Os Vários Tipos de Linguagem Utilizados nos Jornais

OS 12 MANDAMENTOS DO JORNALISMO
por
Jules Nadeau

1. O chefe de redacção tem a última palavra sobre a publicação de um texto e pode exigir sempre algumas alterações às descrições nele contidas, à sua extensão, à origem e ao estilo.

2. O preâmbulo, ou lead (parágrafo-guia) é a parte mais importante de um texto jornalístico. Todos os artigos devem começar por um resumo (punch) que anuncie o essencial do artigo, e que responda às questões: Quem?, O quê?, Quando?, Onde?

3. As ideias ou ocorrências principais devem iniciar o artigo e os pormenores devem ser incluídos no final, de forma a que, eventualmente, se possa cortar o texto. É o sistema da "Pirâmide Invertida".

4. As citações têm um papel essencial no jornalismo pois permitem traduzir com precisão o pensamento da pessoa entrevistada. Aconselha-se, que se inclua, sempre que possível, uma frase ou algumas palavras entre aspas ou em itálico.

5. O repórter deve pensar sempre na fotografia, antes mesmo da realização da entrevista ou da redacção do artigo, fornecendo, ele próprio, uma ilustração ao chefe de redacção. Sem foto não há artigo, notícia, crónica, entrevista, reportagem, etc.

6. O editorial tem como objectivo dar a conhecer uma opinião pessoal sobre determinado assunto. Pelo contrário um relato de uma notícia tem como objectivo revelar os factos, os números, as palavras, abstendo-se o redactor de dar a sua opinião pessoal.

7. Uma ideia por parágrafo e os parágrafos devem ser curtos. Um artigo é composto de vários e pequenos artigos, cabendo ao chefe de redacção a tarefa de verificar a coerência dos parágrafos e eliminar alguns, se necessário.

8. Numa reportagem ou numa entrevista em que o repórter desempenha o papel de testemunha, é aconselhável a descrição das personagens, dos locais e dos objectos, tornando-a assim mais viva e visual. Quanto mais pormenores melhor.

9. Não entregar o texto a tempo, quer dizer, de acordo com o deadline estipulado, significa correr-se o risco de ver o seu trabalho ir parar ao caixote do lixo. É uma regra de ouro do jornalismo.

10. Para melhorar a qualidade de um texto é conveniente pedir a um amigo esclarecido ou a alguém de confiança que o leia. Escreve-se para os outros, não para si próprio. A comunicação vai de A para B.

11. O professor universitário ou o romancista e o jornalista não escrevem da mesma forma. O jornalista começa o seu texto com um lead, ao contrário do professor universitário ou do romancista, que o começa com uma introdução geral. Dar o essencial rapidamente, é a primeira preocupação do jornalista.

12. Às vezes basta analisar o tipo de escrita jornalística de um periódico ou de uma revista para se compreender as regras fundamentais que temos vindo a descrever (entrevista, notícia, crónica e reportagem).

 

EÇA JORNALISTA
por

Baptista Bastos

Quem, quê, quando, onde, como - eis o princípio. Mas o princípio deverá estar assessorado pela rejeição absoluta do eufemismo e pela criatividade permanente. "Uma Campanha Alegre", "Páginas de Jornalismo", "Notas Contemporâneas", "Ecos de Paris", "Cartas de Inglaterra" ou "A Emigração como Força Civilizadora" é do melhor que a Imprensa portuguesa tem produzido e de uma qualidade literária igual à de Os Maias ou O Primo Basílio. E todos eles são textos absolutamente modernos. Eça impôs o jornalismo como uma disciplina superior da literatura, e é, talvez, o criador de uma tradição na Imprensa portuguesa: a que coaduna o "estilo" com essa ética da realidade, que compreende o jornal como um vector de progresso e de interveniência cívica e ética, e que faz do jornalista um autor - um autor que medeia o comportamento social com o acto da escrita. Um autor contra a "distanciação" da prosa e da sua falaciosa neutralidade; contra o cinzentismo da exposição, a forma mais indigna de desistência do "eu" para o modo mais sórdido de submissão ao "outro", neste caso os difusos e variados poderes.

Actualmente, Vasco Pulido Valente e Artur Portela Filho formam, porventura, os mais notáveis continuadores dessa tradição queirosiana de escárnio e iconoclastia. São dois grandes jornalistas e, simultaneamente, dois grandes escritores. Há reportagens e crónicas de um e de outro que deviam figurar na mais rigorosa selecta da Imprensa, e nos manuais dos estudantes de Letras. Para estes, e muitos outros, perceberem como se pensa e como se faz corpo legível do pensamento, em textos belíssimos, independentemente dos nossos afectos ou desafectos.