O Regresso de Eça a Montreal
por

Carlos Martins de Castro

in

www.povoasemanario.pt


Foi num fim de tarde sombrio e gélido que Eça de Queirós regressou à cosmopolita cidade de Montreal no Quebeque, Canadá, pela genial iniciativa de Luís Filipe Tavares de Melo de Aguilar, Docente do Instituto Camões, responsável pelo ensino da Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas na Universidade de Montreal e o apoio de Nuno de Mello Bello, Cônsul-Geral de Portugal em Montreal, numa exposição intitulada " Eça de Queirós: marcos biográficos e literários". Numa sala demasiadamente pequena para acolher todos aqueles e aquelas que assistiram, (cerca de 60 pessoas) a sessão de abertura da exposição foi marcada pela apresentação da obra literária do autor assim como alguns pontos significativos do início da sua vida que foram magistral e realisticamente retratados pelo Luís Aguilar que ainda teve o cuidado de traduzir todos os seus comentários em francês para que alguns cidadãos e imprensa quebequenses, presentes na sala, pudessem entender quem foi este grande escritor poveiro. Seguiu-se uma breve apresentação da faceta consular do escritor, feita pelo Cônsul-Geral de Portugal, pois convém não esquecer que Eça foi cônsul em Paris, cidade que o viria desaparecer no ano de 1900. José Maria Eça de Queirós nascido na Póvoa de Varzim em 25 de Novembro de 1845, veio ao mundo em circunstâncias morais irregulares: "filho natural de José Maria de Almeida Teixeira de Queirós e de May incógnita" (lê-se no assento do seu baptismo). O pai do escritor era delegado do Procurador Régio em Ponte de Lima; a "mãe incógnita" era D.Carolina Augusta, filha do coronel José António Pereira D´Eça na altura já falecido. Casaram em Viana do Castelo, na igreja do Convento de Santo António em 1849. O pequeno José Maria, criado até esta data em Vila do Conde pela madrinha, é levado então para casa dos avós paternos, em Verdemilho, próximo de Aveiro. Só aos 10 anos é que se juntou aos progenitores, passando a viver com eles no Porto, onde começou os estudos universitários. Em 1861, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Depois de concluída a formatura em 1866, fixou-se em Lisboa onde o pai trabalhava. Repartiu então a actividade entre a advocacia e o jornalismo. Dirigiu, durante algum tempo, o Distrito de Évora e colaborou na Gazeta de Portugal com folhetins dominicais. Nesta altura da vida, por influência de Antero, começou a entregar-se ao estudo de Proudhon e aderiu ao grupo do "Cenáculo". Teve ensejo de assistir à inauguração do canal de Suez e viajou pela Palestina. Muito do que então presenciou havia de servir-lhe para compor mais tarde O Egipto e A Relíquia. Por 1870, colaborou com Ramalho n´O Mistério da Estrada de Sintra, proferiu uma conferência no "Casino" e iniciou a publicação d´As Farpas. A sua vocação de escritor realista manifestava-se aos poucos. Tendo concorrido para a diplomacia, fez nesse ano um pequeno estágio de funcionário público na Cidade do Liz. Aí arquitectou O Crime do Padre Amaro. Em 1873, é colocado no consulado português de Havana, em Cuba, o mesmo ano em que visitou Montreal. Dois anos mais tarde, foi transferido para Inglaterra e lá começou a escrever O Primo Basílio e a pensar n´Os Maias, n´O Mandarim, n´A Relíquia. De Newcastle e de Bristol, onde residiu, ia mandando correspondência vária para os jornais de Portugal e Brasil. Em 1886, casou com uma senhora fidalga, irmã do conde de Resende, D. Maria Emília de Castro. Em 1888, foi tomar conta do consulado de Paris. Nos últimos anos da sua vida, vemo-lo atarefado a escrever para a imprensa periódica, chegando mesmo a fundar e dirigir a Revista de Portugal. Todo este percurso literário de Eça de Queirós, retratado nas fases românticas, realistas e ainda social-nacionalistas assim como aspectos da sua vida pessoal, podem ser vistos nesta exposição que está patente no consulado Geral de Portugal em Montreal até ao último dia do mês de Março. Uma iniciativa que, visto a qualidade, só pode e deve ser repetida. Assim o esperemos, o mais rapidamente possível para o bem da cultura lusófona!