Textos
exemplificativos de dissertação:
Meus caros companheiros,
Tomei uma decisão importante: não vou redigir nenhuma
dissertação porque não tem valor algum para
mim. Sei que essa atitude poderá ser mal interpretada e
provocar represálias. Estou certo, porém, que vocês
irão compreender-me quando analisarem as minhas razões.
Como sabem, sou péssimo aluno - candidato certo à
reprovação. Não será, portanto, a
falta desse exercício que irá reprovar-me. Por outro
lado, tais subtilezas não se coadunam com o meu tipo de
inteligência.
Não me venham dizer que o exercício será
útil para a minha formação. Suponhamos que
eu faço a dissertação. Que significado terá?
Nenhum, pois irei fazer uma redacção que nada representará
para mim.
Dirão vocês: “Se não fizer a dissertação,
nós seremos prejudicados e, por isso, ajustaremos contas.”
Ora, todos sabemos que cada qual deve assumir a responsabilidade
dos seus actos. Com duas palavras provo isso ao professor e, portanto,
o grupo não será prejudicado.
Em suma, como já estou reprovado, como não vou fazer
uso desse conhecimento, como não quero perder tempo com
trabalho fora do meu alcance, que, de resto , não será
útil para a minha formação, como ninguém
ficará prejudicado com tal atitude, não vou escrever
a dissertação, que não tem valor algum para
mim.
Wladimir Oliveira, Português em Dinâmica de Grupo
EÇA DE QUEIRÓS
In A Correspondência de Fradique Mendes
Um homem só deve falar, com impecável segurança
e pureza, a língua da sua terra: - todas as outras as deve
falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso
que denuncia logo o estrangeiro. Na língua verdadeiramente
reside a nacionalidade; e quem for possuindo com crescente perfeição
os idiomas da Europa vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização.
Não há já para ele o especial e exclusivo
encanto da «fala materna» com as suas influências
afectivas, que o envolvem, o isolam das outras raças; e
o cosmopolitismo do verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo
do carácter. Por isso o poliglota nunca é patriota.
Com cada idioma alheio que assimila, introduzem-se-lhe no organismo
moral modos alheios de pensar, modos alheios de sentir. O seu
patriotismo desaparece, diluído em estrangeirismo. «Rue
de Rivoli», «Calle d’Alcalá», «Regent
Street», «Willhelm Strasse» - que lhe importa?
Todas são ruas, de pedra ou de macadame. Em todas a fala
ambiente lhe oferece um elemento natural e congénere onde
o seu espírito se move livremente, espontaneamente, sem
hesitações, sem atritos. E como pelo verbo, que
é o instrumento essencial da fusão humana, se pode
fundir com todas – em todas sente e aceita uma pátria.
Por outro lado, o esforço contínuo de um homem para
se exprimir, com genuína e exacta propriedade de construção
e de acento, em idiomas estranhos – isto é, o esforço
para se confundir com gentes estranhas no que elas têm de
essencialmente característico, o verbo - apaga nele toda
a individualidade nativa. Ao fim de anos esse habilidoso, que
chegou a falar absolutamente bem outras línguas além
da sua, perdeu toda a originalidade de espírito - porque
as suas ideias forçosamente devem ter a natureza incaracterística
e neutra adaptadas às línguas mais opostas em carácter
e génio. Devem, de facto, ser como aqueles «corpos
de pobre» de que tão tristemente fala o povo –
«que cabem bem na roupa de toda a gente».
Além disso, o propósito de pronunciar com perfeição
línguas estrangeiras constitui uma lamentável sabujice
com o estrangeiro. Há aí, diante dele, como o desejo
servil de «não sermos nós mesmos», de
nos fundirmos nele, no que ele tem de mais seu, de mais próprio,
o vocábulo. Ora isto é uma abdicação
de dignidade nacional. Não, minha senhora! Falemos nobremente
mal, patrioticamente mal, as línguas dos outros! Mesmo
porque aos estrangeiros o poliglota só inspira desconfiança,
como ser que não tem raízes, nem lar estável
– ser que rola através das nacionalidades alheias,
sucessivamente se disfarça nelas, e tenta uma instalação
de vida em todas porque não é tolerado por nenhuma.
Com efeito, se a minha amiga percorrer a «Gazeta dos Tribunais»,
verá que o perfeito poliglotismo é um instrumento
de alta «escroquerie».
DISSERTAÇÃO
O BEM OU MAL FALAR AS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
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