Os
nomes próprios das pessoas grafam-se segundo
a regra ortográfica mais atual. Luís e
não Luiz. E, ainda menos, Luis sem acento. Pela
mesma ordem de razão Filipe e não Philippe.
E, ainda menos, Felipe.
No seu registo de nascimento encontra-se, o nome do
autor desta coluna, grafado desta maneira: Luiz Filipe
Mello de Aguilar. No bilhete de Identidade atual o Luiz
que carregava um z, vê-se agora, substituído
por um s e acrescentado de um acento no i e o Mello
de então, deixou cair um l. E ponto final! Mas
- e há sempre um mas enervante nas ortografias
- pode aceitar-se o uso dos nomes grafados como aparecem
nos registos de nascimento. Por isso, se assim o desejasse,
o autor desta coluna, para ressalva de direitos, poderia
manter, à margem da ortografia oficial, o nome
Luiz de Mello de Aguilar. Luiz
Inácio Lula da Silva, para citar um exemplo ilustre,
insere-se nessa tradição de contrariar
a lei de 1943, segundo a qual todo Luís deveria
ser escrito com s e acento.
Escreve o brasileiro ilustre Sérgio Rodrigues:
Como se sabe, a lei de 1943, regulamentada por decreto
presidencial dois anos e meio depois, foi prontamente
acatada nos dicionários, nas escolas, na imprensa,
por todo lado. Nos cartórios é que não
houve jeito de pegar.
Eça de Queirós, assim se chama o grande
romancista português, introdutor do Realismo em
Portugal, como nova expressão de arte, assinava
Eça de Queiroz, que era a ortografia da época
e que, nas condições que temos vindo a
descrever, deve ser respeitada. Pode-se, pois, escrever
das duas maneiras, mas não de forma arbitrária.
Com efeito, cada um pode escrever o seu nome fora das
regras estabelecidas, mas só para ressalva de
direitos. É nesse sentido que se deve aceitar
e respeitar a grafia adotada pela grande poetisa portuguesa
Sophia de Mello Breyner Andresen. |
Eça
de Queirós não ganhou o prémio
Nobel porque nesses recuados tempos tal prémio
não havia. Mas Sophia podia tê-lo ganho
como merecia. A propósito: - Diz-se Nóbel
ou Nobél. Deveria dizer-se Nobel, com acentuação
no e ou mais propriamente sem acentuação).
Mas o uso consagrou a forma inglesa por que é
pronunciado: com a acentuação no o.
Aceitam-se as duas formas de pronúncia, como
se aceita, por idênticas razões, dizer-se
Oxford e não Oxónia como deveria
acontecer, já que, os nomes das cidades e países
traduzem-se em Português. Tal como dizemos Londres
e não London ou Montreal e não
Montréal, ou Otava e não Ottawa,
Canadá e não Canada, Quebeque
e não Québec, também
deveríamos dizer Cantabrígia e não
Cambridge. Mas, tanto Oxford como
Cambridge, pela sua inegável internacionalização,
foram designações consagradas pelo uso.
Fica mesmo pretensioso, para além de incompreensível,
dizer-se que se foi formado em Oxónia ou em
Cantabrígia. O argumento da fidelidade à
língua não pode ser aqui invocado. No
entanto, deve evitar-se dizer Anvers, (em
Português Antuérpia) ou Genève
(em Português Genebra).
Voltando
aos nomes próprios manda a fidelidade à
língua e o acordo ortográfico luso-brasileiro,
já velhinho, datado do ano da graça
de 1943, que se traduzam os nomes estrangeiros: Rute
de Ruth, Valter de Walter, Susana de Suzanne, etc.
Mas, nem na mais fervorosa devoção à
língua de Camões ou no mais violento
ataque de apoplexia vernácula, nos passaria
pelos miolos traduzir Karl Marx, por Carlos Marques,
ou Kant por Canto ou Sigmund Freud por Segismundo
Fróis. Por esse andar iríamos, de imediato,
a um restaurante (ou melhor, porque mais vernáculo,
casa de pasto) pedir um disco de massa com molho de
tomate e queijo, para evitar o hediondo estrangeirismo:
pizza.
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