Montreal Revisited

Por
Luís Aguilar

 


Porque há qualquer coisa de pessoano neste retorno da Directora Regional das Comunidades do Governo Açoriano a Montreal, cidade que se desejaria pôr numa étagère, como o refere Eça de Queirós quando por aqui passou em 1873, damos idêntico título a esta crónica que aquele que o maior poeta português depois de Camões consagrou a Lisboa: Lisbon Revisited.

É sempre estimulante ouvir a Dra. Alzira Silva. Surpreendeu-nos, desta vez, o tom, estilo Mensagem que imprimiu ao seu discurso. Saudades de pedra disse o poeta, uma saudade a qualquer coisa de indefinido que jamais poderá reencontrar Alzira Silva, aqui em Montreal. O misterioso receio ancestral à Chegada e ao Novo das nossas gentes.

Mudaram os Açores – hoje voltados (e votados) para a modernidade, - mudou Montreal, mudou o próprio conceito (e contexto) da emigração portuguesa – da procura de melhores condições de vida ao alargamento do espaço socio-cultural português em geral e açoriano em particular - mudou a sala onde se passou este encontro - hoje temos um salão nobre, bonito, agradável- de cara lavada, referiu o anfitrião Padre José Maria, em contraste com a salita de outrora de fuça suja, mudou Alzira Silva, saída da adolescência do poder para o cunho maduramente feminino do exercício governativo.

Nostalgia do que não poderá ser mais como dantes (felizmente, para uns enquanto outros persistem, na saudade do pobrete e alegrete de um Portugal dos pequeninos embrulhado numa névoa de sentimentos de tristeza). Pessoano, insistimos, o discurso da Dra. Alzira, marcado pela epicidade ao estilo V Império, em que refere o prazer de aqui estar que me enche a alma e surpresa por serem tantos os que voltaram as costas ao Verão (este ano foi a 12 de Setembro) para aí fazerem jus da sua afectividade, motivação e interesse, de quem ousou o movimento para fora do país, teimando em manter a fidelidade às suas raízes e origens de um futuro onde não encontrarão os Açores do tempo em que de lá saíram. Hoje os Açores são um espaço imenso, precisamente arquitectado por aqueles que de lá partiram por serem, então, pequenos demais. Há os que sofreram com a partida dos que hoje se espalham por tanto mar que os separa e une ao mesmo tempo. É natural que os filhos dos que emigraram se sintam integrados na sociedade que acolheu os pais, mas bom seria que não recusassem as suas origens e retomassem contacto com as suas raízes, foi o repto lançado pela Directora Regional das Comunidades, do Governo Açoriano, que disse ainda: da nossa parte sentimos a honra e o orgulho por constatar aqui o que as pessoas fazem pelos Açores. Apesar das diferenças ou sobretudo com a riqueza que as mesmas proporcionam, desejo que todos possam incluir-se neste projecto grandioso que é o de espalhar o espaço açoriano pelos quatros cantos do mundo –termina a Dra Alzira Silva que, depois de agradecer do coração, o que nesse âmbito se vai fazendo, disponibilizou-se para um longo período de questões, testemunhos, convívio que os presentes quiseram partilhar, numa vida de causas, num mundo que muitas vezes parece delas apartar-se. Causas parece trazer o novo cônsul-geral, Dr. Carlos Oliveira que, nesta sessão açoriana, fez o seu baptismo montrealense e quebequense, confessando conhecer mal o que vai encontrar, mas dispondo-se a servir a comunidade portuguesa de Montreal e com ela aprender a melhor conhecê-la. Apercebemo-nos que o Dr. Carlos Oliveira tem a noção de que as diferenças entre as várias comunidades portuguesas se relacionam com as variadas políticas multiculturais (ou ausência delas) nos lugares de acolhimento e que, por isso, sente já uma diferença entre a comunidade portuguesa de França e a do Quebeque. Nem que fosse pela presença massiva de açorianos em Montreal o que não sucede em França. Nem a política de promoção, ensino e difusão da Língua Portuguesa por parte do governo português tem qualquer comparação. Dossiê incontornável, para o qual, o novel cônsul-
-geral tem ideias muito próprias. Desejamos as boas-vindas ao Dr. Carlos Oliveira e continuação de boa estadia à Dra. Alzira Silva e à sua assessora, Dra. Ana Cristina Ribeiro, mulher de armas e afectos, autêntica carregadora de piano que, com o seu trabalho de retaguarda, proporciona maior disponibilidade e atenção à sua directora.