sensações à
flor da pele e dirige-nos o olhar para um universo do não-visto
mas do pré-sentido, daquilo que o espetador não
vislumbra. Um caminho cinematográfico menos frequentado
na sétima arte. Secretos recetores para incógnitos
destinatários. Gente que vê o que não se
alcança à primeira vista dirigido a indivíduos
não identificados que sentem aquilo a que outros se sentem
impedidos. Assim se poderá carimbar este transcurso existencial,
os que sentem e os que nem por isso nem tanto. Uma aflição
para os escondidos do sentir, para os açambarcadores
de multidões de imagens prontas a servir.
Com efeito, Sandro Aguilar não
abdica (nem concede) da linha artística a que se propôs
desde sempre. As suas produções têm uma
marca tão original que bem pode hoje dizer-se que ninguém
cinematografa como ele.
Querem que lhes conte o filme premiado, não é
verdade? Pois bem, deem corda aos sapatos e vão ao cinema.
Mais do que ver, sentir a curta «Undisclosed Recipients».
É um filme que se tem de merecer e, para isso, há
que deixar à porta receitas e fórmulas dos cânones
habituais de produzir filmes e montar imagens. Sintam o que
se passa no interior de cada espetador do Festival de Rock de
Paredes de Coura, onde o filme foi rodado em 2015. Nunca lá
fomos, mas ao ver essa curta é como se lá estivéssemos
mediados pela realidade sensório-ficcional que nos desvenda
o poeta da imagem que Sandro Aguilar é.
Grande parte da obra de Sandro
Aguilar foi já exibida em Montreal. Ainda na edição
do ano passado deste mesmo festival foi apresentada a curta-metragem,
«Bunker». Há quinze anos, onde se mostraram
25 filmes portugueses numa edição que visava uma
homenagem ao novo cinema português, Sandro Aguilar esteve
presente e apresentou «Estou Perto» e «Sem
Movimento», com grande aceitação por parte
do público.
Ao longo dos últimos anos,
as curtas-metragens de Sandro Aguilar têm sido premiadas
em vários festivais internacionais: Veneza, Locarno,
Roterdão, Berlin, Oberhausen, Buenos Aires, Brooklyn,
Bahia, Gijon, Vila do Conde, Indie Lisboa…
Sandro Aguilar a convite do irmão
e autor deste apontamento participou em várias sessões
da cadeira de Introdução à Cultura Portuguesa
dos ex-Estudos Lusófonos da Universidade de Montreal
atualmente extintos.
É de notar que em recente
mostra de curtas portuguesas na Cinemateca de Montreal nenhuma
de Sandro Aguilar foi exibida. Agora, no mesmo espaço,
a sua produção impôs-se por si mesma, contribuindo
para a internacionalização da Cultura Portuguesa,
tal como a participação recente da escritora Lídia
Jorge no FIL-Festival Internacional de Literatura de Montreal,
onde foi figura de destaque.
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