Não
nos podemos resignar.
Isso seria indigno do nosso passado, um desperdício
do nosso tempo e o adiar do nosso futuro.
Aníbal
Cavaco Silva
Reuniram-se
no Parque de Portugal, ainda assim a assinatura portuguesa
mais visível do Bairro Português, muito
poucos portugueses para celebrar o dia que lhes é
dedicado, a par de Camões e de Portugal. Poucos
mas bons - dir-se-à! Adiaram para
depois a sua presença, no espectáculo do
Rodrigo na Place des Arts, cuja entrada é gratuíta,
invocar-se-á.
Podem fazer-se
comparações com outras celebrações
se a esse trabalho se quiserem entregar: leiam a crónica
de Luís Aguilar Da
Comodidade Lusitana à Comunidade Portuguesa de
Montreal, com Saudades do Futuro.
Estilos diferentes,
pois! Formas de dizer, também! Cá por mim
gostei deste 10 de Junho handcraft, reunião
íntima fabricada com o coração na
mão. Retivemos o importante: a demonstração
de apreço e carinho dos presentes pelo dr. Carlos
Oliveira, que em breve partirá, para depois voltar
como embaixador do Canadá, facto anunciado sem
pompa mas com muita circunstância, pelo Comendador
Francisco Salvador. Assinalamos uma maior presença
de jovens, ou pelo menos outra raça de jovens e
que, parafraseando Saramago, vão pensando: - Que
faremos com estas comemorações.
Das palavras do dr. Carlos Oliveira
podemos fazer a síntese do seu cavalo de batalha,
nesta metrópole: para lá dos sucessos individuais,
a necessidade de transferir para o trabalho colectivo,
competências, recursos, talentos, vontade, entusiasmo.
Retivemos ainda as palavras
da Helen Fotopoulos que de uma forma entusiasta saudou
o Dia de Portugal como uma marca já não
só dos portugueses, mas de todos os montrealenses
que aos poucos vão conhecendo essas estranhas
e desvairadas gentes.
Os medalhados deste ano,
foram aqueles que geralmente são mais esquecidos
e, no entanto, aqueles a quem mais se recorre para pedir
ajuda. Instituições e por trás delas,
pessoas concretas, generosas, empenhadas, desta vez maioritariamente
mulheres que por obras valorosas se vão da lei
do tédio e da indiferença libertando, passe-se
a paráfrase do poeta do dia: Lucília Santos
do Carrefour des Jeunes Lusophones du Québec,
Jacinta Amâncio da Caixa Portuguesa Desjardin, Helena
Loureiro do restaurante Portus Calle, Carlos Ferreira
do restaurante Ferreira Café…
Quero esta crónica interactiva, intimista e partilhada
e, nesta óptica, por aqui me quedo, esperando os
vossos comentários, fotos, reflexões, respostas
para as perguntas colocadas, para que, aos poucos, a vá
tecendo.
Aproveitamos assim as potencialidades do jornalismo digital.
E, para isso, inspiremo-nos no texto do sociólogo
António Barreto que se o lêssemos e, mais
do que isso, se do seu conteúdo fizéssemos
a nossa linha de conduta, outro galo cantaria.
Discurso
de António Barreto no dia 10 de Junho
Mais
do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo
dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus
heróis, mas também dos seus dirigentes.
Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar
os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira
preocupação deveria ser a de divulgar o
seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para
quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades,
cujo "ethos" deveria ser o de servir.
Dê-se
o exemplo e esse gesto será fértil! Não
vale a pena, para usar uma frase feita, dar "sinais
de esperança" ou "mensagens de confiança".
Quem assim age, tem apenas a fórmula e a retórica.
Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível,
e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo
de honestidade e verdade, e a corrupção
diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento
humano e justo e a crispação reduzir-se-á.
Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança
e de investimento e a economia sentirá os seus
efeitos.
Políticos,
empresários, sindicalistas e funcionários:
tenham consciência de que, em tempos de excesso
de informação e de propaganda, as vossas
palavras são cada vez mais vazias e inúteis
e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo.
Se tiverem consideração por quem trabalha,
poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros,
serão respeitados, mesmo em tempos difíceis.
Em
momentos de crise económica, de abaixamento dos
critérios morais no exercício de funções
empresariais ou políticas, o bom exemplo pode ser
a chave, não para as soluções milagrosas,
mas para o esforço de recuperação
do país.