Autorretrato
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão de altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça
escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,
Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
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Retrato
Talvez Saudoso da Menina Insular
Tinha o tamanho
da praia
o corpo era de areia.
E ele próprio era o início
do mar que o continuava.
Destino de água salgada
principiado na veia.
E quando as
mãos se estenderam
a todo o seu comprimento
e quando os olhos desceram
a toda a sua fundura
teve o sinal que anuncia
o sonho da criatura.
Largou o sonho
nos barcos
que dos seus dedos partiam
que dos seus dedos paisagens
países antecediam.
E quando o
seu corpo se ergueu
Voltado para o desengano
só ficou tranquilidade
na linha daquele além.
Guardada na claridade
do olhar. |