Nesta
viagem virtual, convidamo-lo(a) a visitar a República
da Guiné-Bissau, um dos oito países que integram
a
CPLP (Comunidade dos Países de Língua Oficial
Portuguesa). Localizada na costa Noroeste do continente
africano, a Guiné-Bissau tem sensivelmente a mesma
superfície que a Bélgica, sendo duas vezes e
meia inferior, em tamanho, a Portugal (ver
quadro comparativo). Tem fronteiras a Norte com o Senegal,
a Leste e Sudeste com a Guiné-Conacri e a Sul e Oeste
é banhada pelo Oceano Atlântico. Além
do território continental, o país conta com
o arquipélago
dos Bijagós constituído por mais de oitenta
ilhas.
Com a chegada do navegador português Álvaro
Fernandes, no ano de 1446, às costas do território
hoje conhecido como Guiné-Bissau,
os portugueses foram os primeiros europeus a explorar essa
região africana que já era habitada por vários
povos indígenas: balantas, fulas, manjacos, felupes,
mandingas, papéis, etc. Até ao século
XVII, a quase totalidade do território da Guiné-Bissau
integrava o reino de Gabú que, por sua vez, pertencia
ao legendário Império
do Mali, dos mandingas, que florescera a partir de 1235.
Os portugueses começaram a colonizar a costa e os rios
só a partir de 1558, com a fundação da
vila de Cacheu.
O interior só foi explorado a partir do século
XIX. A colónia portuguesa nomeada Capitania-Geral da
Guiné Portuguesa no século XVII, passou a ser
considerada como província ultramarina portuguesa,
com o nome de Guiné Portuguesa no Estado Novo de Salazar
que, a partir de 1963 teve que enfrentar a guerrilha
conduzida pelo PAIGC,
Partido Africano para a Independência da Guiné
e Cabo Verde, fundado e liderado pelo legendário Amílcar
Cabral que impôs significativas derrotas ao exército
português, que conduziram à declaração
unilateral da independência, ainda antes da Revolução
dos Cravos em 1974. Com efeito, em 24 de Setembro de 1973,
o PAIGC com a forte ajuda militar da então União
Soviética declara a independência em Madina do
Boé, sendo Luís Cabral nomeado o primeiro Presidente
da República, já que meses antes, a 20 de Janeiro
desse mesmo ano, Amilcar Cabral tinha sido assassinado em
Conacry. Amílcar Cabral acabaria por tornar-se o herói
da Independência e a grande referência da construção
do novo país africano. A Guiné-Bissau, juntamente
com Cabo Verde, foi a primeira colónia portuguesa em
África a ter a independência reconhecida por
Portugal, em 10 de Setembro de 1974. Celebremos o momento
ouvindo o actual Hino
Nacional da Guiné-Bissau e apreciemos a sua
letra da autoria do fundador da nação guineense,
Amilcar Cabral, sob fundo musical do chinês Xiao He.
Luís Cabral assumiu a presidência do país
em 1974. O governo de Cabral herdou um país devastado
pela guerra da Independência e as dificuldades que teve
de enfrentar favoreceram a criação de um regime
de orientação marxista, liderado pelo PAIGC,
o único partido legal. Viria a ser deposto por um golpe
de estado, sem derramamento de sangue, que instaurou uma ditadura
militar chefiada pelo general João
Bernardo “Nino” Vieira, em Novembro de 1980,
que no essencial se opôs à continuação
da fusão da Guiné com Cabo Verde. Cerca de vinte
anos mais tarde, em 1998, uma revolta armada deu lugar a uma
guerra civil sangrenta que culminou em Janeiro de 2000, com
a ascensão ao poder de Kumba Ialá. Este novo
presidente da República, viria, por seu turno a sucumbir
durante o levantamento militar sangrento de 14 de Setembro
de 2003. O presidente actual é Nino Vieira, que voltou
do exílio para concorrer às eleições
presidenciais que venceu com 52,35% dos votos, derrotando
oficialmente o candidato Malam Bacai Sanhá na segunda
volta. Sanhá, ex-presidente interino, foi apoiado pelo
antigo partido de Vieira, o PAIGC.
A Guiné-Bissau divide-se em oito
regiões administrativas: Bafatá, Biombo,
Bolama, Cacheu,
Gabú, Oio, Quinara e Tombali, sendo Bissau a capital
do país. As cidades mais importantes são Bafatá,
Gabú, Mansoa, Catió, Cantchungo e Farim. A população
distribui-se pelos vários grupos
étnicos supra mencionados.
A economia
do país baseia-se principalmente na agricultura, nomeadamente
pelo cultivo de castanha-de-caju,
milho, amendoim e arroz. O sector da pesca assume significativa
importância na economia do país, que se bate
pela autosubsistência, mas os estragos causados pela
guerra, pelas ditaduras e erros cometidos no passado, dificultam
bastante a tarefa.
O
clima é de tipo tropical com duas estações:
a época seca de Novembro a Abril, e outra, de chuvas,
de Maio a Outubro. A Guiné-bissau é um país
plano, com floresta tropical e uma grande reserva de água,
sobretudo a que provém dos rios Cacheu, Geba e Corubal
que percorrem o interior. Apesar do seu tamanho reduzido,
tem muitas praias de rara beleza, como as que se podem encontrar
nas ilhas do Arquipélago
dos Bijagós, classificadas pela UNESCO
como reserva ecológica biosférica e na região
do Cacheu, nas
praias de Varela, e na zona sul Cussilinta, Saltinho, etc.
As maiores ilhas do Arquipélago são Caravela,
Formosa, Galinhas, Maio, Orango, Ponta e Roxas, com distintos
micro-climas e fauna e flora ainda por descobrir. Entre os
animais selvagens que existem na Guiné-Bissau, encontram-se
os hipopótamos, babuínos, antílopes,
leopardos e leões.
O
Português é a língua
oficial da República da Guiné-Bissau, mas
o número de falantes atinge pouco mais de 10%. No entanto,
cerca de metade
da população fala crioulos de base lexical portuguesa.
Tendo em conta a situação precária da
língua portuguesa na Guiné–Bissau, o
Instituto Camões tem estabelecido vários
planos de acção para o ensino, difusão
e promoção da língua de Pessoa e Camões
neste país africano, que se traduz no envio de professores
no apoio logístico e remessas de material didáctico.
Não é sem risco e espírito de missão
e aventura que os docentes desenvolvem no país a sua
prática pedagógica como narra a professora Arlinda
Mártires nos três anos que aí leccionou.
A
nível cultural, apesar da Guiné-Bissau ser um
país muito jovem e irrelevante do ponto de vista artístico
e cultural, podem identificar-se alguns criadores, no campo
da pintura, música,
cinema,
literatura
e poesia: a cantora Eneida
Marta, o cantor Zé
Manel, os poetas e escritores Carlos-Edmilson
Vieira, Tony Tcheka, Félix Sigá, Helder
Proença, Amílcar, Vasco Cabralos, António
Baticã Ferreira e Odete
Semedo, o pintor Augusto
Trigo, entre muitos outros, que já ultrapassaram
as fronteiras nacionais. É de salientar prometedores
e potenciais valores culturais, tanto no
domínio musical, nomeadamente os seus ritmos
e instrumentos tradicionais, como no das artes
visuais e literatura.
E
é de notar a presença musical da Guiné-Bissau,
aqui em Montreal, pelas vozes e a arte do conjunto El KadySamy
e de Lillison Di Kanara.
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