos e artísticos. A sua principal
preocupação é restituir ao aprendente
a confiança em si próprio e proporcionar-lhe
o conhecimento dos seus bloqueios interiores, bem assim
as causas que os provocaram e, a partir daí,
por meios simultaneamente globais e sintéticos,
facilitar a aprendizagem da língua, fazendo recurso
a canções, filmes, peças de teatro,
suscetíveis de motivarem intensamente os participantes
para a aprendizagem de noções elementares
da língua estrangeira que estão a aprender.
O Método Sugestopédico reconhece a necessidade
de um bom ambiente e de um clima descontraído,
coloca a ênfase na sugestão e na comunicação,
considera importante a remoção das barreiras
de ordem intelectual, afetiva e ética à
aprendizagem da língua e suscetíveis de
dificultar a aprendizagem, sugere a transformação
das associações negativas ligadas a experiências
de aprendizagem anteriores, confere uma significativa
importância aos fatores subliminares que influenciam
a perceção global e defende uma perspetiva
de Educação pela Arte e o desenvolvimento
pessoal e cultural dos participantes, promovendo, ao
mesmo tempo, a acuidade sensorial e a sensibilidade.
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O Professor Sugestopeda
Muitos
professores universitários e responsáveis
de programas de cursos de línguas têm revelado
uma alegre facilidade na utilização de
técnicas oriundas da Sugestopedia, ao mesmo tempo
que demonstram uma extrema dificuldade em compreender
os seus fundamentos, isto é, perceber que o ensino
sugestopédico exige um conhecimento aprofundado
e refletido dos fundamentos psicológicos, fisiológicos,
didáticos, artísticos, etc. que dele fazem
parte. Por outro lado, outros, em sentido inverso, parecem
esquecer-se de que a teoria não é sinónimo
de abstração, sem relação
alguma com as realidades pedagógicas, e desenvolvem
sem nuances e com tranquila ignorância, longas
dissertações sobre o método, sem
terem em conta a sala de aulas, onde o mesmo se aplica.
É sempre atraente a utilização
de determinadas técnicas, geralmente definidas
como informais - técnicas de trabalho de grupo,
jogo de papéis etc., - técnicas que muitas
vezes os professores não compreendem na sua essência
e se as utilizam é com o folclórico objetivo
de conferir uma animação àquilo
que não tem alma: o ensino convencional, fortemente
marcado pelo concreto, pelo gramatical, pela incapacidade
de perceber a necessidade de ativar reservas da personalidade,
removendo bloqueios e resistências pessoais, etc.
que experimenta um aprendiz de uma língua estrangeira.
Eis
o que pede Lozanov aos professores sugestopedas, a quem
atribui um papel preponderante na consecução
dos objetivos visados no desenvolvimento de uma aprendizagem
sem esforço, mas em plena concentração,
tendo em linha de conta o que se passa no meio e no
universo das relações sociais: criar um
ambiente descontraído, promover uma relação
empática e compreensiva, adequar o seu estilo
de comunicação, estar sempre em forma,
começar a acabar uma aula pontualmente, adotar
uma atitude solene durante a duração da
aula, manter um tom emocional entusiasta sem, contudo,
exagerar, concentrar-se mais na forma como diz as coisas
do que naquilo que propõe, sugerir o que verdadeiramente
cada estudante deseja aprender, criar material didático
específico, único e inovador, desde a
conceção de arcas e caixas de materiais,
de acordo com as competências globais (compreensão
e expressão) e específicas (fonológicas,
lexicais e gramaticais) visadas em cada aula.
A
formação que tem de ter um professor sugestopeda
para que desempenhe os vários papéis que
nas aulas lhe são exigidos é significativamente
eclética: professor, psicólogo, animador
de grupo, psicoterapeuta, ator, artista, etc.. Pudemos
identificar, nas aulas de Jean Lerède - a que
tivemos o privilégio de assistir - este desempenho
de homem-orquestra.
Aos professores sugestopedas que ele próprio
formou, Lozanov pedia que estivessem sempre em forma,
com sede de comunicação e que se comportassem
como atletas da afetividade.
Não chega uma vida inteira para formar professores
sugestopedas, desde logo pelo facto de serem utilizadas
técnicas subjetivas que contrastam com as técnicas
objetivas desenvolvidas numa formação
clássica de professores de línguas.
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Atividade Sugestopédicas
Vamos
descrever algumas atividades paradigmáticas
do método sugestopédico, atividades
que se caracterizam pela prevalência do autoconhecimento
sobre os conteúdos gramaticais, lexicais, vocabulares,
etc., a transferência de conhecimentos para
situações de comunicação,
a centração na pessoa do estudante,
a condução ao êxito na aprendizagem,
pela autossugestão positiva e pelo reforço
da autoestima, mobilizando, para o efeito, fatores
poderosos do inconsciente.
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O Acolhimento
Doze
participantes, seis do sexo masculino e seis do sexo
feminino - que geralmente integram um grupo de aprendizagem
pelo método sugestopédico - vão
durante 96 horas, à razão de 4 horas
por dia, distribuídas por 24 dias, aprender
as bases de uma língua estrangeira. São
recebidos numa sala com cadeiras confortáveis,
tipo cadeiras de avião dispostas em semicírculo.
Começam por ser informados, num clima descontraído,
que vão aprender cerca de 2000 unidades lexicais
e que devem ler, depois de cada sessão, antes
de se deitarem, um texto de base sugestopédica,
durante 15 a 20 minutos, texto que lhes será
entregue pelo professor no fim de cada aula. Nas paredes,
encontram-se vários cartazes sugestivos, com
imagens e palavras do país da língua
de aprendizagem, assim como quadros com nomes e adjetivos
ou a conjugação de verbos, frases-chave
da língua-alvo, etc. O professor pede aos participantes
que sejam pontuais e que apenas lhes será permitida
uma falta e aconselha-os a levarem uma vida sã,
a deitarem-se cedo e a evitarem situações
de tensão traumatizantes.
Realça-se, aqui, a importância conferida
pelo método sugestopédico de Lozanov
a um clima agradável de aprendizagem, por outro
lado e por outro, ao estímulo à atividade
periférica inconsciente.
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A Apresentação
O
professor cumprimenta cada participante e apresenta-se
com um nome, local de nascimento e profissão
fictícios, originários de um país
onde se fala a língua de aprendizagem. Os estudantes
escolhem, igualmente, um nome fictício, uma
profissão e um local de nascimento, relativos
a um país onde se fala a língua que
vão aprender. Para os que não tenham
conhecimento de nomes, cidades, profissões,
etc., do país onde se fala a língua-alvo,
o professor distribui listas escritas na língua
de aprendizagem com nomes, profissões, cidades…
O professor retoma regularmente a personagem que cada
um escolheu no início do curso, colocando várias
questões sobre a sua personalidade, com o fim
de espicaçar e incentivar a sua melhor definição,
podendo alargar ao resto do grupo, a colocação
de questões. Naturalmente, cada participante
procurará, pelos meios que entender, informar-se
sobre locais, iguarias, acontecimentos sociais da
região e época em que vive ou viveu
a sua personagem, construindo assim a sua ficção.
Não raras vezes, o professor em cada aula dedica
um momento de 20 minutos para este tipo de exploração,
que pode abranger apenas a personagem de um participante
por sessão, sem prejuízo da manutenção
de cada personagem durante todo o tempo de duração
do curso, por parte de todos os aprendentes.
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Contar
Histórias e Narrar Eventos
Antes
de introduzir o tema de cada sessão, o professor,
durante cerca de 30 minutos, explica os aspetos do
funcionamento da língua necessários
à compreensão do texto da lição,
dando informações lexicais, fonéticas,
gramaticais, recorrendo, igualmente, à descrição
de pessoas, lugares, objetos, obras de arte, etc.
para situações de aplicação
imediata: descreve, em pormenor, uma casa típica,
a que seguem perguntas na língua-alvo sobre
a casa de cada um dos estudantes; narra uma viagem
que fez, para pedir, de seguida, a narração
de viagens que os participantes já tenham realizado.
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Questionamentos
Um
momento importante de cada sessão é
aquele em que cada participante responde a questões
que se encontram num pequeno cartão: Quando?
Porquê? Para quê? Com quê? Com quem?
Para um grupo de 12 estudantes haverá 3 cartões
com a mesma pergunta cujas respostas o professor recolhe,
agrupando-as em séries de 3. Em cada série
haverá 3 respostas para cada uma das questões
e lê as frases produzidas, cujo conteúdo
será, em princípio, desprovido de lógica,
salvo se à partida for imposto um tema. Se
o grupo for maior e ficarem de fora, por exemplo,
dois dos estudantes, caberá a estes a tarefa
de criarem novas associações e, consequentemente,
novas frases. O objetivo da presente atividade é
produzir diálogos criativos a partir da relação
bipolar pergunta - resposta.
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Conjugação de Verbos em Coro
Outro
momento característico do método sugestopédico
é o da conjugação de verbos em
coro: O professor pede aos estudantes que, em coro,
conjuguem vários tempos de alguns verbos, salientando
as especificidades e as diferenças que os mesmos
apresentam, na língua estrangeira, dando exemplos.
Constroem, depois, frases para cada um dos verbos
conjugados. Com as frases produzidas e, em grupos,
criam uma história, recorrendo, se necessário,
a frases de ligação.
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Exploração de Textos
O professor
apresenta o texto da sessão dividido em várias
partes, cabendo a cada participante a leitura de uma
delas em voz alta, geralmente, pequenos diálogos,
tirados de vários textos de autor que refletem
uma conceção fundamentalmente positiva
do homem em oposição à conceção
freudiana, que Lozanov considera pessimista.
A primeira
bateria de textos reporta-se à problemática
do autoconhecimento; a segunda ao vocabulário
do quotidiano de um grupo variado de pessoas, desde
o levantar ao deitar (o tempo, as compras, as refeições,
as visitas, as viagens, os desejos, as profissões,
a ida ao correio, ementas completas de um restaurante,
as estações do ano, etc.); a terceira
série de textos direciona-se para temas ligados
à arte e à cultura do país cuja
língua é ensinada (teatro, cinema, pintura,
música, etc.); o quarto grupo diz respeito
aos temas sobre sentimentos e emoções
(o amor, a amizade, o medo, a alegria, etc.) A escolha
do vocabulário obedece a critérios de
frequência de emprego e da sua utilidade prática,
havendo, em cada texto, estruturas lexicais e gramaticais
precisas, como por exemplo, o emprego do passado composto
na série de textos relativos à arte
e a utilização do imperativo pessoal
em textos sobre conselhos ou ordens. No ritual de
exploração de um texto, que ocorre em
cada sessão, o professor lê ou conta
uma história que, gradualmente, os participantes
vão compreendendo. Seguem-se exercícios
de tradução, acompanhados de explicações
gramaticais e lexicais e das particularidades, similitudes
e diferenças existentes nas línguas
materna e estrangeira. A grande utilidade destes exercícios
de tradução é, de resto, a comparação
entre o funcionamento das duas línguas.
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Concerto Ativo
Com
o texto relativo à lição diante
de si, os aprendentes ouvem extratos de música
de Bach de modo a atingirem um estado de relaxação
psíquica e de máxima concentração.
Na parte esquerda da folha, o texto encontra-se na língua
materna e, na parte direita, o texto está redigido
na língua de aprendizagem. O professor, permanecendo
de pé, numa atitude solene, lê o texto
da sessão ao ritmo da música. Os estudantes
sublinham algumas palavras ou expressões para
esclarecimento ou discussão posterior.
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Concerto Pseudo-Passivo
À
atividade de concerto ativo segue-se uma outra de concerto
pseudo-passivo, em que, desta vez, com música
de Vivaldi, os participantes são convidados a
fecharem os olhos e a ouvirem a música, enquanto,
em tom normal, o professor lê o texto do dia.
Depois de acabada a leitura, o professor abandona a
sala, em silêncio, tendo, entretanto, escrito
no quadro que a aula terminou e com a indicação
que cada um deve reler o texto em casa, antes de adormecer.
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O Jogo de Papéis, a Simulação
e a Dramatização
Um
dos traços mais marcantes da Sugestopedia
é, com efeito, o uso sistemático de
certos meios, particularmente o jogo de papéis,
que facilita, ou é suposto facilitar, a apropriação
da estrutura de uma nova língua (Lerède,
1983, p.223).
Depois
de ter sido dado vocabulário sobre uma viagem
propõe-se, por exemplo, uma situação
e jogo de papéis: - Imaginem que as vossas
personagens se encontram num aeroporto. O que dizem?
Com quem falam? Como passam o tempo até à
hora do embarque? Que perguntas fazem? Que respostas
obtêm? Segue-se a proposta de uma situação
simulada: para adquirir, desenvolver ou aplicar o
vocabulário de boa educação e
a utilização de fórmulas de cortesia,
os participantes imaginam-se personagens que se encontram
pela primeira vez, num café, numa empresa,
na universidade, no banco, no hospital, etc.
A
partir de um conjunto de palavras de utilização
mais frequente os participantes escrevem um pequeno
parágrafo. Reunidos em grupo, redigem com as
frases de cada um, um pequeno texto que passa pela
seleção de três ou quatro textos
suscetíveis de serem dramatizados. Pode-se,
ainda nesta fase, modificar-se em grupo algumas partes
do texto produzido.
Após a leitura dos vários textos, pede-se
a cada grupo que passe à ação
dramática, aquilo que foi criado no papel.
Se a tónica era antes colocada na palavra,
neste terceiro momento da atividade de os vários
participantes concentrarão os seus esforços
na comunicação.
Finalmente, os vários grupos apresentam as
suas produções, que serão motivo
de análise tanto quanto ao conteúdo
como à forma escolhida. Pode, eventualmente,
após as análises realizadas, em grande
grupo, voltar a repetir-se cada dramatização.
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Conclusão: Críticas e Limites à
Sugestopedia e ao Anti-Método Sugestopédico
Considerado
um pouco por todo o mundo como um método revolucionário,
com resultados miraculosos, a Sugestopedia foi a abordagem
escolhida para o ensino de línguas estrangeiras
por companhias de aviação, empresas,
empresários, espiões, enfim, todos quantos
necessitavam de aprender uma língua em muito
pouco tempo e de modo a poderem utilizá-la
nas suas lides comerciais, políticas, académicas,
investigativas, etc.
Em todos os sítios, onde se viu aplicada, a
Sugestopedia proporcionou os melhores resultados.
Talvez porque a publicidade à eficácia
do método fosse de tal modo difundida e as
expectativas fossem demasiado grandes, o método
sugestopédico seja alvo de inúmeras
críticas que, no entanto, podem ser colocadas
a qualquer método de ensino e aprendizagem
de uma língua estrangeira: em grupos de
doze estudantes, tirando uma ou duas exceções,
estes exprimem-se com à vontade, sem timidez
ou inibições de qualquer espécie,
mas com muitos erros de construção de
frases e de gramática e com um sotaque que
em, regra geral, é satisfatório. Estes
resultados não são decisivos, contrariando
um pouco o que alguns tentam vender, tomando os seus
desejos por realidades já adquiridas...
(Lerède, 1980, pp.244-245).
Surpreendentemente, nas escolas de línguas
e universidades, o método sugestopédico
ficou à porta, apesar de se ter provado cientificamente
ser um método em que se aprende dez vezes mais
em dez vezes menos tempo. Acusado pelos professores
de manipulação, esoterismo e ausência
de rigor científico, mais uma vez as escolas
e as instituições universitárias
ocuparam a última carruagem do progresso científico,
quando deviam ter sido a locomotiva. Mas a razão
principal talvez seja a falta de preparação
dos professores, cuja formação é
ainda muito livresca e desmunida de instrumentos que
permitam aos docentes intervir eficazmente no domínio
da comunicação. Considerada como uma
espécie de estalagem espanhola, em que cada
um nela encontra o que traz consigo, os universitários,
sentiram-se e sentem-se de mãos a abanar, relativamente
a uma abordagem sugestopédica de uma língua
estrangeira, talvez porque esta lhes exija uma grande
preparação interior e uma disponibilidade
total.
Não queremos com isto dizer que não
encontremos, no método sugestopédico,
incoerências, contradições, coisas
incompletas e até situações que
representam um certo perigo. O que não podemos
aceitar é essa sempiterna resistência
das instituições académicas,
que, aliás, se podem estender a qualquer outro
método não-convencional de ensino e
aprendizagem de uma língua estrangeira.
Hoje, o método sugestopédico é
muito menos desenvolvido do que nos anos 60, quando
foi criado e podemos até considerá-lo
ultrapassado por muitas outras abordagens que, entretanto,
apareceram, mas muitos dos seus fundamentos mantêm-se
atuais, alguns deles adotados por novos modelos, entre
eles, o que nós construímos, Método
de ComunicAção para o Ensino de Português
Língua Estrangeira.
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Referências
Bibliográficas
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