OS APAGADOS ESTUDOS PORTUGUESES BRILHAM NO SALON DES ÉTUDES
DA UNIVERSIDADE DE MONTREAL



Reportagem de
Vitália Rodrigues

O Salon des Études organizado, anualmente, pela Faculdade das Artes e Ciências da Universidade de Montreal visa, antes do mais, dar a conhecer à generalidade da população académica, presente e futura, os vários programas dos diversos departamentos e respectivas secções.

Qualquer visitante que tivesse por objectivo procurar informação sobre os Estudos Portugueses, Língua Portuguesa, Culturas Lusófonas ou Estudos Brasileiros, perder-se-ia no emaranhado de standes e, dificilmente, encontraria o que procurava.


Professora doutora Monique Moser-Verrey, directora do Departamento de Literaturas e Línguas Modernas, professor doutor Joseph Hubert, decano da Faculdade das Artes e Ciências, dr. Carlos Oliveira, cônsul-geral de Portugal e o dr. Luís Aguilar, professor convidado de Estudos Portugueses e docente do Instituto Camões

Pascale Ouellet, Adjunta do decano da Faculdade das Artes e Ciências, entre os drs.Carlos Oliveira e Luís Aguilar

Daphne Santos Vieira, Kathy Santos, Louis-Charles Letendre-Goyette, estudantes de Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas com Pascale Ouellet e Luís Aguilar
O docente do Instituto Camões, dr.Luís Aguilar, o reitor da Universidade de Montreal, professor doutor Robert Lacroix e o cônsul-greal de Portugal, dr. Carlos Oliveira

Luís Aguilar, Robert Lacroix e Carlos Oliveira


Luís Aguilar com o decano da Faculdade das Artes e Ciências, professor doutor Joseph Hubert.

Luís Aguilar e Carlos Oliveira conversam com a directora do Ensino de Línguas, a dra. Angela Steinmetz


Tina Vieira entrevista Luís Aguilar para a
TVPM-Sic


O dr.James Cisneros, professor dos Estudos Hispânicos com Luís Aguilar

Se tivesse a sorte de encontrar o docente do Instituto Camões, Luís Aguilar ou algum dos inúmeros estudantes actuais que quiseram marcar presença, poderiam obter a informação desejada sobre o Programa de Mineur en langue portugaise et cultures lusophones e os Estudos Lusófonos, em geral. De outro modo passariam ao lado do cartaz com a referência a Études Lusophones, a par dos Études Italiennes, Néo-hélèniques, Arabes, etc. Por isso o docente, a assistente e os estudantes não tiveram mãos a medir no sentido de explicar que Lusophone diz respeito a Portugal, à Língua Portuguesa e aos países de língua oficial portuguesa. Mas esta reduzida visibilidade conferida à Língua Portuguesa e às Culturas Lusófonas (a que certamente corresponderá a reduzida importância que têm no pelo Salon des Études foi compensada, contraditoriamente, pelo conjunto de personalidades e representantes dos media que aí, marcaram presença prolongada e notada, atraindo, numeroso público.

Numa altura em que se impõe, um salto qualitativo na evolução e difusão da Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas da Universidade de Montreal, o Salon des Études foi palco de diversos encontros e diálogos que testemunham o empenho dos mais variados círculos e centros de decisão no desenvolvimentos progressivo futuro da Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas.

Em primeiro lugar regista-se a presença do dr. Carlos Oliveira, cônsul-geral de Portugal em Montreal que não quis deixar de estar presente e, aí mesmo, conversar com o Professor Doutor Robert Lacroix, reitor da Universidade de Montreal e, certamente, manifestar-lhe a necessidade de maior desenvolvimento e visibilidade para os Estudos Portuguesas na sua universidade. Não foi sem um sorriso que o "magnífico" reitor nos recordou a forma como há algum tempo atrás nos respondeu à pergunta: Nem um Mineur” Merece uma Língua “Majeur”? Ontem, como hoje, recordamos à autoridade máxima da universidade de Montreal que apenas se exige que a Língua Portuguesa e as Culturas Lusófonas tenham o lugar que lhes é devido no espaço académico que ele tão brilhantemente dirige.

Mais tarde, o decano da Faculdade de Artes e Ciências, professor doutor Joseph Hubert e a dra. Angela Steinmetz, responsável máxima da Direcção do Ensino das Línguas seriam entrevistados para uma cadeia de televisão comunitária, o Montreal Magazine da TVPM-Sic. No tempo em que era vice-decano, o professor doutor Joseph Hubert, lembra-se dos esforços que fez a então decana, professora doutora Mireille Mathieu, para a criação, após cerca de vinte anos de impasses inacreditáveis, o Mineur en langue portugaise et culures lusophones, uma verdadeira lança em África (leia-se, no Quebeque), já que este é, ainda hoje, o único programa de conteúdo académico existente em toda a província francófona da América do Norte. O professor doutor Joseph Hubert não deixou de mostrar o seu contentamento pela triplicação do número de estudantes de Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas de há cerca de quatro anos anos para cá, com a criação do referido programa.

- Calha mesmo bem voltarmos a repensar os Estudos Portuguesas na nossa Faculdade, quer a nível do avanço dos Estudos Portugueses, quer a nível da criação de uma cátedra, dois processos paralelos, mas cujas inter-relações serão incontornáveis no futuro, disse o dr. Joseph Hubert em 2004. Em 2005, no mesmo local, o decano dá prioridade à criação da cátedra de Cultura Portuguesa com uma vertente acentuada nas artes visuais portuguesas, cujo principal titular é o professor doutor Luís de Moura Sobral que considera, igualmente, que o facto de se criar uma cátedra poderá conferir aos Estudos Portugueses um maior dinamismo.

Por seu turno, o dr. Luís Aguilar insistiu na urgência de pensar o futuro dos Estudos Portugueses na Universidade de Montreal que passa pela necessidade da Avaliação do Programa de Mineur en langue portugaise et cultures lusophones, que vai já no seu quinto ano de funcionamento e já produziu a primeira leva de diplomados, o desenvolvimento futuro e coordenação da Secção de Estudos Portugueses e, sobretudo, a assinatura de um protocolo que actualize o acordo de cooperação entre o Instituto Camões e a Universidade de Montreal, processo que está suspenso há três anos. O dr. Carlos Oliveira, cônsul-geral de Portugal em Montreal, referiu que vai proceder à marcação dos vários encontros com as autoridades académicas em apreço para definir as linhas orientadoras do protocolo a actualizar, de forma a satisfazer as partes envolvidas e a viabilizar e desenvolver as actividades da Secção de Estudos Portugueses e Lusófonos.

Entrevistado para a cadeia portuguesa comunitária de televisão, TVPM-Montreal Magazine, Luís Aguilar, com o optimismo que o caracteriza, referiu-se ao aumento gradual do número de estudantes que frequentam actualmente cadeiras de Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas que já atingiu os 150, número que tende a aumentar dado os cada vez mais interessados na aprendizagem da Língua Portuguesa e no conhecimento das Clturas Lusófonas.

Há que fazer uma avaliação do Programa aprovado há quase cinco anos, para daí se apurar a sua grandeza e miséria. E, sobretudo, corrigir as inúmeras lacunas existentes na execução e coordenação do programa. E ainda mais importante do que tudo, definir uma linha estratégica de criação de estudos mais avançados em Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas. Os primeiros diplomados já saíram e quase todos eles só não prosseguem estudos lusófonos mais avançados, porque não os há em todo o Quebeque, o que, diga-se, é uma vergonha. Isto frustra as expectativas dos estudantes que obtiveram os estudos mínimos em Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas, para já não falar nos inúmeros estudantes que, querendo seguir programas de mestrado e doutoramento, se vêem relegados para os Estudos Hispânicos ou Alemães, mesmo que o seu tema de dissertação de mestrado ou tese de doutoramento verse sobre Pessoa, Camões ou Machado de Assis.

Mas porque não têm, na Universidade de Montreal, os Estudos Portugueses o mesmo Estatuto dos Estudos Hispânicos ou Alemães? pergunta o dr. Carlos Oliveira à dra. Angela Steinmetz, ao que a responsável da Direcção do Ensino de Línguas, sobrevivendo ao espanto, explica que o trabalho intenso e de há mais de vinte anos permitiu esse estatuto aos Estudos Hispânicos e Alemães, como sucede, de resto, em muitas outras universidades. Os Estudos Portugueses despertaram agora e não possuíam (nem possuem ainda) uma tradição que se compare com aqueles. Estamos no começo e começámos bem - responde a dra. Angela Steinmetz, que acrescenta: - Há "timings" para que as coisas se façam. Os Estudos Luso-Brasileiros só de há cinco anos para cá tiveram um desenvolvimento significativo e, neste momento, lutamos para manter um programa que antes de ser avaliado é prematuro falar em novos desenvolvimentos. Se conseguirmos segurar o que está, já é muito bom, dadas as dificuldades que temos tido e os inúmeros desencontros entre o Instituto Camões e a Universidade de Montreal, ambos com mudanças assinaláveis nas suas chefias. É de referir ainda que é na Universidade de Montreal que os Estudos Portugueses estão mais avançados no Quebeque e, com excepção da Universidade de Toronto, em todo o Canadá.

Mas esta resposta não convenceu o dr. Carlos Oliveira que não estando ainda habituado à extrema burocratização e consequente lentidão das instituições académicas da província francófona do Canadá se interroga porque razão há uma manifesta diferença entre os Estudos Portugueses no Quebeque e no resto das províncias do Canadá. Este inconformismo é partilhado pela actual directora do Departamento de Literaturas e Línguas Modernas, dra. Monique Moser-Verrey que estuda a possibilidade de proporcionar aos estudantes de Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas estudos mais avançados utilizando – e inventado – recursos que propiciem a prossecução desse objectivo.

Luís Aguilar esclarece quem o questiona sobre o avanço de um programa de Majeur que para já, a solução não passe por aí, dadas as severas restrições orçamentais e limitações financeiras actuais da Universidade de Montreal, mas nomeadamente, pela criação de programas bi-disciplinares com outorgação do grau de licenciado (Baccalauréat) ou mesmo, a assinatura de protocolos com outras universidades portuguesas ou brasileiras, como a Universidade Aberta, por exemplo que viabilizassem uma formação de licenciados que completaria o conhecimentos de base proporcionado pelo Mineur en langue portugaise et cultures lusophones, com um programa adicional que poderia incluir uma formação presencial em Portugal e outra a distância.