LUSOFONIA: OS NOVOS MUNDOS DO MUNDO
Pesquisa Orientada na Rede
por Luís Aguilar



Resposta à Questão 28
A Lusofonia pode ser entendida no contexto do Quinto Império, conjugando o sonho utópico com um projeto cultural mais orientado para o poder espiritual do que para o poder temporal?

O QUINTO IMPÉRIO:

É tendo em conta os quatro mundos do mundo lusófono, que poderemos (i)limitar a Lusofonia, no contexto do Quinto Império, traduzindo este a visão sobre as relações de amizade e de enriquecimento cultural entre os vários interlocutores do universo lusófono, profetizado por Bandarra, mais tarde desenvolvido por António Vieira e, mais recentemente, tema de eleição de Fernando Pessoa: Restaurar a criança em nós, e em nós a coroarmos imperador, eis aí o primeiro passo para a formação do Império (…), este Quinto Império de que falamos... Antes, porém sigamos o conselho do poeta moçambicano Luís Carlos Patraquim: o resto são “as malhas que o império tece” Rasguemo-las de vez. Em merengue de samba com chigubo e fado, tudo a marinar em morna de sonhar, na madrugada que desponta. Há de despontar.

Estamos bem acompanhados na defesa de uma Lusofonia no quadro da ideia do V Império.

Agostinho da Silva que defendeu, numa entrevista histórica dada ao Programa Zip-Zip da RTP, em 25 de Agosto de 1969- bastante vigiado pela polícia fascista portuguesa -, numa altura em que Portugal detinha o poder colonial nos países hoje independentes, que o mesmo: abrange naturalmente não só este território Português, mas também o Brasil, outros territórios pelo mundo e, provavelmente no futuro, porque há a possibilidade de expansão dessa cultura portuguesa, provavelmente outras nações terão todo o interesse em entrar connosco nalguma espécie de colaboração que terá por base, e por instrumento de trabalho, essa mesma Língua Portuguesa... (…). E especifica: Deveremos promover uma cultura geral pluriforme, em que estejam nítidas, bem marcadas, todas as especificidades de cada uma das culturas dos diferentes países, e dentro desses países, as culturas das suas religiões, e dentro das religiões as culturas individuais de cada homem.

Entendemos o espaço lusófono neste contexto de materialização da ideia do V Império (paradoxalmente anti-Império), tal como o definiu, igualmente, o Padre António Vieira: Império da Terra e na Terra (…) espiritual no governo, espiritual no uso, nas expressões e no exercício (…) Em qualquer tempo futuro será sempre espiritual. Cerca de trezentos anos depois, Fernando Pessoa, prossegue a ideia do Imperador da Língua Portuguesa, retirando-lhe a essência religiosa e adicionando-lhe a vertente cultural: Não há separação essencial entre os povos que falam a língua portuguesa. Embora Portugal e o Brasil sejam politicamente nações diferentes, contêm, por sistema, uma direcção imperial comum, a que é mister que obedeçam. (…) Acima da ideia do Império Português, subordinado ao espírito definido pela língua portuguesa, não há fórmula política nem ideia religiosa (…) Condições imediatas do Império da Cultura é uma língua apta para isso, rica, gramaticalmente completa, fortemente nacional. Um pouco antes de Pessoa, em 1902, o brasileiro Sílvio Romero pregava aos peixes: - Sim, meus senhores: Não é isto uma utopia, nem é um sonho a aliança do Brasil e Portugal, como não será um delírio ver no futuro o Império Português de África unido ao Império Português da América, estimulado pelo espírito da pequena terra de Europa que foi berço de ambos.

Mais do que qualquer outro povo ou país colonizador, Portugal deixou marcas tão significativas da sua presença nos quatro cantos do mundo e são inúmeros os povos africanos e asiáticos que testemunharam a chegada dos primeiros europeus às suas terras, realidade que contrasta com a insignificante influência de Portugal na cena internacional e mesmo nas vagas hipóteses de liderança deste movimento emergente e ainda esotérico e confuso que é a Lusofonia, porto de abrigo de líricos, oportunistas, desesperados e outras estranhas gentes que contribuem involuntariamente, cremos, para uma evaporação da esfera de projecção de Portugal e, consequentemente, da língua e cultura portuguesas. Quero eu dizer na minha que Portugal será hoje pouca coisa fora do quadro da Lusofonia. Mesmo para a sua plena integração na Europa, deve definir-se como país integrado num amplo universo de povos e regiões que lhe lembram a sua grandeza passada mas, sobretudo, a sua posição promissora futura.

Produto do Império Português, a Lusofonia é hoje um movimento pequeno, se comparado com a imensidão dos sonhos que lhe deram origem. Mas hoje há que entender a Lusofonia não como uma herança, como teimam os portugueses em considerá-la, nem como uma oportunidade de negócio futuro, como a veem os brasileiros, nem como um trauma neocolonialista que dispensa os colonos, como a entendem os africanos, mas como um desafio que se deseja partilhado, uma construção e invenção ( e não invasão) de vários mundos no mundo lusófono que falam do interior deles próprios, recebendo, simultaneamente, influências das áreas geográficas e culturais onde a língua portuguesa é falada ou como sugere Celso Cunha: uma república do português sem capital demarcada. Não está em Lisboa, nem em Coimbra, não está em Brasília, nem no Rio de Janeiro. A capital da língua portuguesa está onde estiver o meridiano da cultura.

E não esperam os poetas africanos que Portugal de desclaustrofobe para inventarem agoras, como o faz o fez o escritor moçambicano José Craveirinha no I Congresso das Comunidades Lusófonas, que decorreu na Fundação de Serralves, no Porto: Agora, é preciso dar corpo ao que se disse sobre o valor e a urgência de aplicar um novo conceito aos países lusófonos; isso passa por uma aproximação sem preconceitos, a todos os níveis e um novo diálogo a travar com Portugal. Nesta ótica da reciprocidade, a Lusofonia aborda-se, então, como espaço de circulação pelos cinco continentes desde que os portugueses aceitem sem reservas que a sua língua também se fala, e bem, no Brasil, considera Ivo Castro que sugere que em caso de dúvidas, basta pensar que Camões, com muita probabilidade, se sentiria mais à vontade a conversar com Vinicius de Morais do que com Fernando Pessoa. E que os brasileiros não façam muitas querelas inúteis sobre os acordos ortográficos que, embora secundários tanto para o desenvolvimento da língua como para a realização da Lusofonia não deixam de criar alguns problemas irritantes como este que nos relata Domingos de Souza que disse que, quando os livros e materiais didáticos brasileiros começaram a chegar a Timor, os professores pensavam que havia erros. Com efeito, a ortografia que vai vigorar em Timor depende da influência que cada um dos países de Língua Portuguesa exercerá na área da educação. Para já, em princípio, todos os países seguem a norma do português europeu à exceção, naturalmente, do Brasil.

Mais Informação: V Império ( Caça ao Tesouro)