Os Estudos Portugueses e Lusófonos da Universidade de
Montreal, em colaboração com o senhor cônsul-geral
de Portugal em Montreal, Fernando Demée de Brito, promoveram
uma sessão sobre a evolução ortográfica
da língua portuguesa, na quarta-feira, dia 2 de junho
de 2010, das 18h00 às 20h00, na sala multiusos do Consulado-Geral
de Portugal em Montreal, sessão animada por Luís
Aguilar, docente do Instituto Camões e professor convidado
da Universidade de Montreal e Lise Duquet, finalista do Curso
de Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas.
Luís Aguilar passou em revista as revisões ortográficas,
as tentativas de unificação da escrita, e os acordos
e desacordos que desde a instauração da República
até aos nossos dias se têm produzido. Por seu turno,
Lise Duquet, traçou um olhar estrangeiro sobre a nova
ortografia da língua de Camões, estabelecendo
um paralelismo com a nova ortografia da língua de Molière,
cujo último processo de revisão se iniciou no
mesmo ano do processo de revisão da língua portuguesa,
em 1990.
Esta sessão de duas horas,
a que se seguiu um Porto de honra, oferecido pelo cônsul-geral
de Portugal em Montreal começou pelo fim, dando Luís
Aguilar, desde logo, a sua opinião sobre o novo Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa, para depois
se centrar no essencial da questão: as mudanças
operadas na ortografia portuguesa ainda que escassas não
resolvem os sempiternos problemas que já em 1911, ficaram
por resolver e, se é verdade que o acordo não
atinge na totalidade o seu objetivo primeiro, o da unificação
ortográfica, unifica ainda assim 98,5% das palavras.
Sobre as querelas à volta das revisões ortográficas,
elas sempre existiram não só em relação
à língua portuguesa, mas relativamente a todas
as línguas. É sabido: as modificações
ortográficas, tocam emocionalmente todas as línguas
sempre que ocorrem modificações. De resto, foi
isso mesmo que Lise Duquet pôs em evidência: passa-se
o mesmo com o Francês, onde as batalhas são, porventura,
ainda mais acesas. Só que são resolvidas à
francesa, enquanto os lusitanos têm a sua maneira muito
própria de resolver os assuntos: à Viriato. Para
sustentar a sua opinião sobre as polémicas à
volta do acordo, Luís Aguilar citou o escritor angolano
Pepetela: estou um bocado farto do acordo. Eu sou contra
este acordo, mas sou ainda mais contra os que estão contra,
que me parece terem uma reação parecida com a
que existiu no século dezanove, relativamente ao francês.
É uma reação reacionária. Considerou
o docente do Instituto Camões que as dificuldades ou
até incorreções linguísticas que
ainda prevalecem podem ser corrigidas no futuro, o que aliás
sempre sucedeu em quase todas as línguas.
Com efeito, se é verdade
que a língua portuguesa é um património,
está bem longe de ser uma arca frigorífica ou,
muito menos, um fóssil, podia ler-se num slide projetado
na parede com a citação de Francisco Álvaro
Gomes. Estar contra ou a favor do acordo é algo de extemporâneo,
considerou o palestrante, citando desta feita Edwin B. Williams
que já em 1938 dizia: Com efeito, a questão
ortográfica é um dos capítulos mais atormentados
da história linguística portuguesa. Ao contrário
do espanhol, que nos fins do século XV encontrou em Nebrija
o seu codificador tanto da grafia como da gramática (...),
o português manteve até ao princípio do
século XX uma grafia tradicional inspirada em etimologias
um tanto arbitrárias.
O que importa agora são
os resultados positivos que se podem obter a partir do novo
AO, com particular importância no domínio da internacionalização
do Português e na promoção, difusão
e ensino da portuguesa língua que se até
aqui esteve baixa e sem louvor, culpa é dos que a mal
exercitaram - como diz António Ferreira
no século XVI - e não de qualquer revisão,
reforma ou acordo ortográfico. O mal provém mais
dos que insistem em dizer hades vir do que
a supressão do hífen em hás-de
(passará a grafar-se hás de). O
problema reside mais na utilização abusiva e inútil
de anglicismos como -email ou on line ou site
ou ainda mais absurdo newsletter e não
na permissão da grafia dupla ou na supressão da
consoante muda c, em correio eletrónico (ou
eletrônico).
Luís Aguilar que utiliza
já a nova ortografia no ensino da Língua Portuguesa,
de há dois anos para cá, diz não querer
lembrar-se dos empecilhos e dificuldades que sentia antes da
implementação do Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa, em que tinha de ensinar separadamente
aos estudantes que seguiam a norma lusitana, por um lado, e
os que seguiam o português do Brasil, por outro lado.
Referiu, ainda, o cariz essencialmente
político deste acordo que permitiu já avanços
nunca antes realizados.
Talvez não se tenham dado
conta, mas este texto foi redigido segundo as normas do novo
acordo ortográfico.