DISCURSO DO PRESIDENTE DO GOVERNO REGIONAL
NA SESSÃO DE ENCERAMENTO
DAS II JORNADAS “EMIGRAÇÃO/COMUNIDADES”

Ponta Delgada, 8 de Janeiro de 2004

Senhora Directora Regional das Comunidades
Senhores Deputados Europeus
Senhores Cônsules dos EUA e do Brasil
Estimadas Amigas e Amigos

Começo, naturalmente, por saudar todos os que participaram nestas II Jornadas “Emigração/Comunidades” – vindos dos EUA, do Canadá, do Brasil, do Continente e das nossas Ilhas – agradecendo-lhes tendo em conta o resultado das conclusões lidas, o empenhamento, o rigor e a paixão que revelaram nestes dias de trabalho, nos quais, mais uma vez, os Açores foram tratados em toda a sua dimensão de pluralidade cultural, territorial e geracional.

Esta foi mais uma ocasião para o fazer, mas, felizmente, foi uma entre as múltiplas iniciativas que temos desenvolvido nos últimos anos, numa relação de extraordinária proximidade entre o governo regional e outras instituições sediadas na Região e os nossos concidadãos ou seus representantes que integram as nossas comunidades no exterior.

A grande aceitação e as apreciações positivas que frequentemente nos são transmitidas em relação a esse nosso esforço de proximidade e de acção, têm muito a ver com este trabalho partilhado, crítico e promotor, que é feito com uma colaboração muito alargada.

Com as limitações de uma Região ainda frágil como a nossa, afectamos, hoje, nos nossos apoios às comunidades açorianas dispersas pelo Mundo, uma importante parcela das nossas preocupações e dos nossos recursos. Iniciativas, como a destas Jornadas, permitem-nos alcançar outros níveis de proficiência, auscultando sensibilidades, revendo procedimentos, reacertando prioridades, detectando problemas e aspirações, envolvendo mais pessoas e mais competências, consensualizando linhas de política, qualificando a acção da Direcção Regional das Comunidades, ou, num objectivo síntese, apreendendo o que outros, no exterior, naturalmente aprenderam.

Já todos sabemos a terra que fomos e algumas razões daquilo que hoje somos. Promissor espaço de chegada de nacionais e estrangeiros que participaram no seu povoamento, o nosso arquipélago depressa se transformou num importante ponto de partida de gente que irá participar na construção de novos domínios do ultramar português e de outros espaços, com destaque, naturalmente, para o grande Mundo Atlântico. Com uma sabedoria experimentada em aventuras e ousadias e em deslumbramento perante o nunca dantes visto, mas também em capacidades de sofrimento e de imaginação, persistência e muita fé, argúcias e desembaraços e, ainda, desdém pelos imprevistos, os açorianos foram desde cedo, muito cedo, aprendendo o sentido da agora muito invocada globalização, integrando a escassa terra deste arquipélago da lonjura, na relativa grandeza dos longínquos continentes; adquirindo a diversidade como bem, a dissemelhança como riqueza, o distinto como tesouro, a língua como utilidade, a cultura como honra e as origens como virtude.

Historicamente, os Açores são um lugar de encontro, situado no cruzamento das rotas marítimas, aéreas e das comunicações. A nossa privilegiada situação geográfica conferiu-nos, sem dúvida alguma, um importante valor geopolítico e geoestratégico que se tem vindo a constatar desde o século XV até aos nossos dias e que, desde então – nunca será demais sublinhá-lo – deu a Portugal a sua projecção atlântica. Fomos – e somos – uma região ultraperiférica europeia, centrica na relação transatlântica, indispensável nas projecções continentais. Não só por tais razões, mas muito por elas, fomos – ainda somos – um espaço de dispersões, edificado por partidas e por chegadas. Daí que os Açores não possam ser construídos apenas dentro das suas fronteiras de Região Autónoma, nem tão pouco dentro das fronteiras da Nação Portuguesa, de onde que os Açores tenham também que ser construídos nos espaços onde milhares de açorianos se radicaram. E daí que a açorianidade, na sua expressão extraterritorial, como já por diversas vezes afirmámos, seja feita de sobrevivências, de fruições e de inovações culturais, de elos comunicacionais, de experiências associativas, de referências de solidariedades comunitárias e geracionais, da língua comum e da distância que nos recorda como um conjunto repartido.

As conclusões de mais esta Jornadas ilustram bem como os Açores, nos domínios da perenidade do seu registo identitário, particularmente para além das vivências nas ilhas que os configuram administrativamente, estão perante desafios progressivamente novos que emergem da realidade antiga das suas correntes tradicionais emigratórias. Dito de outra forma, a diminuição drástica dos nossos fluxos emigratórios determina cada vez mais, por natureza, que os sujeitos activos de transmissão dos legados culturais e comunicacionais sejam, em cada vez menor número, gente nascida nas nossas ilhas.

Quer dizer que os nossos esforços não podem deixar de ser dirigidos para as nossas gerações e que as nossas tradições não podem deixar de ser reconhecidas no seu revestimento inovador. Não é nada que nos deva preocupar – pelo contrário, é algo que nos deve estimular. Na verdade, também as ilhas em que os pais e os avós dessas novas gerações nasceram são hoje, felizmente, muito diferentes do que eram nessas épocas.

O desafio é, pois, o de comunicar, com o sentido da História e das Raízes, mas, sem dúvida, com o sentido da contemporaneidade do que são os Açores e dos países de acolhimento, agora e no futuro.

É esse caminho que queremos seguir e trilhar convosco. O reconhecimento do passado não é uma moda – é uma necessidade dos tempos que correm. São tempos em que, as regiões, as culturas e os indivíduos travam uma batalha de enorme valor para a democracia, para a liberdade e para a pluralidade – a batalha da diferença na universalidade.

Porque somos poucos neste mundo grande que se tem tornado demasiado pequeno, somos também soldados dessa batalha, se continuarmos a cuidar do que fomos, do que somos e do que queremos ser.

É isso que nos prende, de Jornadas em Jornadas...

Muito obrigado pelo vosso empenhamento.

O PRESIDENTE DO GOVERNO REGIONAL DOS AÇORES
CARLOS MANUEL MARTINS DO VALE CÉSAR