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Em
que medida se pode pressupor que a língua é
o primeiro passo para a consolidação e afirmação
do espaço da lusofonia?
Tendo em conta
os vários significados que encerra o conceito de Lusofonia
que acabámos de referir, podemos, desde logo, afirmar
que a língua é o primeiro passo para a consolidação
e afirmação do espaço lusófono,
sendo o seu denominador comum, capaz de unir e criar afinidades
entre os povos. A Língua Portuguesa é o elemento
principal, o critério de base, para definir o espaço
lusófono no mundo, para consolidá-lo e afirmá-lo
como um vínculo histórico e patrimonial comum
aos oito países que constituem a Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP). O espaço lusófono
abrange os cinco continentes e, por isso mesmo, está
sujeito a ter uma grande diversidade (racial, religiosa, política,
de costumes, etc.). Um só elemento une esse espaço:
a Língua Portuguesa, língua de oito pátrias.
Mas se a língua portuguesa comum é o primeiro
passo para se conceber o espaço lusófono, esse
fator de unidade fundamental, a nível mundial, encontra
entraves vários, já que, a Língua Portuguesa
não tem, na construção da Lusofonia, o
mesmo estatuto e importância em todos os países
lusófonos. Com efeito, esbarramos com uma realidade incontornável:
apenas em Portugal (com 96 % da sua população),
no Brasil (com 86 %) e em Angola (60%) o Português é
falado pela maioria da sua população, como língua
materna.
Quanto aos países africanos lusófonos, o Português,
sendo a sua língua oficial, não é na maioria
das populações mais do que a sua língua
segunda ou língua de ensino. Na Guiné-Bissau,
em Cabo Verde, em São Tomé e Príncipe e
em Timor falam-se, dominantemente, as várias línguas
nacionais e ou os crioulos de base lexical portuguesa. Em Angola
e Moçambique a situação linguística
é diferente.
Ainda que a Magna
Língua Portuguesa seja, para alguns de nós, a
língua mais bonita do planeta e que nos orgulhamos de
nela nos podermos exprimir, temos consciência de que o
Português não tem a mesma popularidade que o Espanhol,
o Alemão, o Francês ou mesmo o Italiano, para não
falar, evidentemente na hiper-centralização do
Inglês. À medida que nos fomos conhecendo mutuamente
na cadeira de Lusofonia, impressionamo-nos com o que fomos descobrindo
pelos mares tumultuosos da Lusofonia e, no caminho, mudámos
a conceção que tínhamos da Língua
Portuguesa e dos múltiplos espaços onde ela se
fala. Apercebemo-nos que o mundo lusófono não
se limita a Portugal e ao Brasil e que, neste país-continente,
não se fala brasileiro, como aqui no Quebeque, mesmo
pessoas cultas supõem. Sim, porque os mais ignorantes
(onde se podem incluir alguns universitários e figuras
de proa da cultura quebequense) pensam que, no Brasil, se fala
Espanhol. Temos agora uma maior consciência do significativo
papel que uma língua pode ter, na união e aproximação
dos povos que a falam, apesar das diferenças raciais,
religiosas, políticas e étnicas. Apercebemo-nos,
nos vários debates em que participámos - onde
intervieram indivíduos de vários países
lusófonos - das diferenças abissais - no duplo
sentido do termo (enorme e misterioso) - que, Portugal tem com
cada uma das suas antigas colónias. Do extremo azedume
que angolanos e portugueses, atualmente, nutrem entre si, à
ternura e afeto que portugueses e timorenses partilham, muitas
são as questões problemáticas da Lusofonia,
que, neste texto, vamos analisar ainda que, de forma necessariamente
sucinta e fatalmente incompleta.
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