Fórum de Discussão:

A Lusofonia em Montreal

A partir de um texto elaborado por um grupo de participantes nas aulas da cadeira de Lusofonia, abriu-se um fórum de discussão, Em Linha.

Aqui, publicamos o texto de referência bem como as opiniões e ou reacções que o mesmo tem suscitado.

As relações entre os vários grupos sociais que integram a Lusofonia mantêm-se, sobretudo, através dos jornais Lusopresse e A Voz de Portugal, pela gastronomia, pelas festas lusófonas, pelo funcionamento das escolas de sábado que ensinam o português, pela dinâmica actividade das associações lusófonas, de onde se destacam o Carrefour des jeunes lusophones du Québec, a Associação da Comunidade Angolana de Montreal e Amigos, a Associação Portugal-Canadá, a Casa dos Açores, a Casa do Brasil, etc.

Pelo que temos podido observar as relações entre as várias comunidades lusófonas que coexistem em Montreal não existem umas para as outras porque são comunidades fechadas e sem relações entre si: a falta de interesse por outras comunidades lusófonas da parte da pequena comunidade brasileira, onde se nota um ressentimento pronunciado contra Portugal que é de resto o mesmo sentimento que nutre a comunidade angolana, não permitem uma cooperação que seria desejável. Por sua vez, a comunidade portuguesa muito centrada no seu umbigo e viciada nas suas querelas não olha, nem de soslaio, para as outras comunidades que aqui se exprimem em Português.

Temos podido observar a animosidade dos brasileiros em relação aos portugueses o que não facilita as coisas. Conflito colonizador/colonizado ou conflito de gerações.
Pois, percebemos a animosidade dos angolanos relativamente aos portugueses dado que ainda muito recentemente estiveram em guerra da independência, mas quanto aos brasileiros é difícil invocar este argumento Conflito de gerações? Há razões para crê-lo. Os portugueses estão aqui há mais tempo e são cada vez mais uma comunidade envelhecida, enquanto que a comunidade brasileira é mais recente e, por isso, mais rejuvenescida.



Para manter o ideal da Lusofonia e despertar o interesse pela cultura por parte de todos os lusófonos e lusófilos, precisamos de pessoas de convicção forte e amor profundo por uma cultura de língua portuguesa, que trabalhem incansavelmente para inculcar este amor nos outros e reunir os lusófonos. É louvável o trabalho que, a este nível, os Estudos Portugueses da Universidade de Montreal têm desenvolvido. Mas não chega. Sentimos que, pessoas com valor, viram as costas umas às outras, cortando qualquer hipótese de emergência de sinergias que pudessem optimizar os imensos recursos disponíveis.

Um grande encontro das comunidades lusófonas organizado por representantes de cada uma delas e com grande divulgação e apelativo à participação, talvez ajudasse a, por um lado unir os lusófonos e, por outro, dar a conhecer aos quebequenses as suas culturas e a língua comum, a portuguesa. Utópicos? Deixem-nos sonhar!

É evidente que com a dimensão político-social assim como a diversidade geográfica de todos estes países, colónias e territórios, a língua portuguesa serviria como pano de fundo e factor unificador. Peguemos na máxima de Saint- Exupéry: amar não é olhar um para o outro, mas olharem os dois na mesma direcção. Ainda que num primeiro olhar pareça irrealista pensar que seria possível que, pelo facto de termos a mesma língua desenvolvêssemos actividades comuns de uma forma regular, visto que há muitos outros factores que determinam o funcionamento de uma comunidade. Mas se é verdade que não podemos negar esta realidade que temos diante de nós, não é menos verdade que o facto de dizermos que não há colaboração entre os diferentes grupos lusófonos acaba por contribuir para uma clivagem maior entre as comunidades lusófonas. Cremos que se cada um de nós se implicar com afinco na sua comunidade e envidar esforços para preservar a língua e cultura portuguesas e afins, o objectivo último será atingido e as gerações futuras poderão ainda desfrutar da nossa bela língua que nem o espectro da supremacia anglófona (facto de que não podemos abstrair-nos) poderá ameaçar. Por exemplo, poderíamos citar as várias exposições culturais organizadas pela Casa de Angola, com participação das comunidades de todos ou quase todos os países, antigas colónias portuguesas. E se disséssemos que o presidente da Associação Portuguesa do Canadá é um português/angolano?! E se referíssemos que um clube galego é dirigido e explorado por um português? E se metêssemos mais evidência no trabalho levado a cabo pelo Carrefour des jeunes lusophones du Québec? Só o título já é um incentivo à união. Tudo isto são, igualmente, verdades que se lhe dessemos maior importância contribuíamos para cimentar mais a união, a lusofonia, a fraternidade e finalmente, a língua e as culturas lusófonas.