A
www.adiáspora.com
é um portal que se orienta para as comunidades
portuguesas
espalhadas pelo mundo, fornecendo-lhes vasta informação,
a partir de um banco de dados e serviços. Visitando
este Portal na Rede, o navegador, seja qual for a sua
origem ou país, tem à sua disposição
itinerários cibernáuticos que permitem
a obtenção da mais diversificada informação
sobre Portugal e a diáspora. José Ilídio
Ferreira, o seu director, dinâmico elemento da
comunidade portuguesa torontina quis festejar o II Aniversário
do portal que mantém na Rede, em permanente construção,
juntando cerca de três centenas de pessoas, durante
dois dias, na sede de um clube bastante activo daquela
comunidade: o Sport Club Lusitânia. Deus
quis, o homem sonhou, a festa fez-se tendo nela
participado artistas, professores universitários,
jornalistas, políticos, representantes oficiais
canadianos e portugueses, associativistas, etc.
Nos
tempos difíceis que todos atravessamos, num mundo
cada vez mais globalizado e indiferente, a realização
deste evento é grávido de significado
para uma comunidade generosa empreendedora, criativa,
solidária, como é a comunidade portuguesa
de Toronto que assim vai marcando a sua portugalidade,
Com um pé no passado que conhece e outro no futuro
que vê como um cheque em branco que não
está disposta a passar, reenviando para os jovens
essa "estucha", enquanto o momento presente
se vai vivendo, dia a dia, as várias comunidadeos
portuguesas oscilam entre a contemplação
da obra feita e a incerteza de um futuro que não
querem moribundo, mas que desconfiam que exista.
Esta problemática esteve presente, directa ou
indirectamente, na generalidade das comunicações
feitas e dos artistas que ali expuseram os seus trabalhos
e nos encheram a alma com as suas obras, às quais
quanto a nós, não foi dado o merecido
destaque.
Ana
Bailão, a chefe-de-cerimónias, fez-nos
lembrar uma bailarina cujo esforço e cansaço
são latentes e facilmente pressupostos, mas que
o público nela apenas vê leveza, simpatia
e sedução. Com efeito, adivinhámos
e constatámos a permanente adaptação
que teve de fazer aos constantes imprevistos de apresentação,
às já habituais improvisações
das organizações portuguesas, sempre com
um sorriso nos lábios, sempre consciente do seu
papel dinamizador, transportando permanentemente uma
energia inesgotável e uma espontaneidade contagiante.
As conferências levantaram, de um modo geral as
problemáticas actuais da luso-descendência
quer seja no Canadá, quer nos Estados Unidos.
Sonhar para além do passado, para além
das fronteiras, ver e sentir e sintonizarmo-nos com
"as ondas da terra" foi o apelo deixado
pelo Dr.Elvino
de Sousa,
professor da Universidade de Toronto, açoriano
de nascimento, homem de todas as nações
pelo coração.
O
Dr. Luís Morgadinho, jovem luso-descendente nascido
em Angola, indigna-se com o número ainda insignificante
de portugueses que prosseguem estudos, a falta de autoestima
e de ambição que os jovens luso-descendentes
arrastam consigo, etc, fruto de um passado recente em
que Salazar nos castrou psicologicamente.
A Dra. Ilda
Januário,
uma lutadora nata que encarna a corredora de fundo,
cheia de esperança e determinação,
trilha o caminho de ajuda aos jovens e crianças
portuguesas, pais, educadores e instituições
a tomarem consciência e a ganharem a motivação
necessária para aprenderem, empreenderem e elevarem-se
cultural e socialmente.
Chegado de Massachusset, o Deputado António Cabral,
da House of Representatives, antigo professor
de Português, mantêm acesa a chama do ensino
e da cultura portuguesas, pautando o seu discurso político,
enérgico por um apelo aos portugueses e seus
descendentes para que não vivam apenas no passado
grandioso, mas que interajam, que criem laços,
não apenas com portugueses, mas também
com outros lusófonos, pois não estamos
sós na defesa de uma língua e de uma cultura
e respectivas diversidades.
Da
Universidade da Columbia Britânica, surge-nos
a Professora Jean
Barman cujo livro sobre José
da Silva, Joe Silvey and the Portuguese Diaspora
to Early British Colombia, sairá no mês
de Abril. Este livro construído a partir de vários
testemunhos orais e escritos de pessoas que conheceram
aquele imigrante da Ilha do Pico no último quartet
do século XIX e que foi um dos primeiros imigrantes
portugueses a chegar à British Columbia. Joe
Silvey ao longo da sua vida, teve duas esposas índias
autóctones. Tentou, o melhor que soube, transmitir
aos seus filhos aspectos da sua cultura lusa.
Conversamos
com o nosso “comandante" como ouvimos chamar-lhe
vários portugueses sobreviventes da famosa aterragem
forçada feita por Robert
Piché
na Ilha da Terceira no inesquecível dia de Agosto.
- Teríamos percorrido os quilómetros
necessários para estarmos aqui presentes esta
noite com o nosso comandante, confessam-nos.
Ser-se capaz de aterrar em pleno centro da pista das
Lages, depois de ter planado vários minutos com
um boeing cheio de passageiros, fazer funcionar o vídeo
foi tarefa árdua e como o próprio comandante
comentou: Nem sempre as coisas funcionam como queremos.
Por fim a tecnologia lá teve dó e decidiu
colaborar e pudemos ver o vídeo que relata os
acontecimentos do dia fatídico. Todos queriam
falar com Robert Piché, autógrafos, flash
e mais flash para recordação dos álbuns
de família, algumas pessoas tinham as lágrimas
nos olhos pois estarão eternamente gratas pelo
simples facto de estarem vivas e ali presentes. Logo
de seguida procedeu à venda do seu livro "Hands
on Destiny" que também existe em francês.
Aquando a sua tradução em português?!
Para muito breve.
Domingo
o encontro abriu magistralmente com três oradores
natos que pautaram as suas comunicações
com intervenções dinâmicas, espontâneas
que o público muito apreciou, a julgar pelos
comentários e perguntas que se seguiram. O jornalista
José Mário Coelho, um madeirense que conhece
Portugal como as palmas das suas mãos, delegado
das Comunidades Madeirenses defendia, e muito bem, a
abertura das múltiplas associações
que existem para novas e justas tarefas em que todas
as faixas etárias seriam contempladas. Porque
não aproveitar os espaços das associações
já existentes para aí deixar as crianças
na companhia de pessoas portuguesas as quais poderiam
transmitir, não só a língua mas
também a cultura lusa, em vez de fazerem apelo
a "babysiters" estranhas? As associações
não são fábricas de fazer dinheiro,
mas estão vocacionadas para a promoção
de uma cultura que não se pode resumir aos "bailes
das maminhas". Há demasiadas associações,
porque não abrir uma Casa de Portugal, uma Casa
dos Açores e uma Casa da Madeira?
Seguiu-se
o Dr.
Luís Aguilar,
professor de Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas
na Universidade de Montreal, que defendeu com humor
e seriedade uma das pedras angulares do futuro das comunidades:
A
Língua Portuguesa na Galáxia das Línguas
do Mundo e no Ciberespaço, como
uma forma privilegiada de propagação da
cultura, deixando uma mensagem positiva e de esperança
sobre o futuro da nossa Magna Língua Portuguesa.
O
terceiro painelista, depois de hesitar se deveria falar
em Português ou Inglês, lançou-se
de corpo e alma em português numa intervenção
sobre os Judeus na Diáspora Portuguesa. O Dr.
Manuel de Azevedo, educado em Toronto vive actualmente
em Vancouver onde exerce a profissão de advogado
e ultimamente dedicou grande parte do seu tempo à
pesquisa da história dos Judeus portugueses espalhados
pelo mundo. Intervenção leve, séria
e carismática que nos fizeram pensar sobre a
nossa História e a importância dos Judeus
portugueses na época dos descobrimentos e na
importância que estes tiveram na construção
dos grandes impérios europeus, como o inglês
ou o holandês e a construção da
América do Norte.
A
intervenção bilingue do jovem senador
luso-descendente de Rhode Island, Estados Unidos da
América, Dan
da Ponte, constituiu
uma lufada de esperança no futuro que as jovens
gerações ocupam nos países para
onde os pais emigraram. A importância primordial
para uma carreira política de sucesso não
é ser-se apenas americano, mas sim conhecer a
língua e cultura portuguesas, a fim de, como
político, poder reflectir sobre os desejos e
necessidades da população emigrante portuguesa,
mas também dos países lusófonos
e de outras comunidades que se revêm nos indivíduos
que se preocupam com as especificidades das diferentes
comunidades.
O
Dr. Carlos Cordeiro, da Universidade
dos Açores,
abordou o tema: Os Primórdios da Emigração
Açoriana para o Canadá. Falou-nos
até ao mais pequeno detalhe da política,
de todo o processo administrativo e mesmo individual,
que precedeu a vinda dos emigrantes para o Canadá.
Tantos detalhes fizeram com que a comunicação
se prolongasse desmesuradamente e retirassem aos presentes
a sua capacidade de concentração.
Com
o Prof.
Vamberto Freitas
ficamos a conhecer a literatura feita por algumas mulheres
de origem portuguesa neste lado do oceano, como por
exemplo, Erika
Vasconcelos
no Quebeque e Catherine Vaz nos Estados Unidos. Embora
os escritos não sejam em português, a cultura
portuguesa é nas sua obras de uma importância
fulcral e o ser humano, considera Vamberto, está
para além de todas as culturas.
A
Dra. Humberta
Araújo,
acompanhada do seu filhote, apresentou-nos primeiro
um documentário interactivo sobre o tema Estórias
da Imigração no Feminino - Paraíso
para as Mulheres, Inferno para os Homens. A sua
comunicação foi bastante apreciada pelo
público, pois recheada de histórias, de
experiências reais, mais ou menos tristes ou divertidas
em que se revêem, afinal, muitos dos que a escutaram.
Depois seguiu-se a apresentação por Vamberto
de Freitas, do seu livro bilingue, para a infância
A Avó que não sabia ler e outras histórias
dos Açores, onde muitas histórias
tadicionais e, por vezes, esquecidas, podem ser transmitidas
às novas gerações de portuguesas.
O
senhor cônsul-geral
de Portugal em Toronto não
quis deixar de participar e, nesse sentido, referiu-se
à riqueza presente neste Encontro de lusitanos
e o Sítio Adiáspora.com, de toda a utilidade
para quem queira recolher informação sobre
as comunidades. Conversador nato e diplomata experimentado
nestas andanças, questiona Luís Aguilar
sobre várias questões de língua
portuguesa. Cremos que o responsável pelos Estudos
Portugueses da Universidade de Montreal, não
deixou de lhe apontar as economias de hífens
da página do seu consulado na Internet e que
provoca vários erros ortográficos como
Bem-vindo ou Consulado-geral e cônsul-geral, três
palavras que se grafam com hífen. De resto a
falta de hífen parece ser uma constante da diplomacia
portuguesa, já que desde a Secretaria
de Estado das Comunidades a uma grande
parte dos consulados, todos insistem no mesmo erro.
Se
os conferencistas tiveram uma importância fundamental
no sucesso deste segundo encontro, os artistas não
o tiveram menos. Os artistas plásticos estiveram
presentes ao longo dos dois dias que durou este encontro,
mostrando diversificados estilos, várias concepções
de representação da realidade e dos sonhos,
através da pintura. Hidelbrando Silva, Luís
Palaio, Gilberto Gírio e Isabel do Los pintores
já conhecidos em Toronto. Montreal foi representado,
e muito bem, por Mercês Resendes dos Reis uma
açoriana com fibra e cujos quadros podem transmitir
a ternura de um bebé, o tórrido calor
de África ou ainda um nu feminino sensual. E
como não poderia deixar de ser esteve presente
e uma das formas artísticas mais portuguesas:
o azulejo. A artista, Lídia Ribeiro, ofereceu-nos
uma bela amostra do seu trabalho com reproduções
de azulejos antigos ou originais. Um prazer para os
olhos. Esteve presente também uma exposição
de fotografias antigas de José Brum que, através
delas fez-nos viajar dezenas de anos pelo passado. Quanto
a nós estes excelentes artistas mereceriam maior
destaque, um tempo e um espaço mais calmo que
lhes permitisse partilhar ideias e sentimentos que as
suas obras suscitam. Como vai sendo hábito os
artistas ficam sempre para plano secundário face
aos políticos e universitários, o que
francamente, não se justifica. Também
o bar e o Clube de Fumadores no fim da sala (ritual
bastante frequente em acontecimentos lusitanos) criam
mal-estar e perturbam muitas vezes a audição
das intervenções.
Ficamos
sem perceber porque, num encontro que é também
de defesa da língua Portuguesa, se insiste em
comunicações em inglês de luso-descendentes
que nos espaços informais comunicam em bom português.
E
para que todo o evento fosse o sucesso que foi não
podemos de maneira nenhuma esquecer o pessoal menos
visível, mas não menos importante da Diaspora.com:
Adelina Pereira no secretariado e Relações
Públicas e todo o pessoal técnico.
|