VIAGEM
PELO PRODIGIOSO MUNDO DOS AZULEJOS
por
Sylvie
Pelletier
Estudante
de Português da Universidade de Montreal
Esta minha viagem
pelo admirável universo dos azulejos teve início
quando preparava uma apresentação sobre a temática
dos azulejos para a aula de Português do professor Luís
Aguilar, onde me cabia abordar a problemática dos tão
badalados quadrados de cerâmica. No domingo passado, vi
o filme Azulejos. Une utopie céramique, de Luís
de Moura Sobral, apresentado na Cinémathèque québécoise,
no âmbito do FIFA (Festival international du film
sur l'art). O trabalho que apresentei na aula não
foi mais do que uma modesta síntese sobre o tema dos
Azulejos. O visionamento do filme permitiu-me descobrir uma
arte antiga impressionante e tão presente, ainda hoje,
principalmente em Portugal e no Brasil, sem esquecer Montreal
e os bancos públicos da rua St-Laurent que integraram
muito bem os impressionantes azulejos contemporâneos na
decoração do referido mobiliário urbano.
O filme, do género Road Movie, convivial, simples
e sem grandes pretensões, conduz-nos pelo universo dos
azulejos começando pelo século XX. Luís
de Moura Sobral explica o desenvolvimento contemporâneo
dos azulejos que se inicia, provavelmente, por altura da visita
de Le Corbusier ao Rio de Janeiro, na segunda metade do século
XX, altura em que o grande arquiteto urbanista se deixou seduzir
pelos azulejos e, diz-se que sugeriu a sua utilização
na arquitetura. Ainda que muito mencionada esta explicação,
o certo é que a mesma não se poder dar como certa.
Em Portugal, Luís de Moura Sobral acompanhado de um guia,
mostra-nos os azulejos do metro de Lisboa. Wow! Um verdadeiro
museu da azulejaria contemporânea portuguesa. Toda a gente
deve ir visitar este museu, quero dizer o metro de Lisboa. Depois,
recuamos no tempo para descobrir a origem do azulejo. Percorremos
vários monumentos para melhor compreender a sua evolução
ao longo de cinco séculos: dos azulejos de influência
mourisca dos séculos XV e XVI, de elementos geométricos,
até à primeira produção portuguesa
do século XVII, com um desenho ingénuo, geralmente,
uma reprodução de gravuras europeias aos azulejos
de que se podem encontrar em Portugal e no Brasil (esta arte
foi importada pelos colonos portugueses deste país).
Situa-se no século XVIII, o apogeu dos azulejos, o ciclo
dos mestres que fizeram obras gigantescas, tão somente
com as cores azul e branco. É nesta época que
uma maior exigência técnica se pode verificar,
a par da participação de artistas como Policarpo
de Oliveira Bernardes.
Quanto a mim, gostei, particularmente dos detalhes de azulejos
mostrados em grande angular, já que os nossos olhos são
insuficientes para tudo ver à vista desarmada. O filme
mostra- nos a capela de São Filipe em Setúbal,
o que nos permite perceber a utopia ceramista de que fala o
realizador.
Depois, Luís de Moura Sobral diz-nos com tristeza que
muitos mais azulejos ficam nos entrepostos, não importa
como, não importa onde. Por outro lado, o filme dá-nos
a conhecer o importante trabalho de restauração
e catalogação de azulejos, geralmente de elevado
custo, do Museu Nacional do Azulejo em Lisboa, onde muitas pessoas
trabalham como voluntárias, procedendo a uma tarefa colossal.
Não queria terminar este pequeno texto sem referir o
grande entusiasmo existente no desenvolvimento e na utilização
dos azulejos, principalmente, em Portugal e no Brasil. De onde
vem esta paixão? Azulejos. Une utopie céramique
não responde a todas as perguntas deste gênero,
mas permite-nos, com certeza, levantar o véu rumo a um
melhor conhecimento da arte dos azulejos. É impossível
ir a Portugal e ao Brasil sem reservar tempo para ver esta utopia
ceramista. Foi um grato prazer ver esta arte, através
do filme de Luís de Moura Sobral. O meu sincero e reconhecido
agradecimento.
Ficámos a saber da existência de uma cátedra
de cultura portuguesa na nossa universidade, cujo titular é
precisamente o professor Luís de Moura Sobral, que realizou
o seu filme no âmbito desta instituição
académica.