Undisclosed Recipients
de Sandro Aguilar Vence o
Festival du nouveau cinéma de Montreal

por
Luís Aguilar
Fotos de Vitália Rodrigues



Mais não fosse por ser o primeiro realizador de cinema português a ser premiado com o «Loup Argenté»
no «Festival du nouveau cinema de Montreal» de 2016 (que ao longo de 45 anos já viu passar nomes de referência internacional como Pedro Almodóvar, Jean-Luc Godard e François Girard), Sandro Aguilar merece que dele, aqui, façamos referência.

Sandro Aguilar mostra na curta-metragem vencedora «Undisclosed Recipients» uma produção que constitui, uma verdadeira arte de bem filmar a toda a mostra, um passo de gigante no seu projeto cinematográfico que já vai em mais de vinte anos de evolução: um cinema alternativo que detém uma narração original e única que nos põe as



Sandro Aguilar realizador de Undisclosed Recipients


Sandro Aguilar nos Estudos Lusófonos da Universidade de Montreal em 2001

Djanira, Luís, Sandro e Vitália Aguilar visitam Montreal

Filmografia de Sandro Aguilar:
2015 Undisclosed Recipients, 2015 Bunker, 2014 False Twins, 2013 Jewels, 2013 Dive: approach and exit, 2012 Sinais de serenidade por coisas sem sentido, 2011 And They Went, 2010 Mercúrio, 2010 Voodoo, 2008 A Zona, 2007 Arquivo, 2005 A Serpente, 2002 Remains, 2001 Corpo e Meio, 2000 Sem Movimento, 1998 Estou Perto, 1997 Cadáver Esquisito

sensações à flor da pele e dirige-nos o olhar para um universo do não-visto mas do pré-sentido, daquilo que o espetador não vislumbra. Um caminho cinematográfico menos frequentado na sétima arte. Secretos recetores para incógnitos destinatários. Gente que vê o que não se alcança à primeira vista dirigido a indivíduos não identificados que sentem aquilo a que outros se sentem impedidos. Assim se poderá carimbar este transcurso existencial, os que sentem e os que nem por isso nem tanto. Uma aflição para os escondidos do sentir, para os açambarcadores de multidões de imagens prontas a servir.

Com efeito, Sandro Aguilar não abdica (nem concede) da linha artística a que se propôs desde sempre. As suas produções têm uma marca tão original que bem pode hoje dizer-se que ninguém cinematografa como ele.
Querem que lhes conte o filme premiado, não é verdade? Pois bem, deem corda aos sapatos e vão ao cinema. Mais do que ver, sentir a curta «Undisclosed Recipients». É um filme que se tem de merecer e, para isso, há que deixar à porta receitas e fórmulas dos cânones habituais de produzir filmes e montar imagens. Sintam o que se passa no interior de cada espetador do Festival de Rock de Paredes de Coura, onde o filme foi rodado em 2015. Nunca lá fomos, mas ao ver essa curta é como se lá estivéssemos mediados pela realidade sensório-ficcional que nos desvenda o poeta da imagem que Sandro Aguilar é.

Grande parte da obra de Sandro Aguilar foi já exibida em Montreal. Ainda na edição do ano passado deste mesmo festival foi apresentada a curta-metragem, «Bunker». Há quinze anos, onde se mostraram 25 filmes portugueses numa edição que visava uma homenagem ao novo cinema português, Sandro Aguilar esteve presente e apresentou «Estou Perto» e «Sem Movimento», com grande aceitação por parte do público.

Ao longo dos últimos anos, as curtas-metragens de Sandro Aguilar têm sido premiadas em vários festivais internacionais: Veneza, Locarno, Roterdão, Berlin, Oberhausen, Buenos Aires, Brooklyn, Bahia, Gijon, Vila do Conde, Indie Lisboa…

Sandro Aguilar a convite do irmão e autor deste apontamento participou em várias sessões da cadeira de Introdução à Cultura Portuguesa dos ex-Estudos Lusófonos da Universidade de Montreal atualmente extintos.

É de notar que em recente mostra de curtas portuguesas na Cinemateca de Montreal nenhuma de Sandro Aguilar foi exibida. Agora, no mesmo espaço, a sua produção impôs-se por si mesma, contribuindo para a internacionalização da Cultura Portuguesa, tal como a participação recente da escritora Lídia Jorge no FIL-Festival Internacional de Literatura de Montreal, onde foi figura de destaque.



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