EÇA DE QUEIRÓS
- DIPLOMATA
Por Nuno de Mello Bello Cônsul-geral de Portugal em Montreal Janeiro 2003 |
Foi
jornalista, tentou a advocacia e colaborou com vários jornais através
de crónicas e folhetins (reportagem da inauguração
do Canal do Suez 1869). Fez o concurso em Setembro de 1870, o Consulado na Baía que lhe deveria ter sido atribuído foi para outro funcionário, Eça teve de esperar. Nesta altura colaborou nas Farpas e Conferências do Casino tornara-se num jornalista conhecido respeitado e temido. Sobre o facto de ter sido preterido, Eça escreve numa das Farpas. Querido leitor: Nunca penses servir o teu país com a tua inteligência, e para isso em estudar, em trabalhar, em pensar! Não estudes, corrompe! Não sejas digno, sê hábil! E, sobretudo, nunca faças um concurso; ou quando o fizeres, em lugar de pôr no papel que está diante de ti o resultado de um ano de trabalho, de estudo, escreve simplesmente: sou influente no círculo tal e não me façam repetir duas vezes!
habitual humor Eça escreveu: Na Havana, era apenas pago pelos
chins, pelos serviços que lhes fazia: pagaram-me bem, honra seja
feita aos chins, e deram-me uma bengala de castão de ouro! É
verdade que eu, pelo menos por alguns anos futuros, garanti-lhes mais
pão e menos chicote. Como bom analista político Eça
fazia excelentes relatórios sobre a situação interna
cubana, e já em Lisboa fez um conhecido relatório sobre
as razões da emigração.
Fez entretanto uma grande viagem aos EUA e ao Canadá (Montreal). Em Julho de 1874 voltou para Lisboa e no final do ano avançou para o seu novo posto no norte de Inglaterra em Newcastle. Era uma cidade triste a e agreste mas sempre era Europa. A primeira impressão voltou a não ser boa, cidade industrial (carvão) e centro do socialismo em Inglaterra, numa carta ao seu amigo socialista Batalha Reis, escreve: Saberás que Newcastle, onde há perto de 100.000 operários, é o centro socialista Inglaterra. Estou no foco. É desagradável o foco. Novamente em cartas para Ramalho Ortigão afirma olhando para esta cidade escura suja e cheia de operários descontentes sinto-me triste mas afirmava também no entanto pela falta de interesses é um excelente gabinete de estudo embora isto não queira dizer que não desejo ardentemente sair daqui. Tinha pouco que fazer limitando-se ao pouco trabalho de despachante de navios carimbando manifestos de carga. Foi no entanto em Newcastle que escreveu o Crime do Padre Amaro. A crise no carvão provocou entretanto graves problemas económico e sociais em Inglaterra que Eça relatou e analisou brilhantemente.
Foi nessa altura começou a correr o rumor de uma vaga em Paris, já com conhecimentos influencia em Lisboa (também através da família da sua mulher) no mesmo ano, foi nomeado e instalou-se com a família em Paris, era o seu grande sonho. Havia uma grande diferença entre o Eça em Havana (promissor jornalista) e o Eça que se instala em Paris (escritor e romancista conceituado).
Fazia muitas e longas visitas a Portugal onde começou a participar nos repastos do grupo que veio a ser conhecido pelos Vencidos da Vida (grupo inspirado por Oliveira Martins com políticos, intelectuais e representantes da velha nobreza) que se apresentava como uma elite alternativa para Portugal. Sempre com um pé em Lisboa Eça participou e comentou critica e activamente a vida política portuguesa (Ultimato britânico em 1890) e toda a crise social e política que se lhe seguiu. Foi nesta altura que escreveu e a Ilustre Casa de Ramires e a correspondência de Fradique Mendes (publicada depois da sua morte) personagem (intelectual, snob e dândi e estrangeirado) criada e narrada por Eça, que alguns consideram, a par com Carlos da Maia, ser o duplo que habitava o mais intimo de Eça de Queiró. Veio a morrer, ainda em Paris em 16 de Agosto de 1900 e seu funeral com honras oficiais teve lugar um mês depois em Lisboa. Para a biógrafa
Filomena Mónica, Eça teve uma segunda morte. Os seus bens
e arquivo pessoal estão no fundo do mar tendo naufragado com o
navio S. André que em Janeiro de 1901 (dez anos depois da sua morte)
que trazia também de Paris material que tinha sido emprestado para
a Exposição Universal de 1900. Enfim, um mal nunca
vem só. Considerando que a pátria destruía os seus filhos sempre criticou os atrasos, politiquice nacional e em especial a constante cópia atamancada por Portugal do que se fazia no estrangeiro, usou a ironia a sátira e a sua extrema inteligência para criticar o sistema instalado, do qual, na minha opinião de uma ou de outra forma, sempre beneficiou. Nos Maias, na última
conversa entre Ega e Carlos da Maia, este último pergunta-se: |