Tertúlia sobre a Cultura Portuguesa
no Restaurante
Estrela do Oceano
 

Por 
Luís Aguilar

Os estudantes da cadeira de Introduction à la Culture Portugaise do Programa de Mineur en langue portugaise et cultures lusophones da Universidade de Montreal animaram mais uma tertúlia sobre Cultura Portuguesa, no Restaurante Estrela do Oceano, na noite de 18 de Dezembro, com uma sala cheia de admiradores dos já habituais serões coordenados e dinamizadas pelo Dr. Luís Aguilar, Professor Convidado de Estudos Portugueses da Universidade de Montreal.

Um autêntico  roteiro dos vários aspectos da cultura portuguesa servido a um público maioritariamente quebequense que assistiu e participou, entusiasmado, com a paleta de cores do arco-íris dos vários temas propostos pelos estudantes que elegeram os Açores, a Saudade como Poesia do Fado, a Música Popular portuguesa a música erudita de Francisco de Lacerda, o 25 de Abril, a situação timorense, Eça de Queirós, a Presença Portuguesa na Ilha de Santa Catarina no Brasil, etc.

A pedido dos estudantes, Henrique Laranjo, o proprietário do Estrela do Oceano e um grande entusiasta destas sessões culturais, preparou o manjar açoreano: alcatra, o prato forte, massa doce, pasteis de bacalhau, rissóis de camarão, caldo verde, arroz doce e café. Tudo por 25 dólares. Jordalina Benfeito acompanhada por Libério Lopes e António Moniz, marcaram ali presença artística de grande qualidade, para demonstrar o que Fernando André explicou sobre o Fado, da Severa à Amália Rodrigues. Porque da Música Tradicional Portuguesa ele próprio se ocupou cantando a solo ou integrado no seu grupo Recordações.

Depois a Música foi outra, a erudita, simbolicamente representada por Francisco de Lacerda (1869-1934), um açoriano esquecido, viva e entusiasticamente lembrado por Joviano Vaz, ajudado na técnica por Ricardo Costa, que puxou os seus raros CD’s para evocar aquele que foi, com Cláudio Carneiro, Armando José Fernandes e Jorge Croner de Vasconcelos, um compositor cuja música se integra na evolução da música europeia do século XX, alternativa à corrente musical nacionalista de Vianna da Mota e Luís de Freitas Branco.

Mas tudo havia começado com a inauguração da Exposição do fotógrafo Joi Cletison, sobre a Presença Portuguesa na Ilha de Santa Catarina no Brasil e as marcas culturais que ali têm vindo a deixar  de há duzentos e cinquenta anos a esta parte, sobretudo, os nossos compatriotas ilhéus. Exposição apresentada pela Dra. Manuela Marujo, Professora da Universidade de Toronto, convidada, para o efeito, pelo Dr. Luís Aguilar e a provar que os docentes portugueses são capazes de trabalhar em equipa e colaborarem em iniciativas comuns, aproveitando da melhor maneira os recursos disponíveis. Esta exposição de fotografia ficará até 15 de Janeiro, no restaurante português Estrela do Oceano e dela fazemos referência num outro ponto desta edição.

Apesar dos seus 85% de emigrantes no Canadá, os açorianos, raramente são evocados neste tipo de sessões. Foram os estudantes quebequenses (Catherine Baron, Joelle et Nelson) que com a curiosidade acesa pelas inúmeras narrações dos nossos conterrâneos seus vizinhos que explicam o acento tónico nos Açores, nesta sessão cultural, que teve a duração de cinco horas e ainda ficou com um tema eternamente adiado: o tema do Ensino da Língua Portuguesa no Quebeque, tema que será desenvolvido, noutras edições deste jornal.

E se houve consenso sobre a importância dos Açores na vitória israelita na guerra de Yom Kipur e a humilhação imposta por Marcelo Caetano aos militares portugueses de alta patente, cedendo aos sucessivos ultimatos de Kissinger já esse consenso não foi possível no que ao 25 de Abril disse respeito. Apresentado por um jovem estudante de Política, nascido já depois de 1974, o tema foi comentado como tendo sido o cabelo no caldo verde: o que percebem estes jovens do 25 de Abril ? ouviriamos comentar no final. Uma festa tão bonita estragada desta maneira! Luís Aguilar agradeceu à directora do Departamento de Línguas  e Literaturas Modernas da Universidade, a Professora Catedrática Monique Arnaud, acompanhada da sua filha, a actriz Delphine Arnaud, ao Dr. Nuno Bello, Cônsul Geral de Portugal em Montreal, ao escritor transmontano Manuel Carvalho, ao sempriterno jovem Joviano Vaz, à Dra. Manuela Marujo, ao Conjunto Recordações, à (ah!) fadista Jordelina Benfeito, ao Carrefour des jeunes lusophones du Québeque, ali representado po Frederico Fonseca e, enfim, a todos quantos, pela sua presença, encorajam os estudante de Língua e Cultura Portuguesas, na organização deste tipo de eventos e nos estudos portugueses que prosseguem.  

A Dra Monique Arnaud, referiu a importância de acções de imersão cultural deste tipo, A Dra Manuela Marujo, por seu turno e na mesma linha, lembrou as virtualidades de uma estratégia deste teor e confessou ir aplicá-la nas cadeiras de cultura portuguesa que ministra na Universidade de Toronto. São raros os universitários que reconhecem as virtualidades de uma estratégia de imersão ao mundo sociocultural. Geralmente preferem separar a cultura de quem a produz e quotidianamente constrói. Quedam-se pela conserva cultural enlatada e posta inutilmente nas prateleiras-lembra Luís Aguilar. E a estudante lusocanadiana Belmira Perpétua, originária dos Açores, apresenta, em contraponto ou complementarmente, o conjunto de textos de apoio à tertúlia, da sua responsabilidade, distribuídos, ali, com o apoio do Restaurante Estrela do Oceano e que contém, nas formas mais diversificadas, informação para ler mais em repouso e como complemento importante da cultura viva ali experienciada. Em francês, explica, já que as cadeiras ministradas na Universidade de Montreal com o apoio do Instituto Camões dirigem-se prioritariamente aos estudantes universitários estrangeiros, com o fim de promoção e difusão da Língua e Cultura Portuguesas. Um outro estudante recorda a Henrique Laranjo e aos açorianos presentes as palavras da sua conterrânea Natália Correia: Ó subalimentados do sonho! A Poesia é para comer.

A Doreen (quebequense), também estudante de cultura portuguesa, refere, por exemplo, que o que ouviu de Francisco de Lacerda não fica atrás de um Debussy. Adriana Parra (originária da Argentina e Mário Conde com origens na Galiza , submeteram-se a um jogo, estilo caça ao Tesouro, muito bem apresentado por Catherine Desgagnés (quebequense) sobre a temática do roteiro biobliográfico de Eça de Queirós, ele mesmo, um visitante longínquo de Montreal, ficando as suas palavras sobre esta cidade norte-americana, registadas num postal evocativo, também ali distribuído. Amélia Vaz aproveita para lembrar a origem açoriana de Eça de Queirós, coisa que não sabia, nem a estudante, nem muitos dos presentes.

Os estudantes do Curso Avançado de Língua Portuguesa, incumbidos, em pleno exame, da realização desta reportagem, no quadro da unidade de aprendizagem A Linguagem Jornalística, agradecem a colaboração do jornal LusoPresse, pela oportunidade que lhes dá de verem publicados os seus textos, corrigidos pelo professor e pela redacção do jornal. Ficam também sujeitos ao julgamento dos seus leitores e lembram que uma reportagem é uma notícia muito desenvolvida mas cuja função informativa abarca também as funções emotiva e poética e a linguagem corrente é viva e sintética. Desculpem-nos, pois, se o texto é longo mas não tivemos tempo para torná-lo mais curto.