É
HORA |
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fazê-lo.
É a sua História. É a sua arte bem peculiar de
fazer estórias. Diferente das de todos os povos da América
Latina. A herança colonial é diferente. O que fizeram
os colonizadores Portugueses não foi o que fizeram os Espanhóis
e muito menos os Ingleses e Franceses. Ao contrário de outros
países colonizados por estes, o Brasil é um país
giríssimo (palavra que tanto diverte os Brasileiros que utilizam
o vocábulo "bacana" que, por sua vez, diverte os Portugueses)
com gente optimista, desenrascada, amorosa e trepadora (ei, não
falo de subir às árvores, mas da arte de quem sabe aquecer
os lençóis com muito samba, doçura e poesia).
espáduas; e suas vergonhas tão altas e çarradinhas
e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos
não tínhamos nenhuma vergonha. Parabéns
pelos 180 anos de afirmação cultural, política,
económica, etc. no mundo, em pleno uso da liberdade e fora das
inocuidades coloniais. Dando um salto, ou uma cambalhota histórica,
importa questionar, hoje, se o Brasil se cumpriu como disse Fernando
Pessoa, em relação a Portugal: É hora! Falta
cumprir-se Portugal. Hora essa em que falta ainda cumprir-se o Brasil,
cuja urgência é agora o acto eleitoral que decorre este
mês que, com maior ou menor pânico, todos anseiam conhecer
o seu desfecho. Já imaginou o Real mais fraco que o Peso argentino?
Pois é a primeira vez que isso está acontecendo confessa-nos
a sua perplexidade o Ministro Jacques de Magalhães Pimenta, para
quem não haveria razão para tanta angústia e tantos
boatos que a imprensa canadense tem espalhado. Mónica Dantas,
distinta investigadora da UQAM, diz-se perplexa, quando sai do Brasil
e a tratam como se viesse de um mundo não ocidental e lhe perguntam
se fala Brasileiro e não Português. Em Portugal, os brasileiros
e no Brasil, os portugueses não sentem nada disto. Por isso,
se procuram em cada lá e não aqui em Montreal. Chegam
brasileiros, aos magotes, a Lisboa, alegrando-a, colorindo um pouco
a sua tristeza, dando outro sabor à saudade e outra sonoridade
à fala. Lisboa, com os Brasileiros, Cabo-verdianos, Angolanos,
Moçambicanos tem muito mais encanto. O encanto da Lusofonia,
conceito, ainda tão lesmacentamente escorregadio e que para tudo
dá, mas que na história, na língua, nas culturas
e no quotidiano das pessoas que sempre se continuam a misturar, faz
todo sentido.
Aqui mesmo ao lado, em Toronto, tivemos a oportunidade de ver como os Brasileiros têm procurado estar perto dos Portugueses, habitando o mesmo bairro, "numa boa". E bonito foi ver os Brasileiros festejarem, no Mundial, a vitória de Portugal sobre a Polónia, e os Portugueses estenderem a festa por mais tempo para saborearem a vitória final do Brasil, torcendo do princípio ao fim pelos Brasileiros. A taça fala Português, diziam. E assim, à revelia dos políticos, professores, linguistas, investigadores - que procuram todos os pretextos, às vezes assaz ridículos, para desunir artificialmente o que unido está, naturalmente - vai-se, a par e passo construindo uma Cultura de Língua Portuguesa, tão pressagiada por Bandarra, cantada por Camões, praticada imperialmente por Vieira, sonhada por Pessoa. Tal como os Portugueses, os Brasileiros estão espalhados por todo o mundo nos cinco continentes e transportam consigo, ambos, para além de toda a sua peculiaridade existencial, um tesouro: a Língua Portuguesa, que, como se sabe (ou não se sabe) chegou a ser língua franca, é a terceira língua de comunicação internacional mais falada do mundo e, actualmente em grande expansão. Ora essa é a hora, de avançar na afirmação mundial de uma Cultura de Língua Portuguesa, dando corpo e voz ao sonho utópico da universalidade de ser tudo, de todas as maneiras. De Padre António Vieira a Fernando Pessoa, de Machado de Assis a Mia Couto, inventem-se novas formas de caminhar juntos, livres nas variantes, sim, mas cada vez mais artesãos de uma forma séria de promoção e difusão da nossa comum Língua, artesanalmente transformada pelas culturas que se vão da lei da morte libertando, que a soletram com sotaques variados e a desenham em grafias plurais. Este
é o grito à Ipiranga, que lanço nas margens do
Saint-Laurent, em Setembro, em Montreal.
Possível a Lusofonia? A crer na imagem... |