Português ComunicAtivo 19 Textos Utilitários

A CARTA DE AMOR

Nível A2do QECR

Ouça a interpretação de Maria Bethânia (vídeo 1) dos poemas misturados Mensagem de Maria Bethânia (texto marcado a encarnado), Todas as Cartas de Amor São Ridículas de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa (texto marcado a verde), e um extrato da carta de despedida de Fernando Pessoa à sua amada Ofélia, em novembro de 1920 (texto marcado a azul).
Clique na imagem do vídeo 1 procurando seguir, ao mesmo tempo, os poemas transcritos à esquerda e na imagem do vídeo 2, seguindo parte do texto. Informe-se sobre os autores dos poemas e sobre a intérprete, clicando nas hiperligações que estão no fim da página.


Mensagem (Maria Bethânia) e Todas as Cartas de Amor São Ridículas (Álvaro de Campos-heterónimo de Fernando Pessoa) , poemas interpretados por Maria Bethânia


Quando o carteiro chegou e o meu nome gritou
Com uma carta na mão
Ah! De surpresa, tão rude,
Nem sei como pude chegar ao portão
Lendo o envelope bonito,
O seu sobrescrito eu reconheci
A mesma caligrafia que me disse um dia
"Estou farto de ti"
Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: "será de alegria, será de tristeza?"
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais.

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente Ridículas.)

Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: "será de alegria, será de tristeza?"
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais.

Quanto a mim o amor passou
Eu só lhe peço que não faça como gente vulgar
E não me volte a cara quando passa por si
Nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor
Fiquemos um perante o outro
Como dois conhecidos desde a infância
Que se amaram um pouco quando meninos
Embora na vida adulta sigam outras afeições
Conserva-nos, escaninho da alma, a memória de seu amor antigo e inútil.

 

vídeo 1

 

Ouça, igualmente,Todas as Cartas de Amor São Ridículas de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), interpretado
por Maria Bethânia

vídeo 2

 

 

 

Informe-se sobre os criadores destas produções literárias e musicais nas seguintes ligações:

 


Voltar ao Manual

©

Luís Aguilar
Todos os Direitos Reservados