Trava-Línguas
para Leitura Mecânica em Voz Alta 2
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Os pequenos textos
que nesta ficha se dão a conhecer são
denominados de trava-línguas e têm a função
de aperfeiçoar a pronúncia, além
de divertirem quem os lê. Trava-línguas
são conjuntos de palavras de som aproximado que
formam frases de difícil articulação
e que não são usadas quotidianamente.
Tente pronunciá-las de acordo com as quatro orientações
seguintes:
1. Articule as palavras, mastigando-as lentamente, pronunciando
cada som separadamente.
2. Articule as palavras rapidamente, com o maxilar inferior
leve e flexível.
3. Articule as palavras, lentamente, prestando toda
a atenção à respiração,
procurando nunca perder o fôlego. Respeite escrupulosamente
a sintaxe.
Siga o conselho de Charles Dullin:
Nas três leituras sugeridas apoie-se nas consoantes,
exagere, batendo-as bem e com força, como um
gago... Não se preocupe com as vogais. As vogais
são como as patas traseiras de um cavalo, andam
sempre; as consoantes é que são importantes...
são as patas dianteiras.
4. Decore uma das trava-línguas inscrita nesta
ficha de trabalho, para recitar na aula.
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B
À boca de
um beco
Na bica do Belo
Um bravo cadelo
Berrava: báu, báu.
Um bêbado,
um botas
De bolsa e rabicho
Embirra c’o bicho,
Bateu-lhe co’um pau.
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Foi
grande a balbúrdia,
A
turba se ria,
O bruto bramia,
E o broma a bater!
Co’o pau sobre o pobre
E bumba e mais bumba
Parece um zabumba!
Bendito beber!
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C
Na
toca de uma coruja
Numa casa escangalhada
Corria de canto a canto
Certa cobrinha cintada.
Encontra um
pinto calçudo
Que por’ali andava à caça
Das moscas e sevandijas,
E que ao ver a cobra embaça.
«Comadre»,
diz o coitado
Lá no seu quiqueriqui,
«Vem caçar? Eu já cacei,
Entre que eu saio daqui».
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Torna
a cobra escancarando
A boca: «Caçaste? E eu não.
Mas ambos temos faxina
Compadre do coração...
Por fracas trincaste as moscas?
Toma a lição meu calçudo!»
E assim dizendo trincou-o
Com as penas e com tudo. |
D
Um
doido destes de pedras,
Por nome Andrónico André,
Casado com Dona Aldonça,
Que em vez de dois, tinha um pé.
Dia de Corpo de Deus
Disse à esposa: «Aldonça andai,
Adornai-me co’as gualdrapas
Que eu herdei de Adão meu pai.
Gravata dura (que é dúplex),
Meu relógio de cadeia,
O meio-dia oiço dar!
Põe-se já depressa a ceia.
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Venha o pudim
de bedum,
Que a Dona Dulce nos deu,
E o presunto quadrilongo
Do quadrúpede sandeu».
E assim ceado e asseado,
O tal Andrónico André,
Saracoteando os quadris
Foi c’os padres para a Sé.
Dai-me a capa
de bedel,
O casaco de mandil,
O meu chapéu de dedal
E a bengala d’aguazil.
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F
Florência,
Francisca, Eufrásia
Todas de fraldas de folhos,
Foram fazer uma festa,
De filhós, bifes e repolhos.
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Três tafues, três franchinotes
Deitaram-lhes fel nos molhos
Por tal feito que as três
Fartas de fome e de zanga,
Só comeram dessa vez,
Fígados fritos de franga.
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G
Eugénio
Gomes da Gama
E Gil Gonçalves Bugio
Brigaram num desafio
Pela grulha de uma dama.
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Grande
desgraça e mui digna
De lágrimas bem gerais!
Seus golpes foram mortais
E aquela magana indigna
Mangou nos seus funerais. |
J
Um janisaro em
jejum
Viu num jardim um jarreta,
Que estava a jantar peru,
Gergelim e ginja preta.
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De júbilo encheu-se todo,
E pregou-lhe uma peta
Que tirou o pé do lodo
E gramou tudo ao jarreta. |
L
Pondo loja de
capela
Pantaleão do Cardal
Alardeia o que tem n’ela
Pregando-lhe um edital:
«Linhas,
lonas, alfinetes,
Lamparinas, chalés, luvas,
Lenços, lâmpadas, colchetes,
Leques, luto de viúvas.
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Lustres,
lacre, lã, palitos,
Ferrolhos, lápis, lanternas,
Papel, galões, passaritos,
Ligas de enlaçar as pernas!»
Com esta longa parlanda
O feliz Pantaleão
Já tem pilhado
um milhão,
E vai comprar a
Outra Banda. |
M
Amaro
Simão de Soiza
Tem mandinga mui fatal:
Semeando qualquer coisa,
Jamais lhe nasce outra igual.
Supunhamos que semeia
Mostarda ou manjericão:
Vem-lhe malvas, vem-lhe aveia,
Ou melancia ou melão..
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Teima
e afirma muita gente
De moleirinha machucha
Que esta mandinga indecente
Foi manobra de uma bruxa
Malmequeres dão-lhe amoras,
Amoras dão-lhe marmelos,
Marmelos criam-lhe esporas,
E estas, moncos amarelos |
N
Anastácia
e Ana Nunes
Cunhadas do Anão da Nau
Mandaram vir de Norsinga
Vinte e um pássaros bisnau.
Nunca ninguém neste mundo
Viu animais tão bonitos!
Nédiosinhos, pernas nuas
Penas negras, pequenitos.
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Tinham
grandes prendas novas
Tocavam num corne inglês
O minuete afangangado
A dançar a três e três.
Mas com tanto toque e dança,
Deu-lhe um tranglo-mango
mau
Não ficou
dos vinte e um
Nem um pássaro
bisnau.
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P
Comprei por um pinto
em prata
(Que não há preço mais módico)
Uma pipia, uma pata,
Um pote, um pente, um p’riódico. |
Depois
pus tudo isto à venda:
(Que parvo negócio
fiz!)
Um rapaz moço
de tenda
Prometeu-me uma
de Xis.
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Q
Quem
há que queira comprar
Em Queluz um bom quintal?
No Verão é muito quente,
No Inverno, tal e qual
Dá três alqueires e quarta
De quássia, e doze de milho,
E do líquido que esquenta
Seis quartolas e um quartilho.
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Tem
quinze árvores de quina
Quarenta
cardos de coalho
Quatro
flores de quaresma
Que
não requerem trabalho.
Qualquer pessoa querendo ver
Ver este prédio esquisito
Pode falar com o quinteiro
Quirino
Joaquim Cabrita
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R
Comprei
na feira do Rato
No largo das Amoreiras
Arroz de peru num prato
Arranjado pelas freiras.
Porém fiquei mui doente,
Era comer e gritar!
Carne, rins, recheio, coiro,
Roí sem resto deixar.
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Sabia
a chouriço moiro;
Tanto que o
doutor Cabral
Me receitou
para o ventre
Raspas de unicorne
e tal.
Um rato roendo
roía
O rabo do rodovalho
E a Rosa Rita
Ramalho
De o ver roer
se ria |
S
Para
fazer sabonetes
Mui belos e transparentes
Inventou certo estrangeiro
Três receitas excelentes:
Vamos dizer a segunda
Simples, fácil de fazer:
-Põe-se sal e cascas d’alhos
E azeite doce a ferver.
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Deita-se nesta
mistura
Sumo de limão azedo
Com soda, melaço e rosas
Colhidas de manhã cedo.
Depois de tudo amassado,
Põe-se em frasquinhos, ao sol,
Faz-se em bolas e embrulha-se
Em papel verde ou azul.
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T
Sentou-se
num tamborete,
Sem dizer nem chuz nem buz,
E pôs-se a entrudar sozinho
Com tripas de atum de truz.
Triste trolha atrapalhado
De taipar tanta trapeira,
Concertar tanto telhado,
Estragar tanta goteira.
Na festa de Santo Entrudo
Entra trôpego e zoupeiro,
De tamancos toscos e rudes,
No int’rior do seu palheiro
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Eis trinta e três cães famintos
(outros dizem trinta e seis)
Entram de tropel ladrando
Que
estrago!.. Agora o vereis:
Trastes, trancas, tocos, troncos,
Estoiram... Tudo é
tropel
Bater, latir, tombos, roncos
Terminam este aranzel.
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V
Vinde
ouvir caros ouvintes
(Vale a pena). Era uma vez
Vitorino Vaz Ventura
Dos Arcos de Valdevez.
-Adivinhais o motivo
Porque assim se ataviou?
É porque ia a Vila Verde ,
À vôda do Pai-Avô
Vai ele um dia e vestiu-se
Com a véstia verde-gris
Luva nova cor de couve
E Verónica de Aviz.
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-Como vens viçoso e grave!
Diz o Pai-Avô ao vê-lo,
-Trago-vos
trovas em verso
Lhe
volve o vivo camelo.
E tais trovas e tais versos
Dum
livro lhe vomitou
Que virou d’uma vez
bucho
Ao sizo do Pai-Avô.
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X
Excelente
chá da China
Em caixotes de xarão
Trouxe a charrua charroco,
Que é chaveco de feição.
Além
deste chá de luxo,
Mil coisas trouxe da China
Mui curiosas. Por exemplo
Chambres roxos, seda fina
Xargões, enxergas, enchovas,
Enxofre, enxós, chocolate,
Enxúdias, enxertos, lixas,
Lagartixas e um orate.
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Chibatas
e chifarotes,
Lenços para chichisbéus,
Chorinas de franchinotes,
Frasco d’óleo de charéos.
Xavier, consignatário,
Chineiro gordo e convexo,
Vendo tanta esquisitice
Dizem que ficou perplexo. |
Z
Um rapaz
tendo uma zebra
Metida num casarão,
Desancou-lhe um dia a febra
Que a pôs magra com’um cão.
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A azêmola
era cinzenta,
E, depois daquela
tosa,
Ficou da cor
da pimenta
E a atirar
p’ra fanhosa.
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Luís
Aguilar
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