Todos os anos pelo Outono realiza-se em Montreal um salão
de promoção e prova de vinhos, organizada pelo
Instituto
dos Vinhos do Douro e do Porto. No dia 26 de Outubro
de 2005, estive no Hotel Hyatt Regency onde o evento ocorreu,
para melhorar o meu Português, juntando, assim, o útil
ao agradável.
Havia vinte e cinco mesas de diferentes empresas especializadas
na produção e no comércio de vinhos portugueses
no Canadá.
Para dar andança aos olhos e, principalmente, aos gostos
dos estudantes da Universidade de Montreal, decidi provar
todas as denominações dos vinhos ali apresentados.
Cada empresa oferecia cerca de dez variantes de vinho, de
diferentes qualidades e preços.
É com certeza pura coincidência, mas após
as quinze primeiras mesas, os vinhos começaram, estranhamente
a parecerem-me todos iguais, fossem eles de doze ou de duzentos
dólares.
Em boa hora o meu profissionalismo me forçou a prosseguir
a minha prova de vinhos que, posso garantir-lhes valeu bastante
a pena porque a alma também não era pequena
sobretudo quando encontrei a empregada da mesa 18, com os
seus quatro bonitos olhos azuis, da mesma cor das borboletas
que uns minutos antes, acabavam de esvoaçar pela sala
do majestoso hotel.
Sentado no chão, a descansar o que se justifica já
que o trabalho tinha sido mais do que muito nos últimos
tempos, pude constatar que muitos vinicultores conservavam
debaixo das mesas grarrafas cheias de pó e velhas como
a Sé de Braga, vinho certamente de qualidade inferior
e, talvez por serem demasiado velhas para se apresentarem
ao público, em geral. Só ofereciam o vinho que
nelas havia, aos amigos íntimos. Mas, como em duas
horas me tornei íntimo de alguns, também delas
pude deliciar-me com o divino nectar.
Parti já muito tarde, a chorar como um bebé
sem muito bem saber porquê, com a firme intenção
de querer voltar na próxima sessão do género.
Finalmente, ao sair da sala tive ainda tempo para reparar
que a empregada do vestiário tinha rejuvenescido pelo
menos trinta anos em pouco mais de quatro horas.