FLORES DE NEVE DE AMÉLIA OLIVEIRA-VAZ


Por
Luís Aguilar

 

 


A menina Amélia Vaz teve, uma vez mais, a coragem de publicar, pedaços da sua pureza original, peças de um puzzle de inocência assumida e autoconsentida, num trabalho que intitulou Flores de Neve. Uma série de versos, livres, revoltos, de rima selvagem que se prolongam muito p'ra cá e p'ra lá da métrica, para correrem além-fronteiras, banhadas de sensações e experimentadas num país onde as flores são diferentes das da sua terra natal... Lá as flores são de sal. Que fazem derreter a neve do seus país de adopção. Entre o sal e a neve, tanto mar para escrever e descrever. E a narração transporta, sem ambiguidades, valores, que se acasinham nas palavras saudade, mar, terra, neve, árvore, pintadas com as tintas multicores da língua portuguesa. Palavras que enchem os versos e preenchem pregações aos peixes de lá e aos esquilos de cá. Depois voam pelas páginas, reunidas em versos da menina Amélia, que quando assim a chamo, mostra-me a bengala e lembra-me os seus cabelos também eles, aqui e ali salpicados de neve, a lembrar, no seu estilo acre-doce, uma outra idade que não se cola a um corpo que se permite, amar, dançar, rir, chorar e carpir saudades. Um corpo de adulto numa alma de criança (esbelta bonitinha morena e inteligente, tímida e sonhadora, sendo para muita gente, jovem com ar de senhora, sempre muito sorridente). Amélia persegue uma liberdade que se projecta no tempo e se estende para além-mar e para aquém-neve.
Nos seus versos Amélia Vaz descansa o olhar nas ilhas revisitadas, nas rochas incessantemente esquecidas, na floresta onde, simultaneamente, se perde e se enraíza, na saudade onde se abandona e se revisita.