Pedagogia de Arte do Momento


Não se trata de abandonar o universo do imaginário
em favor do universo da realidade...
mas antes definir os meios pelos quais
o indivíduo pode adquirir
um completo domínio de uma situação,
vivendo nas duas vias
e capaz de passar de uma para a outra.

Jacob-Levy Moreno


Os primeiros conceitos específicos do que defendemos para a orientação das actividades que propomos neste guia são: a espontaneidade como uma área de invenção e de criatividade e o conceito de momento, aqui e agora. Ambos nos ajudam a precisar as orientações da acção educativa no ensino de uma língua estrangeira. A espontaneidade definida como o lugar privilegiado do Eu, que confere um sentido de novidade, de frescura e de diversidade, conduziu Moreno (1970) à definição do conceito de momento como o espaço e o tempo em que o indivíduo é, vive e cria. O estudante encontra-se, naturalmente, num estado de espontaneidade que só a interferência inadequada do professor pode perturbar, já que o estado de espontaneidade é uma entidade psicológica independente. A espontaneidade, como área de invenção e de criatividade e o momento presente como espaço-tempo de vivência simbólica da experiência social, levam-nos a defender uma pedagogia da espontaneidade como Arte do Momento. Uma tal Pedagogia consiste, essencialmente, em transformar a espontaneidade anárquica em espontaneidade criadora. Para tanto é necessária uma intervenção estruturante das produções espontâneas dos estudantes de uma língua estrangeira, que lhes permita fazer a aprendizagem de si para si, escolher livremente os espaços, os colegas de jogo, os materiais, os papéis. Uma Pedagogia da Arte do Momento, como pedagogia estruturante que se desenvolve numa atmosfera permissiva de espontaneidade e de criatividade, concretiza-se na variação de situações e na canalização das produções espontâneas dos participantes para um projecto de acção.

A variação de situações consiste em provocar a reacção dos estudantes mediante coisas e objectos sobre os quais ela age e interage. Age na situação criada, reage perante novas situações e interage com os outros, com o espaço e com os materiais. Esses elementos são geradores de novas situações. Variáveis diversas devem ser consideradas como desencadeadores da acção em cada situação criada: a organização do grupo, as interacções com os outros e com o meio envolvente, a organização do espaço, a gestão e vivência do tempo. Gisèle Barret (1986) refere-se a cinco variáveis para uma Pedagogia da Situação, que tem alguns pontos de contacto com a nossa Pedagogia Estruturante do Momento.

Uma intervenção educativa no quadro de uma Pedagogia Estruturante do Momento, exige ao professor três papéis: Observador-participante, o professor segue activamente as situações criadas, observando a sua dinâmica e recolhendo elementos fundamentais da acção e dos papéis desempenhados pelos participantes no decorrer da acção. Criador de situações, o professor é garante da participação dos estudantes. Criando situações, favorece e estimula a exploração de diferentes papéis a jogar. Como criador de situações, o professor proporciona a variação dos elementos da actividade, por uma intervenção directa, em que cria espaços ou selecciona materiais e, por uma intervenção indirecta, agindo no momento em que a actividade decorre, propondo situações, papéis, mudanças de espaço, alterações na composição dos grupos, mudanças de personagens, etc., de acordo com a percepção que tem das necessidades, motivações e interesses dos participantes e da energia criadora que deles emana. Actor-participante, o professor intervém nas actividades, jogando ele próprio papéis, com o objectivo de fornecer ao estudante um contra-papel que lhe facilite a expressão. No papel de actor-participante, o professor deverá, no entanto, evitar a transposição dos seus fantasmas e a infantilização, leia-se pedagogização. Age tecnicamente, sabendo que o papel que joga no interior do jogo deve ser distanciado, de forma a poder corresponder aos pedidos concretos dos participantes.
O professor, o animador é um criador de situações que canaliza as produções espontâneas dos participantes para um projecto de acção, ao mesmo tempo que estabelece uma atmosfera permissiva e relaxante. O animador e os participantes criam o momento.