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É sempre estimulante
ouvir a Dra. Alzira Silva. Surpreendeu-nos, desta vez, o tom, estilo Mensagem
que imprimiu ao seu discurso. Saudades de pedra disse o poeta,
uma saudade a qualquer coisa de indefinido que jamais poderá reencontrar
Alzira Silva, aqui em Montreal. O misterioso receio ancestral à
Chegada e ao Novo das nossas gentes.
Mudaram os Açores
– hoje voltados (e votados) para a modernidade, - mudou Montreal,
mudou o próprio conceito (e contexto) da emigração
portuguesa – da procura de melhores condições de vida
ao alargamento do espaço socio-cultural português em geral
e açoriano em particular - mudou a sala onde se passou este encontro
- hoje temos um salão nobre, bonito, agradável- de cara
lavada, referiu o anfitrião Padre José Maria, em contraste
com a salita de outrora de fuça suja, mudou Alzira Silva, saída
da adolescência do poder para o cunho maduramente feminino do exercício
governativo.
Nostalgia do que não poderá ser mais como dantes (felizmente,
para uns enquanto outros persistem, na saudade do pobrete e alegrete de
um Portugal dos pequeninos embrulhado numa névoa de sentimentos
de tristeza). Pessoano, insistimos, o discurso da Dra. Alzira, marcado
pela epicidade ao estilo V Império, em que refere o prazer
de aqui estar que me enche a alma e surpresa por serem tantos os
que voltaram as costas ao Verão (este ano foi a 12 de Setembro)
para aí fazerem jus da sua afectividade, motivação
e interesse, de quem ousou o movimento para fora do país, teimando
em manter a fidelidade às suas raízes e origens de um futuro
onde não encontrarão os Açores do tempo em que de
lá saíram. Hoje os Açores são um espaço
imenso, precisamente arquitectado por aqueles que de lá partiram
por serem, então, pequenos demais. Há os que sofreram com
a partida dos que hoje se espalham por tanto mar que os separa e une ao
mesmo tempo. É natural que os filhos dos que emigraram se sintam
integrados na sociedade que acolheu os pais, mas bom seria que não
recusassem as suas origens e retomassem contacto com as suas raízes,
foi o repto lançado pela Directora Regional das Comunidades,
do Governo Açoriano, que disse ainda: da nossa parte
sentimos a honra e o orgulho por constatar aqui o que as pessoas fazem
pelos Açores. Apesar das diferenças ou sobretudo com a riqueza
que as mesmas proporcionam, desejo que todos possam incluir-se neste projecto
grandioso que é o de espalhar o espaço açoriano pelos
quatros cantos do mundo –termina a Dra Alzira Silva que, depois
de agradecer do coração, o que nesse âmbito se vai
fazendo, disponibilizou-se para um longo período de questões,
testemunhos, convívio que os presentes quiseram partilhar, numa
vida de causas, num mundo que muitas vezes parece delas apartar-se.
Causas parece trazer o novo cônsul-geral, Dr. Carlos Oliveira que,
nesta sessão açoriana, fez o seu baptismo montrealense e
quebequense, confessando conhecer mal o que vai encontrar, mas
dispondo-se a servir a comunidade portuguesa de Montreal e com ela aprender
a melhor conhecê-la. Apercebemo-nos que o Dr. Carlos Oliveira tem
a noção de que as diferenças entre as várias
comunidades portuguesas se relacionam com as variadas políticas
multiculturais (ou ausência delas) nos lugares de acolhimento e
que, por isso, sente já uma diferença entre a comunidade
portuguesa de França e a do Quebeque. Nem que fosse pela presença
massiva de açorianos em Montreal o que não sucede em França.
Nem a política de promoção, ensino e difusão
da Língua Portuguesa por parte do governo português tem qualquer
comparação. Dossiê incontornável, para o qual,
o novel cônsul-
-geral tem ideias muito próprias. Desejamos as boas-vindas ao Dr.
Carlos Oliveira e continuação de boa estadia à Dra.
Alzira Silva e à sua assessora, Dra. Ana Cristina Ribeiro, mulher
de armas e afectos, autêntica carregadora de piano que,
com o seu trabalho de retaguarda, proporciona maior disponibilidade e
atenção à sua directora. |