Amor e Saudade

Não falta o tema mais universal do homem, o Amor e a Saudade. Em muitos poemas, os temas de amor e das saudades - como já vimos - não se separam do amor para África, a terra natal. Porém, o poema de Conceição Lima (São Tomé e Príncipe) Quando o Luar Caiu descreve a angústia da mulher (do eu) quando não encontra o seu namorado. Em imagens da natureza muito bonitas e poéticas, a poeta evoca a presença do namorado, e enfatiza a angústia do amor no apelido ao "tu" (tu não eras). Em As Raízes de Nosso Amor do poeta Geraldo Bessa Victor (Angola) , a mulher é o símbolo para África. Ela exprime a terra, a paisagem, os poentes tropicais que encantam como um ópio, a música dolente, os frutos acres, e a voluptuosidade do ritmo das danças africanas. O poeta utiliza palavras sensuais para receber uma reacção emocional muito forte. Ao contrário, Tomaz Viera da Cruz (Angola) trata a questão da Mulata numa maneira ligeira. Escrito na forma de canção folclórica (8 estrofes de 4 versos com rimos cruzados), este poema exprime a paixão do poeta por uma mulata, cujos "defeitos" - por ser de duas raças - ele vê agora como um mistério de duas raças que se encontraram.
Quando o Luar Caíu
de
Conceição Lima

Quando o luar caiu
Quando o luar caiu e
tingiu de escuro os verdes da ilha
cheguei, mas tu já não eras.

Cheguei quando as sombras revelavam
os murmúrios do teu corpo
e não eras.
Cheguei para despojar de limites o teu nome.
Não eras.

As nuvens estão densas de ti
sustentam a tua ausência
recusam o ocaso do teu corpo
mas não eras.


Mulata
de
Tomaz Viera da Cruz

Os teus defeitos são graça
que mais me prendem, querida...
Mistério de duas raças
que se encontram na vida.

E, no mato, em nostalgia,
num exílio carinhoso,
fizeram essa alegria
do teu olhar misterioso.

E deram forma de sonho,
em seu viver magoado,
a essa estilo risonho
do teu corpo bronzeado...

Que é bem e grácil maneira
em que a volúpia se anima,
- bailando duma fogueira
queimando quem se aproxima!

A tua boca dolente,
cicatriz de algum desgosto
é um vermelho poente
no lindo sol do teu rosto.

E os beijos que pronuncias
são palavras dolorosas
Teus beijos são tiranias
são como espinhos de rosas...

Que me embriagam, amantes,
no éter do seu perfume...
Teus beijos são navegantes
sobre as ondas do ciúme.

Os teus defeitos são graças
desse mistério profundo...
Saudade de duas raças
que se abraçaram no mundo!

 

As Raízes de Nosso Amor
de
Geraldo Bessa Victor

Amo-te porque tudo em ti me fala de África,
duma forma completa e envolvente.
Negra, tão negramente bela e moça,
todo o teu ser me exprime a terra nossa.

Nos teu olhos eu vejo, como em caleidoscópio,
madrugadas e noites e poentes tropicais,
visão que me inebria como um ópio,
em magia de místicos duendes,
e me torna encantado. (Perguntaram-me: onde vais?
E não sei onde vou, só sei que tu me prendes...)

A tua voz é, tão perturbadoramente,
a música dolente dos quissanges tangidos
em noite escura e calma,
que vibra nos meus sentidos
e ressoa no fundo da minh'alma.

Quando me beijas sinto que provo ao mesmo tempo
gosto do caju, da manga e da goiaba,
- sabor que vai da boca até às vísceras
e nunca mais acaba...

O teu corpo, formoso sem disfarce,
com teu andar desgoso, parece que se agita
tal como se estivesse a requebrar-se
nos ritmos da massemba e da rebita.
E sinto que teu corpo, em lírico alvoroço,
me desperta e me convida
para um batuque só nosso,
batuque da nossa vida.

Assim, onde te encontres (seja onde estivesses,
por toda a parte onde o teu vulto for),
eu te descubro e elejo entre as mulheres,
ó minha negra belamente preta,
ó minha irmã na cor,
e, de braços abertos para o total amplexo,
sem sombra de complexo,
eu grito do mais fundo de minh'alma de poeta:
- Meu amor! Meu amor!