19
de março de 1920, às 9 da manhã
Meu querido amorzinho:
Parece
que foi remédio escrever-te (...). A seguir fui-me deitar,
sem esperança nenhuma de adormecer, e o facto é
que dormi umas 3 ou 4 horas a fio – pouca cousa, mas não
imaginas a diferença que me fez. Sinto-me muito mais
aliviado, e, embora a garganta ainda arda e esteja inchada,
o facto de o estado geral ter assim melhorado quer dizer, creio
bem, que a doença vai passando.
Se as melhoras se acentuarem rapidamente, talvez ainda hoje
mesmo vá ao escritório, mas sem me demorar muito;
e então eu próprio te entregarei esta carta. Espero
aí poder ir; tenho certas coisas urgentes a tratar que
posso dirigir aí do escritório, embora não
vá eu em pessoa, mas que aqui me é impossível
tratar.
Adeus, meu anjinho bebé. Cobre-te de beijos cheios de
saudade o teu, sempre, sempre teu
Fernando
In Cartas
de Amor de Fernando Pessoa,
organização de David Mourão-Ferreira.