Cultura
(Lendas, Arte poética, Filosofia)

Temas culturais incluem lendas dos animais e da selva, pensamento sobre a Vida Filosófica e a Arte Poética. A lenda é a poesia de história. Cada país tem lendas de animais que exprimem verdades humanas. Aqui estão duas lendas humorísticas, A Lagartixa Frustrada de João Melo (Angola) e Cerimónia de Passagem de Paula Tavares (Angola). Dois poetas exprimem o alvo da poesia. João Maimona (Angola) descreve no poema Arte Poética, por meio de comparação da palavra com o efeito de erosão, como a poesia liberta verdades universais. Alda do Espírito Santo (São T. P.) descreve no poema Em Torno da Minha Baia, como as observações na praia, onde está sentada a poeta, tornam-se em sonhos de uma poesia humana. O último alvo da poesia: a humanidade.
A Lagartixa Frustrada
de
João Melo

Um dia
a lagartixa
quis ser dinossauro

Convencida
saltou pra rua
montada em blindados
pra disfarçar a sua insignificância

Tentou mobilizar as formigas
que seguiam
atarefadas
pro trabalho

"Ó pobre e reles lagartixa
condenada
à fria solidão
das paredes enormes e nuas
tu não sabes que os dinossauros
são fósseis
pre-históricos?"

 

Arte Poética
de
João Maimona

Que erosão
no choque genésico das marés
de encontro às pedras habitadas.

Cai areia na areia.

Assim o gasto da palavra
limando os duros conformismos
libertando as verdades mais remotas
tão necessárias ao fruir dos gestos.

Cerimónia de Passagem
de
Paula Tavares

A zebra feriu-se na pedra
a pedra produziu lume

A rapariga provou o sangue
o sangue deu fruto

A mulher semeou o campo
o campo amadureceu o vinho

O homem bebeu o vinho
o vinho cresceu o canto

O velho começou o círculo
círculo fechou o princípio

A zebra feriu-se na pedra
a pedra produziu lume.

 

 

 

Em Torno da minha Baia
de
Alda do Espírito Santo

Aqui, na areia,
Sentada à beira do cais da minha baía
do cais simbólico, dos fardos,
das malas e da chuva
caindo em torrente
sobre o cais desmantelado,
caindo em ruínas
eu queria ver à volta de mim,
nesta hora morna do entardecer
no mormaço tropical
desta terra de África
à beira do cais a desfazer-se em ruínas,
abrigados por um toldo movediço
uma legião de cabecinhas pequenas,
à roda de mim,
num voo magistral em torno do mundo
desenhando na areia
a senda de todos os destinos
pintando na grande tela da vida
uma história bela
para os homens de todas as terras
ciciando em coro, canções melodiosas
numa toada universal
num cortejo gigante de humana poesia
na mais bela de todas as lições