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A menina Amélia Vaz teve,
uma vez mais, a coragem de publicar, pedaços da sua pureza
original, peças de um puzzle de inocência assumida
e autoconsentida, num trabalho que intitulou Flores de Neve.
Uma série de versos, livres, revoltos, de rima selvagem
que se prolongam muito p'ra cá e p'ra lá da métrica,
para correrem além-fronteiras, banhadas de sensações
e experimentadas num país onde as flores são diferentes
das da sua terra natal... Lá as flores são de
sal. Que fazem derreter a neve do seus país de adopção.
Entre o sal e a neve, tanto mar para escrever e descrever. E
a narração transporta, sem ambiguidades, valores,
que se acasinham nas palavras saudade, mar, terra, neve, árvore,
pintadas com as tintas multicores da língua portuguesa.
Palavras que enchem os versos e preenchem pregações
aos peixes de lá e aos esquilos de cá. Depois
voam pelas páginas, reunidas em versos da menina Amélia,
que quando assim a chamo, mostra-me a bengala e lembra-me os
seus cabelos também eles, aqui e ali salpicados de neve,
a lembrar, no seu estilo acre-doce, uma outra idade que não
se cola a um corpo que se permite, amar, dançar, rir,
chorar e carpir saudades. Um corpo de adulto numa alma de criança
(esbelta bonitinha morena e inteligente, tímida e sonhadora,
sendo para muita gente, jovem com ar de senhora, sempre muito
sorridente). Amélia persegue uma liberdade que se projecta
no tempo e se estende para além-mar e para aquém-neve.
Nos seus versos Amélia Vaz descansa o olhar nas ilhas
revisitadas, nas rochas incessantemente esquecidas, na floresta
onde, simultaneamente, se perde e se enraíza, na saudade
onde se abandona e se revisita.
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