Diz um
célebre psiquiatra nascido em Montreal e que revolucionou
o mundo da Psicologia com a sua Teoria da Personalidade, a Análise
Transaccional, que o nome que os nossos pais nos dão,
condiciona toda a nossa (psico) vida, do nascimento à
morte, coisa que nos ultrapassa e a que não conferimos
grande importância olhando de esguelha, pois não
tem lógica. Diz, pois Eric
Berne, que em 2010 comemora o centenário do seu nascimento
em Montreal: Os nomes, os nomezinhos, cognomes, alcunhas
e outras nomenclaturas infligidas ao inocente recém-nascido,
indicam claramente o caminho que os pais lhe destinaram.
Analisemos então o nome do nosso homenageado desta noite,
cabendo-lhes, caros amigos, decidir da pertinência da
teoria de Eric Berne de que nos vamos servir para apresentar
Joviano Vaz. Deram ao nosso conterrâneo o invulgar nome
de Joviano, o que desde logo o torna num ser único, raro.
Da nossa parte, com o nome de Joviano, só conhecemos
mesmo o homenageado desta noite.
Joviano é, por um lado, o nome de um planeta e, por outro,
o nome de um imperador romano.
O planeta
Joviano é, no sistema solar, sinónimo do planeta
Júpiter
que, representa, como sabemos, a jovialidade e a felicidade.
Com efeito, Júpiter, Joviano, é o maior planeta
do sistema solar, o quinto a partir do Sol, com quatro grandes
satélites descobertos em 1610 por Galileu: Ganímedes,
Europa, Io e Calistes e a primeira ideia que dele temos é
a de um planeta rodeado de uma série de anéis.
O imperador
Flávio
Joviano tem a particularidade de ter sido, um
soldado posteriormente eleito, por força das circunstâncias,
Imperador Romano pelo exército, em 26 de junho de 363,
após a morte de Juliano que se envolvera numa batalha
suicida. Dado que o exército romano se encontrava em
território persa, Joviano viu-se forçado a celebrar
a paz em termos, aparentemente, desfavoráveis, mas humanamente
imprescindíveis para a sobrevivência das suas tropas.
Só o grande espírito dialogante, conciliador e
diplomático fez com que o exército romano conseguisse
voltar a casa, são e salvo. Ao contrário do seu
antecessor, apóstata, Joviano era cristão. É
certo que Joviano só reinou oito meses, o tempo necessário
para reconduzir o Império ao cristianismo. Joviano morreu
em 17 de Fevereiro de 364, por razões para as quais alerto
Joviano Vaz, nomeadamente, para a necessidade de contenção
na comida, pois que o seu homólogo, tendo escapado à
guerra, sucumbiu à ingestão excessiva de alimentos.
Partamos
com estas duas simbologias à descoberta de Joviano Vaz,
natural da ilha de S.Miguel há mais de setenta anos,
tendo deixado as ilhas adjacentes como depreciativamente eram
conhecidas as ilhas de bruma pelo regime de Salazar, em 1965
para rumar para Montreal, no Canadá, não propriamente
para assistir à Expo que se realizaria dois anos depois
e que viria a marcar esta metrópole norte-americana,
mas para fugir da miséria material e política
a que um regime obscurantista nos mergulhou a todos, uns mais
do que outros e os Açores, muito particularmente.
Casado com a poetisa Amélia Oliveira-Vaz, de quem tem
um filho, ela também oriunda de uma região votada
pelo salazarismo, ao esquecimento e à pobreza extrema,
província que também rosnou independência
ou autonomia depois da revolução dos cravos: o
Reino dos Algarves. Mais precisamente Lagos de onde partiu,
igualmente, D. Sebastião “maravilha fatal da nossa
idade”, não para se encontrar com Joviano Vaz,
como a Amélia , mas para a infeliz aventura de Alcácer-Quibir.
Se tivermos em conta a vida do seu homónimo imperador
romano não espanta que Joviano Vaz tenha sido um dos
fundadores da Casa dos Açores do Quebeque, que dela se
afastou, pois os valores espirituais que nele dominam primam
sobre os valores temporais e jogos de poder para quais não
mostra a mínima apetência. Neste sentido Joviano
Vaz é um soldado do V Império profetizado por
Bandarra, mais tarde desenvolvido por António Vieira
e, mais recentemente, futurizado por Fernando Pessoa Império
da Terra e na Terra (…) espiritual no governo, espiritual
no uso, nas expressões e no exercício (…)
Em qualquer tempo futuro será sempre espiritual.
É com este espírito que Joviano Vaz se envolve
com entusiasmo, dedicação e até serviço
de missão em actividades culturais da Comunidade, abrindo
janelas abertas que muitas vezes causam correntes de ar, colaborando
assídua e persistentemente em tribunas de opinião
(ou que deveriam sê-lo): o semanário A Voz de Portugal
que quanto a nós muito empobreceu com a sua saída
e a Rádio Centre-Vill que mais pobre ficará com
a sua partida. O que vale é que temos uma comunidade
tão rica e tão culta que se pode dar ao luxo de
dispensar (ou mesmo hostilizar) pessoas da têmpera de
Joviano Vaz, passe o cinismo desta afirmação.
Ordenado
diácono da Igreja Católica, participa activamente
nas manifestações religiosas da Comunidade montrealense
(portuguesa e francófona). De Joviano Vaz, Osman traçou
um retrato completo do homenageado (Ler
apontamentos biográficos de Joviano Vaz por Osman Sarmento).
Joviano
tem a mesma raiz da palavra jovialidade que significa bom humor,
folgazão, alegria, engraçado, espirituoso, brincalhão,
tudo epítetos que assentam como uma luva ao nosso feliz
Joviano Vaz. E feliz porque, como já vimos, Joviano é
influenciado por Júpiter, precisamente o símbolo
da felicidade.
E a sua
propensão para falar ao vento e pregar aos peixes, tantas
vezes com voz de trovão, imponente, conjugada com um
timbre melodioso convincente, foi-se desenvolvendo, semana a
semana, com persistência na Rádio Centre-Ville:
Os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem que fazer
o que dizem. E insistia: Neste mundo há muitas
misérias que não são ignorâncias,
e não há ignorância que não seja
miséria. E comentava, dirigindo-se aos sossegados,
conformistas e palavrosos peixes falantes desta comunidade:
Homens de “havemos de fazer" nunca farão
nada. Estas palavras não são obviamente do
Joviano Vaz, são do Padre António Vieira, cujos
400 anos do seu nascimento se comemoram igualmente este ano
e, sabemos, é um dos autores mais admirados por Joviano
Vaz, cujas ideias as frases citadas transmitem o que pensa.
Se citei Vieira foi porque muito do pensamento Vieirino se instalou
para sempre no pensamento de Joviano Vaz, traduzido nas seguintes
palavras: Gostaria de apanhar o tempo presente e mudá-lo
à minha maneira, Sem preconceitos,Sem dificuldades, Só
mudá-lo. Nada mais. Talvez melhor soubessem
dizê-lo Vieira ou Flávio Joviano, ora acontece,
que estas últimas palavras saíram da pena do nosso
homenageado.
Façam-me, no entanto, o favor de não dizer que
comparei António Vieira a Joviano Vaz. Porque disso não
se trata.
Permanentemente
inquieto intelectualmente, Joviano Vaz questiona-se sobre as
injustiças sociais e incoerências conceptuais,
que assinala com zelo e revolta à maneira vieirina: Não
me temo de Castela, temo-me desta canalha...
Tal como
vieira que muitas vezes se retirou, desejamos que Joviano Vaz
faça como o imperador da língua portuguesa, que
outras tantas vezes, regressou ao futuro. Para já, ao
que julgamos saber, vai fazer saltar da gaveta uma série
de escritos para um livro que, esperamos, seja para breve, Porque
primeiro se deve assegurar a conservação do próprio,
e depois, se for conveniente, se poderá conquistar o
alheio.