JÁ NÃO SERÁ POSSÍVEL NO CANADÁ FAZER COM QUE DE TOSTÃO A TOSTÃO SE FAÇA UM MILHÃO
por

Adelaide Oliveira


A moeda de um cêntimo foi retirada de circulação, desde o início do corrente mês de abril. Com efeito, o Governo do Canada seguiu a política de muitos outros países do mundo e resolveu, enfim, retirar da circulação uma moeda de pouco valor monetário, que custa atualmente ao Banco do Canadá, 1,06 cêntimos para cunhar cada uma. E quem seguiu a provérbio popular português, de tostão a tostão se faz um milhão, não sabe o que fazer com tantas moedinhas, já que o ministro não o disse.

Foi com enorme alívio que muitos canadianos receberam esta novidade, pois há muito que iam aos arames com o peso das ditas moeditas nos bolsos que provocavam, amiúde, buracos nas algibeiras dos casacos. E o facto de terem de mandar coser os buracos, tarefa complicada, uma vez que hoje já ninguém pega numa agulha, a situação agravava-se. Com efeito, a mão de obra encontra-se deslocada para onde o diabo perdeu as botas ou se preferirem no cu de Judas, sitos na China, os estragos foram-se acumulando ao longo dos anos e a situação tornou-se insuportável e de resolução urgente.

Retirada da circulação, finalmente, a malfadada moeda de um cêntimo, já não será doravante necessário fazerem-se grandes malabarismos para conseguir enrolar as cinquenta moedinhas pretas num pedaço de plástico, aliás, inútil será procurar os tradicionais canudos de plástico para as enrolar porque já não se encontram nos botecos dolarama (centimograma, seria mais adequado). Podem, contudo, ficar descansados os canadianos, que o buraco dos seus bolsos não voltarão a incomodá-los. Daqui em diante, esse trabalho, tão delicado, foi mandado às urtigas.

Antigamente ainda se via alguém baixar-se para apanhar uma dessas moedas castanhas, brilhantes, que tão bem se viam e que tanto contrastavam com a cor do cimento ou do asfalto. Agora, apanhá-las é um ato falhado; é mostrar que se é pobre, sobretudo de espírito, de quem não respeita os mais rudimentares cuidados de higiene, mesmo que se invoque a sorte que dá, apanhar uma moeda de cobre do chão.

Estou a pensar, igualmente, nas fontes que se encontram nos centros comercias, nas praças públicas, etc. Como irão elas sobreviver sem essa melodia resultante do contacto do vil metal com a água, com recados do coração? Como vão as pessoas encontrar o amor, se já não há moedas de cobre para lançar à fonte? Nada a fazer, diz o ministro. Ponha-as dentro de um saco e dê-as a associações com fins humanitários. Estas, por sua vez, irão fundi-las e reduzi-las à sua essência, o cobre.

Então, fique a saber que a partir deste mês se tiver que pagar uma fatura de 1.01$ pagará 1.$, mas se ela for de 1.02$ já pagará 1,05$; se a sua fatura for de 1,06$ paga 1,05$, mas se for de 1,07$, já paga 1,10$. E assim sucessivamente. Fácil é perceber que com estes arredondamentos será o estado a ganhar. Como não se pode utilizar o cartão de crédito por menos de 5$, em vez de comprar por 1.12$, compre por mais de 5$, livrando-se assim dos arredondamentos.
O governo do Canadá não é pioneiro nestas andanças monetárias, porque muitos outros países já retiraram de circulação, há muitos anos, as moedas de pouco valor: Austrália (1992), Brasil (2004), Finlândia (2002), Holanda (2004), Noruega (1991), Suécia (1971), Inglaterra (1984) e Israel (2008).

Disse-nos, finalmente, o ministro que a utilização da moeda de $0,01 provocava um prejuízo de 11 milhões de dólares anuais à Nação. Vale mais retirar a moeda do que despedir funcionários.

Esta decisão era inevitável, sobretudo em tempos de crise, ainda que se saiba que na Velha Europa onde se situa o epicentro da crise, o Euro continua fiel às moeditas de um cêntimo e até mesmo de dois cêntimos.


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Luís Aguilar
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