Do Pimba à Música
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Por Ricardo Costa |
Para muitos emigrantes a Música Portuguesa resume-se a Emanuel, Saúl, Agatha ou outros grandes filósofos da música Pimba. Uma música fortemente machista e saturada de mediocridade: o cúmulo do mau gosto e da ignorância. Mas sabes, a música é feita para dançar, e não dou conta das palavras, eu quero é dançar este é o argumento dado. Mas porque será então que esses discos se vendem exclusivamente aos portugueses em Portugal e no estrangeiro? Porque será então que ouço alguns comentários do género: É Fixe! Ouviste aquela do Saúl e do Bacalhau quer Alho? O gajo é mesmo engraçado. O problema é que muitos emigrantes portugueses ficaram parados no tempo, e que para eles os Xutos e Pontapés ainda representam a Música Moderna Portuguesa! Mas essa não é a única razão; nas programações portuguesas da Radio Centre-Ville e da CFMB onde é difundida a música portuguesa, aparentemente ninguém tem conhecimentos para comentar a música moderna portuguesa, como os Da Waesel, Mind Da Gap, Né Ladeiras, Marta Dias, João Afonso, Ithaka ou até mesmo Dulce Pontes, Ala dos Namorados ou MadreDeus. Poucos conhecimentos, poucos meios, são as razões que nos dão essas duas estações, mas são capazes de passar grosserias vindas de Portugal. Na realidade, o interesse é de ter o maior número de ouvintes e sabe-se que quando isso acontece a qualidade diminui. O Pimba não é internacionalizável porque foleiradas não funcionariam em países desenvolvidos (e ricos). Mas por outro lado os Ala dos Namorados, Maria João e Mário Laginha, Dulce Pontes e os Madredeus, são popularíssimos em países como o Japão, a Alemanha ou a Áustria. Tem de se compreender
que uma grande parte dos emigrantes radicados no estrangeiro não
dispõe de grandes estudos nem de uma grande cultura geral e disso
não os podemos culpar. Fazer música em
Portugal é pensar em promovê-la fora de Portugal sem passar
pelas comunidades portuguesas. Por exemplo a Dulce Pontes assinou um contrato
com a Universal Music da Áustria, não de Portugal,
Paulo Brangança com a Warner Bros USA, apoiado pelo David
Byrne, Mísia com a Warner Music de França, e exemplos
desses poderia citar vários. Mas aqui quem conhecia a Mísia?
Uma pequenina parte da comunidade. A seguir ao espectáculo, as
duas rádios difundiram a sua música, correram às
entrevistas, mas esqueceram-se que a Mísia já tinha realizado
três CDs antes do Paixões Diagonais. Portugal modernizou-se;
os atrasados são os emigrantes! |