PASSAGEM PARA
A ÍNDIA Adaptação do Texto de O EXPRESSO
O Estado Português da Índia foi ocupado pela União Indiana em 1961, numa acção que o Governo Português só reconheceu em 1975. Os territórios assim adquiridos foram inicialmente governados directamente a partir de Nova Déli,e posteriormente elevados à categoria de estados, com a excepção de Dadra e Nagar |
Haveli,
cuja administração portuguesa a Índia não reconhecia,
tendo considerando pois a sua tomada em 1961 como uma "recuperação"
e não como uma anexação. Aparentemente nenhuma bandeira
local é usada, a exemplo do que acontece em quase todos os estados
da Índia. Iniciada às zero horas de 18 de Dezembro de 1961, a invasão de Goa, Damão e Diu demorou 36 horas. A desproporção era demasiada, com as forças indianas 13 vezes superiores à guarnição portuguesa. O "sacrifício total" pedido por Salazar seria uma tragédia. Assim o entendeu, ao render-se, o general Vassalo e Silva, último governador de uma História de 451 anos. Carlos Azeredo foi um dos militares que participou nos acontecimentos. 40 anos depois, o general foi o guia do Expresso numa visita aos últimos anos da Índia portuguesa. A vizinha e imensa União Indiana é um vulcão de fervor nacionalista. Independente da Inglaterra desde 1947, antes ainda da libertação já os seus principais dirigentes haviam reclamado a integração dos territórios do Estado Português da Índia: Goa, Damão e Diu. Mahatma Gandhi, o pai da grande nação indiana, fora significativamente o primeiro a declarar que Goa não poderia ficar separada. Esta será uma constante da política do primeiro-ministro Pandit Jawaharlal Nehru, que, em 1950, reivindica formalmente os territórios administrados por Portugal, a quem propõe a abertura de negociações. O governo presidido por Oliveira Salazar recusa, com o argumento de que Goa e os demais territórios fazem parte do todo nacional. Em Goa, Damão e Diu, as manifestações de desobediência civil ou a favor do direito à autonomia ou hindus, são compelidos ao exílio. têm como resposta a prisão, a deportação e a censura. Muitos goeses, sejam católicos. |
Ao
diálogo de surdos, segue-se uma nova táctica: a da pressão,
através do bloqueio económico e do recurso aos famosos "satyagrahis",
que invadem pacificamente os territórios portugueses. Significando
literalmente "força da verdade", os "satyagrahis"
haviam sido criados por Gandhi e revelaram-se um elemento decisivo na sua
estratégia de resistência não-violenta. Vagas sucessivas
destes "satyagrahis", enquadrados por militares, invadem, em 1954,
os enclaves portugueses de Dadrá e Nagar-Aveli, perto de Damão.
O primeiro cai em 22 de Julho, o segundo onze dias depois. Nos confrontos
em Dadrá, são mortos dois polícias portugueses. "Mortos
pela Pátria", como assinala uma lápide, que ainda se
mantém num jardim de uma das fortalezas de Damão. A anexação
destes enclaves é o prenúncio de que, a seguir, será
a vez de Goa, Damão e Diu. Disposto a defender cara a jóia
do império, Salazar responde nos planos diplomático e militar.
No dia imediato à sua admissão nas Nações Unidas,
Portugal recorre ao Tribunal Internacional de Justiça (em Haia) contra
a anexação dos dois enclaves. E reforça a defesa da
Índia, recorrendo a voluntários. Ao todo, chegam a Goa mais
três batalhões do Exército. O governador, general Benard
Guedes, passa a dispor de 12 mil homens nos três territórios.
O desembarque é em Mormugão, o mais importante porto de Goa,
conquistado por Afonso de Albuquerque em 25 de Novembro de 1510. O Concanim é a língua mais corrente em Goa, Damão e Diu. Aí se fala, igualmente, o Indo-português (5000 falantes) e o Korlai |