Armando Fernandes
É coisa sabida, até vulgar,
Neste mundo industrializado,
Utilizar, para se desculpar
De não chegar, ou de estar atrasado,
O imprevisto mais banalizado,
Ou seja, estar o carro avariado.

No sei bem se é caso de estatística
Nem se a amostragem validade tem,
Se se apoia em regras da heurística,
Realmente não sei; só sei, porém,
Que a ser assim não é suficiente,
O número da garagista gente.

Mas tomemos o assunto com cautela,
Números podem ser enganadores,
Regra de base, cálculo, tabela,
Usam economistas e doutores,
Muitos perdem assim os capitais,
E morrem doentes nos hospitais.

Lembro o padre Willems, meu professor,
Jesuíta de juba leonina,
Actuário, sem dúvida o melhor,
Enveredou pela via divina,
E argumentava um certo postulado,
Transcrito a seguir, inalterado.

"- A estatística é ciência, em suma,
Que diz que se eu comer uma galinha
Durante um ano, e tu nenhuma,
Comemos, cada um, meia avezinha,
Em média durante um ano inteiro."
Seria o bom do padre um embusteiro?

Eu não o sou, e deveras penoso,
Lamento ter perdido o ensejo,
De assistir a um sarau gostoso
De lírica, grã dama que eu cortejo.
O carro não pegou, o alternador,
Sucumbiu ao invernal rigor.

Mas como há mais marés que marinheiros,
Na próxima serei entre os primeiros.