Fabrica o
seu próprio chão, inventa a sua própria
água,
repete dia-a-dia a criação do mundo.
José
Saramago
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Ilhas perdidas
no meio do mar esquecidas
num canto do Mundo...
que as ondas embalam,
maltratam, abraçam...
Jorge
Barbosa |
Nesta
viagem virtual, convidamo-lo(a) a visitar a República de Cabo
Verde, um dos oito países que integram a
CPLP (Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa). Cabo Verde é um arquipélago,
constituído por dez ilhas espalhadas pelo Oceano Atlântico,
situadas a mais de quinhentos quilómetros do cabo que
lhe deu o nome, no Senegal, tendo como vizinhos a Mauritânia,
a Gâmbia e a Guiné-Bissau, todos na faixa costeira ocidental
deÁfrica, estendendo-se do Cabo Branco às ilhas Bijagós. As
10 ilhas, das quais 9 habitadas e vários ilhéus inhabitados,
repartem-se por dois grupos: a Norte as ilhas de Barlavento:
Santo
Antão, São
Vicente, Santa
Luzia (inhabitada), São
Nicolau,
Sal e Boa
Vista,
e ainda os ilhéus desabitados
( Branco e Razo, situados entre Santa Luzia e São Nicolau,
Pássaros, em frente à cidade de Mindelo, na ilha de São Vicente,
Rabo de Junco, na costa da ilha do Sal, Sal Rei e Baluarte,
na costa da ilha de Boa Vista. Ao grupo Sotavento, a Sul pertencem
as ilhas de Maio, Santiago, Fogo
e Brava
e ainda o ilhéu
de Santa Maria, em frente à cidade da Praia, a capital, na
Ilha de Santiago, os ilhéus Grande, Rombo, Baixo, de Cima,
do Rei, Luiz Carneiro, Sapado, situados a cerca de 8 km da
ilha Brava e o ilhéu da Areia, junto à costa dessa mesma ilha.
O Clima é tropical seco, com a média
de temperatura anual a rondar os 25º graus, com duas estações,
a das chuvas, de Agosto a Outubro e a estação
seca, de Dezembro a Junho. A chuva é irregular e não são raros
os anos de seca. Dado situar-se na zona sudano-saheliana,
o arquipélago de Cabo Verde é muito afectado pelos ventos
que sopram do grande deserto continental. A ‘bruma’, poeira
atmosférica trazida pelo vento, é inesperada e de duração
variável.
Sabe-se que anteriormente à
descoberta oficial pelos portugueses já por ali tinham
andado, atraídos pela extracção do Sal,
os africanos da orla costeira e geógrafos e cartógrafos
árabes, que haviam assinalado em diversos mapas, realizados
décadas antes duas das ilhas do arquipélago.
As ilhas de Cabo Verde foram
descobertas, cinco delas, em 1460, por
Diogo
Gomes e Antonio
Noli, enquanto as restantes teriam
sido achadas por
Diogo Afonso em 1462. Quando
as ilhas foram descobertas estavam virgens e inhabitadas.
Santiago e Fogo foram as ilhas mais propícias ao povoamento,
que teve o seu início logo em 1462, desenvolvido pelo
sistema de capitanias
hereditárias.
Desde logo se iniciou
o transporte de escravos da costa de África para as plantações
de algodão, árvores de fruto e cana-de-açúcar na ilha de Santiago,
onde foi fundada a cidade de Ribeira Grande, que viria a tornar-se num
importante local de comércio
de escravos, comércio rentável,
que tristemente se prolongou por mais de três séculos. Com
o objectivo de fazer do arquipélago uma base de apoio para
a navegação, de forma a permitir continuar a exploração para
o Sul e o comércio ao longo da costa, a capital foi transferida,
depois para a cidade da Praia.
As ilhas de Cabo Verde cedo
se tornaram escala obrigatória de muitos navegadores
célebres: Vasco
de Gama em 1497, Cristóvão
Colombo em 1498, e a nau "Vitoria"
que na viagem de circum-navegação de
Fernão de Magalhães
dobrou, já sem ele, o Cabo da Boa Esperança¸em 1522.
Pela sua posição privilegiada, a meio caminho entre os três
continentes e em frente da denominada Costa dos Escravos,
Santiago viria a tornar-se uma placa giratória da navegação
transatlântica: ponto de escala e de aprovisionamento dos
navios, ponte de penetração portuguesa no continente, entreposto
de escravos posteriormente exportados para a Europa - particularmente
para Portugal e Espanha - e para as Américas.
A
situação económica do arquipélago degrada-se contudo durante
a dominação filipina de Portugal (1580-1640), devido aos ataques
dos Ingleses, Holandeses e Franceses, que se prolongaram até
ao princípio do século XVIII. Na segunda metade do século
XVII, termina a época dos arrendatários individuais no comércio
de escravos. Contudo, apesar dos acordos entre Portugal e
a Inglaterra para a proibição do tráfico de escravos em Bissau
e Cacheu (1810), e depois da sua interdição a Norte do Equador
(1815), o comércio na região continua clandestinamente e até
se incrementa. Só no fim do século XIX dá-se
efectivamente por terminado o comércio de escravos, provocando
uma profunda crise nas ilhas, que só na emigração
encontra uma saída. Em finais do século XIX, dezenas
de milhar de cabo-verdianos começaram a ser compelidos para
o trabalho forçado nas plantações de São Tomé e Príncipe,
para onde foram enviados 23 978 cabo-verdianos.
Nas primeiras décadas do século
XX, sem que nada o fizesse esperar, Cabo Verde, conhece um
importante e inusitado desenvolvimento cultural e educativo,
em flagrante contraste com a sua pobreza económica. É,
talvez, a partir daí que as ideias de autonomia e de
independência nacional começaram a germinar ganhando
fôlego nos anos 40, com a geração de Amilcar
Cabral que viria a criar em 1956,
em Bissau, o Partido Africano para a Independência da Guiné
e Cabo Verde (P.A.I.G.C.). A luta pela independência
desencadeia-se em 1964 na Guiné, conduzida por Amilcar Cabral
que pretendia construir uma pátria comum com Cabo-Verde. O
derrube da ditadura em Portugal, a 25 de Abril de 1974
(Revolução dos Cravos), condiziu, enfim
à independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. No
dia 26 de Agosto de 1974, em Londres e depois em Argel, o
governo português reconhece o Estado da Guiné-Bissau, assim
como o direito de Cabo Verde à Independência. O PAIGC é também reconhecido como
o único e legítimo representante dos povos da Guiné-Bissau
e de Cabo Verde. Celebremos
o momento ouvindo o actual Cântico
da Liberdade (Hino Nacional).
Cabo
Verde, nascido na sequência da revolução
dos cravos em Portugal iria fazer um longo percurso até
se tornar no país democrático que hoje é.
Governado
inicialmente por um sistema de partido
único, de inspiração marxista, como de resto
se passou com todas as outras ex-colónias portuguesas,
viria a separar-se da Guiné-Bissau em 1980, na sequência
de um golpe de estado. O PAIGC
dá, então lugar ao PAICV
(Partido Africano da Independência
de Cabo Verde), restringindo a sua acção a Cabo Verde, com
base numa política de não alinhamento com quaisquer
dos blocos políticos de então.
Algumas políticas pouco adequadas
agravaram, contudo, nos anos oitenta, os problemas do país.
Em 1991, foi finalmente estabelecido um regime democrático;
em Janeiro desse ano, nas primeiras eleições livres do país,
Aristídes Pereira foi afastado da presidência e o PAICV saiu
claramente derrotado nas eleições para a Assembleia Nacional.
O novo presidente, António Mascarenhas Monteiro, antigo juiz
do Supremo Tribunal, dirigia o principal partido da Oposição,
o MPD (Movimento para a Democracia).
Apesar das enormes dificuldades
que se fazem sentir no arquipélago, Cabo Verde apresenta
hoje um panorama
económico e social bastante promissor, com
um nível de desenvolvimento humano (IDH) bastante superior
ao dos seus antigos aliados, a Guiné-Bissau, respectivamente,
0.721 e 0.348. As autoridades
cabo-verdianas optaram por uma economia
de mercado.
Os recursos económicos de Cabo
Verde dependem sobretudo da agricultura
e dos recursos
marinhos. A agricultura sofre frequentemente,
os efeitos das secas. As culturas mais importantes são o café,
a banana, a cana-de-açúcar, os frutos tropicais, o milho,
o feijão, a batata doce e a mandioca. O sector industrial encontra-se
em pleno desenvolvimento, nomeadamente a fabricação de aguardente,
vestuário e calçado, tintas e vernizes, o
turismo, a pesca e as conservas de pesca
e extracção de sal, não descurando, o artesanato. A banana, as conservas
de peixe, o peixe congelado, as lagostas, o sal e as confecções
são os principais produtos exportados.
Muitos são
os que defendem que Cabo-Verde
tinha as mesmas ou mais razões que a Madeira e os Açores
para serem uma região autónoma de Portugal.
Ou, se se preferir, a Madeira, por exemplo, tem muito menos
razões para continuar a ser uma região autónoma,
já que, no entender de muitos se comporta como país
que sistematicamente reivindica a independência, que
insulta de forma inusitada, arrogante e permanente Portugal,
ao ponto de já alguém ter chamado ao presidente
madeirense o "Boukasa" do arquipélago. Facto
curioso é que tanto a Madeira como os Açores
reivindicaram a independência a seguir à revolução
dos cravos, tal como Cabo verde, aproveitando a maré.
A literatura cabo-verdiana é uma das
mais ricas da África lusófona, contando com alguns autores de peso na cena internacional:Se
Kaoberdiano
Dambara (Felisberto
Vieira Lopes),
escreve em crioulo, já outros como Onésimo
Silveira, utiliza a língua portuguesa como expressão. O movimiento
literario Claridade. destacam-se Baltasar Lopes da Silva
( Osvaldo Alcântara) , Manuel Lopes,
Jaime Figueiredo, João Lopes e muitos outros. : Jorge Barbosa, Felix Monteiro, Antonio
França, Germano Almeida e Corsino Fortes
são alguns nomes
a reter.
Quanto às restantes
artes cabo-verdianas dominam, pintura, representada fundamentalmente
por Kiki
Lima e Danny Spínola; a fotografia de Tomé
Cardoso e Ronald Barbosa e o artesanato.
A cerâmica,
cestaria em caniço, a tecelagem
em algodão e a tapeçaria são áreas expressivas privilegiadas
pelos artesãos locais. Também o barro vermelho, retratando
o homem-tipo cabo-verdiano, merece menção especial.
Da
música
cabo-verdiana, significativamente inspirada na música
portuguesa mas bem enraizada nas características musicais
africanas, destacamos a morna que reflecte
a realidade insular do povo de Cabo Verde, o romantismo intoxicante
dos seus trovadores e o amor à terra (ter de partir e querer
ficar), tão bem representada por Cesária
Évora. Como outros géneros genuinamente
cabo-verdianos pode-se mencionar o batuque,
o colá, a coladeira,
o funaná, a tabanca. Também
se destacam Bau,
Teofilo Chantre,Tito Paris, Gabriela Mendes,
Boy Gé Mendes,
Calu Bana,
Paulino Vieira,
Celina Pereira,
Dialunga, Maria-Alice,
Luis Morais, Simentera o Tam tam 2000 Djalunga,
Albertino, Ferro Gaita e também numerosos grupos como
Cabo Squad, Kompass
eTchala.
Nos Estados Unidos da América, desde cedo a comunidade cabo-verdiana
se destacou pela
qualidade dos seus músicos: na época de ouro dos Big Band
(1930-1940), orquestras cabo-verdianas dirigidas por Isadore
Duke Oliveira ou Joseph Senna desenvolveram, com grande sucesso,
o estilo crioulo em New-Bedford.
Tal
como a música, a cozinha
de Cabo Verde è uma cozinha bastante influenciada
pela tradição culinária portuguesa: lagostas, perceves, lapa
búzio, “bafas”, atum fresco etc... A base da cozinha popular
é o molho, preparado de diferentes maneiras, acompanha a carne
de porco, o feijão, a mandioca, e a batata doce. O prato tradicional
é a Cachupa
pobre e rica.
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