No contexto
da relação entre tempos e espaços associados
ao exílio, o meu propósito será o de
analisar consequências corporais desse processo de desterritorialização,
de modo a reflectir sobre aquilo que esta faz revelar quer
de constrangimento, quer de libertação no único
“território” a que o exilado ou pós-exilado
pode, em princípio, chamar seu, e onde, de forma mais
indelével, se inscrevem os sinais da separação
e da passagem exílicas.
Centrar-me-ei num “corpus” constituído
por excertos de textos literários (bem como de um filme)
não apenas de autores portugueses exilados ou expatriados
nos anos 60-70, como também de alguns autores de origem
portuguesa, ligados à colonização ou
à emigração, vivendo por conseguinte
num espaço móvel de fronteira, ou seja, num
constante “fora de lugar”.
Não podendo ser completamente alheia às experiências
exílica ou pós-exílicas dos respectivos
autores, a minha leitura não se deterá em reconstituições
de ordem biográfica, mas procurará equacionar
as ressonâncias corporais da “deslocação”,
“ruptura”, “excesso” , “ferida”
e “metamorfose”, que representam a corporização
literal de algumas realidades e desafios tanto sócio-político
como culturais e estéticos: a liberdade, a homossexualidade,
a emancipação da mulher e a hibridez.