A Cidade
sem Idade
Por
Julie Champagne |
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A cidade de Óbidos é
uma verdadeira jóia escondida dentro de numa muralha que tive
a oportunidade de descobrir há três anos durante uma viagem
a Portugal. Uma cidade tranquila onde o tempo parou. Uma cidade cuja
riqueza reside na sua história cativante e também nos
seus habitantes típicos de um Portugal digno e corajoso.
O nome de Óbidos vem da palavra latina «oppidum»
que quer dizer cidade fortificada, nome que remonta ao século
I. Não é só de hoje que a cidade protege os seus
tesouros e os seus habitantes por detrás de uma muralha. Ao visitar
Óbidos, pode-se andar na muralha, de onde se vê uma cidade
encantadora. É um bom sítio para fazer uma viagem imaginária
ao passado de Óbidos e para pintar com os olhos a beleza e a
riqueza da cidade em várias épocas, como a da ocupação
pelos romanos, do século I ao século V, que deixou algumas
ruínas de edifícios religiosos e políticos. Os
árabes que viriam depois, no século VIII ao século
XII, edificaram o castelo majestoso que ainda hoje podemos ver e visitar.
A cidade adquiriu a sua verdadeira identidade portuguesa quando, em
1148 as tropas de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, conseguiram
arrancar Óbidos às mãos dos Mouros, para integrá-la
no novo país que se estava desenhando.
Foi nesta altura que Óbidos começou a sua epopeia pelo
reino de Portugal. Cerca de 1210, a cidade-jóia foi oferecida
à rainha D. Urraca por D. Afonso II. Era a primeira de muitas
doações feitas às rainhas de Portugal. Uma prenda
inesquecível, não é?
Debaixo da asa do regime real, Óbidos desenvolveu-se pouco a
pouco. Construíram-se e restauraram-se o castelo, um aqueduto,
hospitais, igrejas, conventos, e muito mais. Artistas talentosos, pintores
e escultores, estabeleceram-se e trabalharam em Óbidos. Algumas
cadeiras foram instituídas para o ensino das matemáticas
e da teologia moral. Então a cidade, passo a passo, como uma
criança, cresceu e adquiriu uma maturidade artística e
intelectual que hoje inspira respeito aos que a visitam.
A par da sua beleza misteriosa, pode-se admirar as suas cicatrizes como
se admiram as rugas de uma linda avó cheia de ternura. Durante
o terramoto de 1755, várias casas ficaram arrasadas mas, graças
a Deus, ninguém morreu em Óbidos. A pequena comunidade
orgulhosa reconstruiu tudo o que podia. Depois, no início do
século XIX, os franceses invadiram Óbidos e, infelizmente,
roubaram muitos tesouros de prata e de ouro que embelezavam a cidade.
Se tudo isto não é suficiente para convencê-los
que Óbidos é uma cidade maravilhosa e também única
que vale a pena fazer-se um desvio, tenho outro argumento melhor. Todos
os anos, no mês de Novembro, há um Festival Internacional
de Chocolate: doces que derretem na boca como suspiros no ar.