É HORA
BRASIL!


Por
Luís Aguilar


Normand Asselin, um excelente falante de Português, entre Luís Aguilar e o Cônsul-Geral do Brasil em Montreal, Ministro Fernando Jacques de Magalhães Pimenta, no dia 6 de Setembro de 2002, por ocasião do centésimo octogésimo aniversário da Independência do Brasil.


Nuno Bello, Cônsul-Geral de Portugal e Luís Aguilar, Docente do Instituto Camões, escutam os vários desafios que enfrenta o Brasil

A 7 de Setembro de 1822, aproveitando a embalagem do tufão que marcou as passagens da Idade Moderna para a Idade Contemporânea e do Capitalismo Comercial para o Industrial que assolaram todo o Ocidente, D. Pedro gritava nas margens do riacho Ipiranga, perto de São Paulo : É tempo... Estamos separados de Portugal. Num tempo outro, Fernando Pessoa respondia nas margens do seu quarto: É hora... Falta cumprir-se Portugal!

Herdando, talvez, os brandos costumes dos antepassados Lusitanos, o grito do Ipiranga apenas ecoou no sector político, deixando todo o quotidiano do povo na mesma, ou seja, as várias gentes que habitavam o Brasil continuaram a viver segundo a cartilha do regime colonial. E depois... bom, depois... não vou falar disso, que cabemais aos Brasileiros

fazê-lo. É a sua História. É a sua arte bem peculiar de fazer estórias. Diferente das de todos os povos da América Latina. A herança colonial é diferente. O que fizeram os colonizadores Portugueses não foi o que fizeram os Espanhóis e muito menos os Ingleses e Franceses. Ao contrário de outros países colonizados por estes, o Brasil é um país giríssimo (palavra que tanto diverte os Brasileiros que utilizam o vocábulo "bacana" que, por sua vez, diverte os Portugueses) com gente optimista, desenrascada, amorosa e trepadora (ei, não falo de subir às árvores, mas da arte de quem sabe aquecer os lençóis com muito samba, doçura e poesia).
Vejam as diferenças entre o que é hoje a Argentina (que, a par dos Portugueses, detém o recorde do anedotário brasileiro) e comparem o Brasil com a África do Sul, o Peru, a Rodésia, a Argélia, etc. Estão a ver onde eu quero chegar, né? Ou, melhor, de onde quero partir, para felicitar quem inventou tão grande e majestoso país, todo feito de Samba, Poesia, Música e Futebol e homenagear aqui, como o fez Rodolfo Frank, numa conferência realizada no quadro das actividades do Centro de Estudos sobre o Brasil da UQAM, os nossos antepassados que, com o seu tesão e capacidade habilidosa de estabelecerem contacto com os povos e de com eles se misturarem, pincelaram o mundo com todas as cores da mestiçagem. Pêro Vaz de Caminha na célebre carta que enviou a El-Rei D. Manuel, em 1 de Maio de 1500, é bem o testemunho guloso dessa vontade, quando refere ao descobrir as índias:Ali andavam entre eles três ou quatro moças e bem gentis, com cabelos muito pretos,compridos,pelas

Descubram quem aqui é brasileiro(a)?
espáduas; e suas vergonhas tão altas e çarradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. Parabéns pelos 180 anos de afirmação cultural, política, económica, etc. no mundo, em pleno uso da liberdade e fora das inocuidades coloniais. Dando um salto, ou uma cambalhota histórica, importa questionar, hoje, se o Brasil se cumpriu como disse Fernando Pessoa, em relação a Portugal: É hora! Falta cumprir-se Portugal. Hora essa em que falta ainda cumprir-se o Brasil, cuja urgência é agora o acto eleitoral que decorre este mês que, com maior ou menor pânico, todos anseiam conhecer o seu desfecho. Já imaginou o Real mais fraco que o Peso argentino? Pois é a primeira vez que isso está acontecendo confessa-nos a sua perplexidade o Ministro Jacques de Magalhães Pimenta, para quem não haveria razão para tanta angústia e tantos boatos que a imprensa canadense tem espalhado. Mónica Dantas, distinta investigadora da UQAM, diz-se perplexa, quando sai do Brasil e a tratam como se viesse de um mundo não ocidental e lhe perguntam se fala Brasileiro e não Português. Em Portugal, os brasileiros e no Brasil, os portugueses não sentem nada disto. Por isso, se procuram em cada lá e não aqui em Montreal. Chegam brasileiros, aos magotes, a Lisboa, alegrando-a, colorindo um pouco a sua tristeza, dando outro sabor à saudade e outra sonoridade à fala. Lisboa, com os Brasileiros, Cabo-verdianos, Angolanos, Moçambicanos tem muito mais encanto. O encanto da Lusofonia, conceito, ainda tão lesmacentamente escorregadio e que para tudo dá, mas que na história, na língua, nas culturas e no quotidiano das pessoas que sempre se continuam a misturar, faz todo sentido.

Aqui mesmo ao lado, em Toronto, tivemos a oportunidade de ver como os Brasileiros têm procurado estar perto dos Portugueses, habitando o mesmo bairro, "numa boa". E bonito foi ver os Brasileiros festejarem, no Mundial, a vitória de Portugal sobre a Polónia, e os Portugueses estenderem a festa por mais tempo para saborearem a vitória final do Brasil, torcendo do princípio ao fim pelos Brasileiros. A taça fala Português, diziam.

E assim, à revelia dos políticos, professores, linguistas, investigadores - que procuram todos os pretextos, às vezes assaz ridículos, para desunir artificialmente o que unido está, naturalmente - vai-se, a par e passo construindo uma Cultura de Língua Portuguesa, tão pressagiada por Bandarra, cantada por Camões, praticada imperialmente por Vieira, sonhada por Pessoa.

Tal como os Portugueses, os Brasileiros estão espalhados por todo o mundo nos cinco continentes e transportam consigo, ambos, para além de toda a sua peculiaridade existencial, um tesouro: a Língua Portuguesa, que, como se sabe (ou não se sabe) chegou a ser língua franca, é a terceira língua de comunicação internacional mais falada do mundo e, actualmente em grande expansão.

Ora essa é a hora, de avançar na afirmação mundial de uma Cultura de Língua Portuguesa, dando corpo e voz ao sonho utópico da universalidade de ser tudo, de todas as maneiras. De Padre António Vieira a Fernando Pessoa, de Machado de Assis a Mia Couto, inventem-se novas formas de caminhar juntos, livres nas variantes, sim, mas cada vez mais artesãos de uma forma séria de promoção e difusão da nossa comum Língua, artesanalmente transformada pelas culturas que se vão da lei da morte libertando, que a soletram com sotaques variados e a desenham em grafias plurais.

Este é o grito à Ipiranga, que lanço nas margens do Saint-Laurent, em Setembro, em Montreal.
 

Com o actor Raul Cortez protagonista do filme À Esquerda do Pai, fala-se da formação de actores e de Luanda onde ambos viveram

Com Reginaldo Mordenti

Com o best-seller Paulo Coelho a quem oferece um dos seus últimos livros

Com Sérgio Kokis , falanso sobre Lisboa que ambos adoram e discutindo sobre preferências literárias

Com o actor do filme
À Esquerdo do Pai
, Selton Mello
Com Apparecida de Almeida e Eduardo Fernandes de Oliveira, ex-Cônsul-Geral de Portugal em Montreal falando sobre os Estudos Luso-Brasileiros na Universidade de Montreal

Possível a Lusofonia? A crer na imagem...