Armando Fernandes |
É coisa sabida,
até vulgar, Neste mundo industrializado, Utilizar, para se desculpar De não chegar, ou de estar atrasado, O imprevisto mais banalizado, Ou seja, estar o carro avariado. No sei bem se é caso de estatística Nem se a amostragem validade tem, Se se apoia em regras da heurística, Realmente não sei; só sei, porém, Que a ser assim não é suficiente, O número da garagista gente. Mas tomemos o assunto com cautela, Números podem ser enganadores, Regra de base, cálculo, tabela, Usam economistas e doutores, Muitos perdem assim os capitais, E morrem doentes nos hospitais. Lembro o padre Willems, meu professor, Jesuíta de juba leonina, Actuário, sem dúvida o melhor, Enveredou pela via divina, E argumentava um certo postulado, Transcrito a seguir, inalterado. "- A estatística é ciência, em suma, Que diz que se eu comer uma galinha Durante um ano, e tu nenhuma, Comemos, cada um, meia avezinha, Em média durante um ano inteiro." Seria o bom do padre um embusteiro? Eu não o sou, e deveras penoso, Lamento ter perdido o ensejo, De assistir a um sarau gostoso De lírica, grã dama que eu cortejo. O carro não pegou, o alternador, Sucumbiu ao invernal rigor. Mas como há mais marés que marinheiros, Na próxima serei entre os primeiros. |